— Dez! D'Alessandro!
O Beira-Rio vibrou como se fosse gol quando o sistema de som do estádio gritou a escalação do Inter para enfrentar o Fortaleza e anunciou Andrés Nicolás D'Alessandro como titular. Decepcionados com o desempenho da equipe na temporada, os torcedores esqueceram o passado recente do clube e preencheram por completo as arquibancadas para despedir-se do ídolo. Sem dúvida, uma causa muito maior.
Certamente os colorados lembraram dos 96 gols até então marcados, assistências, dribles, polêmicas e outras tantas memórias que representam o argentino de 41 anos. Mal sabiam eles que o duelo apresentaria muitos destes fatos guardados no imaginário.
Para D'Ale não foi diferente. Embora tenha retornado justamente com o objetivo de encerrar a carreira com a camiseta que mais vestiu na vida, o dia de dizer adeus (ou até logo) foi muito significativo. Afinal, sua mãe e seus principais convidados estavam lá para assistir.
— Hoje estou no lugar que eu quero, que eu gosto, que eu sonhava e com quem eu sonhava — disse.
No apito inicial do árbitro, aplausos e gritos de apoio a cada toque na bola de D'Alessandro. No entanto, o meia enfrentava dificuldades para encontrar espaços na compacta marcação do Fortaleza. Além disso, o roteiro da noite apresentou-se dramático, como um tango, um dos maiores elementos culturais da Argentina.
Houve dois pênaltis para os cearenses, que saíram vencendo, discussões de D'Ale com a arbitragem e cartão amarelo. E, lógico, teve a canhota chamando os marcadores para dançar com a "La Boba" e um chute traçando o caminho certeiro do gol.
— Parece que o D'Alessandro não tem fim — afirmou um emocionado torcedor.
E não tinha mesmo. Yago Pikachu até converteu um pênalti para abrir o placar para o Fortaleza, mas parece que esse foi só o combustível extra que D'Alessandro precisava para desequilibrar o jogo. Partindo da ponta direita, como sempre ocorreu, o camisa 10 livrou-se de dois marcadores e chutou forte. Max Walef até tocou na bola, mas não o suficiente para não entrar para a história como o último goleiro a sofrer um gol de D'Ale.
— É incrível, né. Em muitos momentos em que precisei de uma força aqui, ela apareceu. O que aconteceu depois vou guardar para o resto da vida — disse D'Alessandro, no intervalo da partida, após igualar o marcador em 1 a 1.
No retorno para o segundo tempo, D'Ale bem que tentou ajudar o Inter a virar o jogo, mas não foi o que aconteceu. Foram mais 25 minutos até o final de uma Era. Com o Beira-Rio de pé e muitos aplausos, D'Alessandro passou a faixa de capitão para Rodrigo Moledo e foi substituído. Até os adversários lhe cumprimentaram. Os torcedores foram às lagrimas.
Para coroar a despedida, mantendo tom dramático, o Inter conseguiu virar o jogo aos 47 minutos e saiu vitorioso. Foram os primeiros três pontos no Brasileirão. Contudo, o melhor ficou para o apito final.
Taison, de fora da partida por uma lesão, desceu ao gramado e abraçou seu amigo. Depois, D'Ale foi abraçado por todos os companheiros. No centro do gramado, foi erguido e ovacionado por todo o estádio:
— Fica, D'Alessandro!
— D'Ale, eu te amo!
Em seguida, sua família, que estava no camarote do Beira-Rio, foi ao seu encontro no meio do gramado para acompanhar a homenagem em vídeo preparada pelo Inter. Emocionado, D'Ale não queria discursar, mas foi convencido por Taison.
— Vou tentar ser curto, é difícil falar. Simplesmente agradecer a todos vocês pelo carinho. Não vai ter tempo para devolver todo o respeito e carinho. O Sport Club Internacional é muito grande, eu aprendi isso. Espero ter correspondido e estado a altura desse clube. Muito obrigado! A partir de amanhã vou ser mais um torcedor. Eu amo vocês também — concluiu.