Pela primeira vez, desde que assumiu o comando do Inter, Mano Menezes terá uma semana cheia para treinar. A reapresentação colorada ocorre nesta terça-feira, e o próximo jogo é apenas no sábado, contra o Corinthians. O foco, até lá, deve ser no sistema ofensivo. Porque, desde 2018, esta é a temporada na qual o Inter fez menos gols. São apenas 23 em 23 partidas.
Em nenhum dos 23 jogos a equipe fez três ou mais gols. Em toda a temporada, só ganhou uma vez por dois de diferença: contra o União-FW, em 29 de janeiro. Mas é bom frisar: a última vitória colorada com três gols foi em 13 de outubro de 2021, um 3 a 1 contra o América-MG, a partida que marcou a despedida de Vagner Mancini antes de assumir o Grêmio. Três dias antes, o Colorado, sob comando de Diego Aguirre, havia feito 5 a 2 na Chapecoense, no Beira-Rio. Ou seja, os problemas ofensivos do Inter não começaram nem com Alexander Medina, muito menos com Mano Menezes.
Independentemente da data inicial dessa carência, o fato é que o time precisa fazer mais gols. Para isso, intensificará os treinos. Essa deve ser uma intervenção mais intensa de Mano Menezes nos próximos dias. E será uma diferença na comparação com o estilo de Medina. O Cacique é adepto de uma "livre escolha" dos atacantes, confia nas tomadas de decisão individuais, na base da intuição. Mas isso não funcionou com o grupo atual. Mano tentará "automatizar" movimentos, criando jogadas e situações.
O desafio é fazer isso sem tirar a liberdade criativa e a iniciativa dos jogadores. Isso, segundo especialistas, é possível. Tanto que a CBF Academy promove um curso específico desse assunto. Sob o nome de "Jogo Ofensivo: a Escola Brasileira e as Tendências Inspiradas nela", as aulas tratam de atividades para fortalecer o ataque, diferentes sistemas e formas de ataque (jogo de posição, de mobilidade e contra-ataque).
— Este é o desafio do treinador. Dosar certa organização ofensiva que potencialize a criatividade e a imprevisibilidade do jogador brasileiro, mas que não seja limitadora — explica Maurício Marques, coordenador da Escola Técnica da CBF Academy.
Para além dos treinos, existe a chance de Mano Menezes repetir a formação utilizada em parte dos confrontos com Guaireña e Juventude. Nos dois jogos, ele mexeu no desenho tático, trocando do 4-1-4-1 para o 4-4-2. Na prática, juntou dois jogadores na frente, para formar uma dupla. Em ambas as partidas, a equipe melhorou depois das trocas.
— Esse sistema dá uma vantagem na questão da amplitude, que é fundamental para o ataque. Com a bola, os pontas abrem bastante para as laterais, com o objetivo de criar espaços e permitir a entrada na área dos volantes e a movimentação dos atacantes — explica o técnico Rubio Alencar, que ministra cursos de treinos e táticas do futebol.
Essa formação, em tese, permite mais parceria no ataque. Um dos problemas que o Inter teve no sistema com um centroavante foi ter ficado isolado, como ocorreu com Alemão diante do Juventude. Mano até elogiou que o atacante "conseguia cumprir a parte mais difícil, ganhar a disputa com os zagueiros", mas estava com dificuldade em dar sequência às jogadas. Contra o Guaireña, Wesley foi quem participou na mudança.
As opções para o ataque são: Alexandre Alemão, Wesley Moraes e David. Os dois primeiros tem características de centroavantes clássicos. São atletas que fazem o trabalho de pivô e ficam como referência do ataque colorado. Já David é um atleta que chegou ao Inter para exercer um papel de ponta, mas aos poucos vem jogando mais centralizado. Assim como já chegou a fazer com a camisa do Cruzeiro e do Fortaleza.
Para compor o ataque, Wanderson pode atuar como segundo atacante ou como extrema. Assim como De Pena, que tem feito boas atuações como meia e como ponta pela esquerda, além de Pedro Henrique que tem entrado pelo lado direito.
Ter um centroavante e um segundo atacante não é uma "obrigação" do 4-4-2. No domingo, por exemplo, Mano optou por dois jogadores de mobilidade, David e Wanderson. Além deles, há também Pedro Henrique (que entrou como extrema) e Caio Vidal, caso a escolha seja por atletas com essas características. O próprio treinador deixou as portas abertas para isso. Depois do jogo, declarou:
— Não temos todas essas definições, mas acredito que a característica do jogador sempre obedeceu a mesma ideia de jogar respeitando o que o jogo apresentava. É tudo muito novo para que eu fale algo definitivo para vocês — afirmou.
Há quatro dias para que isso seja definido. Porque ao mesmo tempo em que aparenta ter reduzido os problemas defensivos, há um grande desafio para o treinador, de melhorar o aproveitamento ofensivo.