A derrota do Inter para o Ypiranga acendeu o debate sobre as opções e escolhas do jogo em Erechim. E não só de Alexander Medina, mas do clube como um todo. Ao mesmo tempo em que é obviamente injusto repassar a um treinador — que fez seu quarto jogo à frente do time — a culpa pelo fracasso, não é errado questionar o porquê de manter no grupo jogadores que não dão resposta satisfatória há algumas temporadas.
O resultado de sábado refletiu a superioridade do Ypiranga ao longo da partida e expôs problemas conhecidos do Inter. Problemas que exigem medidas urgentes do técnico, sob pena de conhecer, cedo na sua passagem pelo Beira-Rio, a pressão em caso de mais um resultado negativo.
A seguir, listamos os principais pontos que merecem atenção do Inter para a sequência da temporada.
Laterais
A má jornada de Heitor teve maior evidência porque as jogadas dos dois primeiros gols do Ypiranga foram pelo seu setor, e deu azar com a bola dividida do terceiro, que espirrou e sobrou para Erick, mas Moisés também foi mal.
Nenhum dos laterais colorados conseguiu conter as investidas do time de Erechim — ambos foram batidos diversas vezes ao longo da tarde. Heitor ainda apareceu na frente, com a assistência para o gol de Bruno Méndez, e no escanteio em que David teve seu gol anulado por impedimento. Fato é que não há lateral consolidado no Inter.
Isso deve mudar, pelo menos do lado direito, com a chegada de Fabricio Bustos. O argentino deixou o Independiente e é esperado em breve em Porto Alegre. Ele vem para ser titular da posição. Na esquerda, Moisés e Paulo Victor têm disputa, com vantagem para o primeiro.
— Moisés é um jogador de boa fortaleza física, de ida e volta. PV também tem muito disso, menos fortaleza física, mas joga de forma associativa, tem maior técnica. São dois jogadores muito úteis — analisou Medina após a derrota.
Volantes
Havia três volantes na escalação inicial do Inter no Colosso da Lagoa: Dourado como o primeiro, à frente da área; Liziero deveria ser sua dupla, com um pouco mais de liberdade; e Edenilson, que acabou deslocado para a linha de frente, no setor de criação.
Pois nenhum deles, todos jogadores de características defensivas, conteve os insistentes ataques do Ypiranga. No segundo gol, os três foram envolvidos e deixaram um buraco entre a intermediária e a defesa.
Vêm aí mais dois volantes, Gabriel e Bruno Gomes. O primeiro também é de marcação, e o segundo, apesar de ser cabeça de área, sai mais para o jogo.
— Bruno Gomes é primeiro volante, tem boa pegada na marcação, mas ainda precisa amadurecer, leva muitos cartões amarelos e alguns vermelhos. Possui boa técnica e sabe distribuir bem o jogo desde atrás. Considero-o uma joia, foi um bom negócio para o Inter — comenta o repórter Joel Silva, setorista de Vasco no Portal Jogada10.
Pontas e centroavante
Foi ponto pacífico no Beira-Rio que as extremas eram as principais carências do Inter. A direção, então, investiu mais de R$ 10 milhões para contratar David, destaque do Fortaleza no Brasileirão passado jogando justamente na ponta esquerda. Em sua estreia com a camisa colorada, foi escalado na direita.
No segundo jogo, passou mais de uma hora como centroavante. E nem foi por falta de opção: diante do Ypiranga, havia três "camisas 9" de ofício relacionados — e todos ficaram no banco. Wesley Moraes, outro investimento do Inter, centroavante de 1m94cm que pertence ao Aston Villa e está emprestado, entrou apenas quando o placar já estava 3 a 1.
— Quando o Inter contratou David, todos comemoramos que chegava um jogador da função, de destaque. Mas o que a gente viu foi uma improvisação, como era com Patrick, com Boschilia. Nada contra ele como jogador, mas não tem drible, não tem velocidade. Não é dessa posição — opina o narrador Marcelo de Bona, da Rádio Gaúcha.
Individualidades
Alguns jogadores estão abaixo do que já mostraram, o que, de certa forma, é esperado no início do ano, recém saídos da pré-temporada — a defasagem física do grupo foi destacada por Medina no Colosso da Lagoa. Mas há nomes que não dão boa resposta desde a temporada passada. O caso mais saliente é o de Caio Vidal: depois de surgir com certo destaque, revelado por Abel Braga em 2020/21, ele não engrena. E não é por falta de oportunidade.
— Caio Vidal não consegue aproveitar as chances que vem recebendo. Parecia estar arquivado, ganhou fôlego com Medina, mas decepcionou nas partidas até aqui. Isso contra adversários bem inferiores tecnicamente. O grande problema aparece na tomada de decisão: na hora de dar o passe final, a finalização, a sequência a jogada, é sempre a decisão equivocada. Falta inteligência e disposição em excesso — complementa Gustavo Manhago, que narrou a derrota do Inter para o Ypiranga na Rádio Gaúcha.