Wesley Moraes tinha 19 anos e passava por um momento de incógnita sobre o futuro no futebol. Ao mesmo tempo que se destacava, até por ser um centroavante de 1m94cm, presença de área e explosão física, não conseguia assinar um contrato que desse estabilidade. A falta de uma "carreira" na categoria de base parecia pesar. Fazia períodos de teste, ia bem mas nunca vinha o papel e a caneta. Então, ouviu de seu empresário:
— Nós vamos para a Eslováquia.
E foi assim que começou a carreira profissional do atual centroavante do Inter.
Até essa frase, o mineiro Wesley conhecia apenas Juiz de Fora. De família humilde, vivia como vários guris de sua idade, dividindo o tempo entre escola e futebol. Em seu caso, futsal. No time da cidade, era um dos melhores. Quem lembra é o professor Helton Mota, da escolinha F8, que conheceu o jogador há quase 20 anos:
— Perguntei a idade dele e logo fiquei surpreso pela sua altura. Ele tinha seis anos e era muito mais alto. Apesar de ser uma escolinha particular, temos também o lado social, o qual Wesley se encaixava. Logo nos primeiros treinos mostrou desenvoltura e força, se destacando dos demais alunos da mesma idade. Mas não só por isso. Era técnico e até veloz e polivalente. Mas quando o jogo estava difícil o colocava de pivô pois tinha muita facilidade de segurar a bola e usar o corpo para girar e finalizar.
Apesar de manter a discrição com questões familiares atualmente, Wesley tinha uma torcedora fiel.
— A mãe, dona Graça, não média esforços para apoia-lo e sempre estava presente tanto nos treinos quanto nos jogos. "E ai de quem chegasse junto no Wesley. Ela dizia: "não encosta no meu filho!" — diverte-se Helton, que recebe visita de Wesley toda vez que o centroavante vai a Juiz de Fora.
Foi jogando nesses campeonatos que chamou a atenção de Paulo Nehmy. Conhecido empresário do futebol, ele viu Wesley aos 16 anos. Na hora, foi falar com o menino.
— Percebi que ali tinha uma promessa. Um jogador com aquele estilo físico e ainda assim ter mobilidade era peça rara — recorda.
Levou o centroavante ao Atlético-MG. Após três meses de observações, foi dispensado. O clube entendia que as demais opções eram melhores.
Liga daqui, procura dali e Paulo e Wesley conseguiram um período de testes no Atlético de Madrid. O centroavante treinou e disputou um torneio de base. Foi bem, fez gols, Nehmy garante que foi elogiado até por Luís Pereira, o histórico zagueiro brasileiro que fixou residência na capital espanhola e virou símbolo dos colchoneros. Era chegada a chance? Não. Novamente, o centroavante estava dispensado. Então veio a Eslováquia.
Wesley havia assinado contrato com o campeão nacional, Trencin, da cidade homônima. O título dava ao time uma vaga para a Liga dos Campeões. Entrou no segundo tempo e nada pôde fazer para evitar a derrota por 2 a 0 para o Steaua de Bucareste em casa. Sua estreia como titular seria no jogo da volta, no qual precisaria tirar dois gols de diferença, na Romênia, para se classificar.
— Disse para ele: "Perdido já está. Então entra lá, divirta-se e se o milagre vier, ótimo" — conta Nehmy.
O companheiro de ataque de Wesley seria Jairo da Silva, carioca que passou pela base do Inter. E é ele quem relata:
— Aos 13 minutos, Wesley fez 1 a 0. Aos 20, outro companheiro ampliou, resultado que levaria para os pênaltis. No segundo tempo, em um intervalo de três minutos, os romenos empataram. Wesley marcou outro, a cinco minutos do fim. Dei as duas assistências. Faltava um gol. E só não veio porque o goleiro do Steaua fez uma defesaça nos acréscimos. Infelizmente, não passamos de fase, mas foi um grande feito.
Os dois ficaram amigos e conviveram bastante naqueles seis meses eslovacos. Eram adversários na sinuca, parceiros de refeições em restaurantes e, claro, comandantes das brincadeiras. Com Wesley, descobriram que ficava injuriado quando debochavam do estilo de caminhar.
— Eu dizia para ele: "Tu até tem uma boa chapada na bola para quem tem uma perna maior do que a outra". E ríamos bastante. Precisa coragem para mexer com um cara daquele tamanho e com aquela mobilidade, né (risos)? Falando sério, uma pena a lesão dele. Ia arrebentar no Aston Villa. Tem tudo para dar certo no Inter.
O resto da história de Wesley já é conhecido. Depois do Trencin, foi para o Brugge, da Bélgica, onde teve enorme destaque. Vendido ao Aston Villa, tinha iniciado bem a aventura na Premier League, inclusive com convocação para a Seleção, quando uma lesão no joelho direito lhe tirou de combate por mais de meio ano.
Tenta, no Inter, recuperar aquela forma. E desta vez com a segurança de um contrato e a certeza de que o futebol pode dar boas respostas a quem tem talento, mas também trabalha e se dedica.