Para se ter uma melhor perspectiva de quem é Andrey, volante do Vasco que está nos planos do Inter para próxima temporada, pode-se dizer que ele é uma espécie de Rodrigo Dourado vascaíno. Formado nas categorias de base do clube carioca, surgiu como joia da base, ganhou espaço, caiu para a Segunda Divisão e foi perseguido pela torcida. Mas, ao contrário do meio-campista colorado, não conseguiu recolocar os cariocas na elite do futebol nacional.
Como acontece nos períodos de vacas magras das equipes mais tradicionais, jogadores com alta identificação sofrem com a pressão dos torcedores. Ele foi um dos mais criticados desde que o cenário vascaíno começou a nublar no ano passado. A situação fez com que sua longa trajetória em São Januário se encerrasse em novembro.
Andrey Ramos do Nascimento, 23 anos, chegou ao clube em 2004. Após jogar nas escolinhas de futsal, de onde saíram nomes como Pedrinho e Felipe, foi para o futebol de campo a partir dos 11 anos. Tratado como joia, começou a ganhar as primeiras oportunidades em 2016. Em 2020, com um velho conhecido do Inter, encontrou o seu lugar em campo.
As primeiras oportunidades no time principal foram como segundo volante. Desde o ano passado, quando Abel Braga era o treinador, o meio-campista foi recuado para a primeira função para ver o campo de frente e usufruir melhor do seu passe e de sua técnica. Abelão deixou o Vasco, mas Andrey não deixou mais a posição.
— O Andrey é um jogador muito moderno. Entende muito bem o que é a fase ofensiva e que é a fase defensiva. Ele pode te dar muito com a bola e sem a bola. É inteligente na movimentação. Pode ser primeiro volante ou segundo — analisa Ramon Menezes, por anos auxiliar técnico do clube e que assumiu o time após a saída de Abel.
Entre a vitória por 2 a 1 sobre o Remo, pela Copa do Brasil de 2016, e o empate com o Vila Nova, pela Série B, em 15 de novembro deste ano, Andrey carregou a cruz de malta no seu peito por 155 partidas, marcando 11 gols.
Caso chegue ao Beira-Rio, o torcedor colorado pode esfregar as mãos cada vez que Andrey engatilhar para chutar de longa distância. Sete dos seus gols como profissional foram de fora da área. Sua posição preferencial para o arremate é nas redondezas da quina da grande área. Marcelo Lomba foi vítima de dois desses chutes, nos Brasileirões de 2018 e 2019. Outros três gols saíram em cabeçadas. Somente um foi anotado em chute de dentro da área.
A precisão nos arremates não impediram as desavenças com os vascaínos. O atrito com a torcida começou com a queda para a Segunda Divisão. Em março, dois torcedores foram até a casa de Andrey e o ameaçaram.
— Começaram a me ameaçar, falando que iam me pegar de madeira e me quebrar na porrada. Todo momento um falava que ia me quebrar, e o outro ficava atrás do carro fazendo movimentos como se estivesse armado — relatou em entrevista ao Ge.com, em abril.
Durante a campanha na Série B deste ano, Andrey foi um dos jogadores mais criticados. Em um dos jogos que não atuou, foi até São Januário assistir à partida. Durante o jogo, torcedores começaram a xingá-lo. Em agosto, quando o Vasco começou a patinar e os primeiros sinais de que o time não iria se desenroscar da Série B, Andrey desabafou após três derrotas seguidas, falando muito mais como torcedor do que como jogador.
— "Tá" uma m****, e a gente tem de mudar. E se não mudar, a gente vai continuar na Série B — disparou, após a derrota por 2 a 0 para o Operário.
A declaração, em um primeiro momento, recebeu elogios pela atitude. Mas na sequência do campeonato e os resultados abaixo das expectativas, as críticas se avolumaram. Andrey passou a ser visto por parte da torcida como um jogador de declarações forte, mas de atuações fracas.
— Ele teve uma Série B irregular, como todo o Vasco. Teve bons momentos dentro das características dele. No caso do Inter, vejo ele para jogar como segundo volante. Sendo barato para o Inter, é uma boa aposta. Mas não vejo que seja uma contratação par chegar e ganhar posição. Algo similar à como foi a chegada do Mauricio. O Andrey pode dar o pulo na carreira no Inter — opina Conrado Santana, comentarista do SporTV.
Como previu Andrey, o Vasco ficou na Série B. O que ele não pressentia é que seus dias no seu clube de coração estavam próximos do fim. O clima ruim e de poucas perspectivas fez com que o volante optasse por não renovar seu contrato. Com o futuro longe de São Januário, ganhou férias antecipadas em 18 de novembro. Agora, seu destino pode ser no Beira-Rio.