A goleada de 4 a 0 sobre o Flamengo no Maracanã, uma das maiores vitórias do Inter neste século no Brasileirão, foi construída com uma formação de meio-campo muitas vezes discutida: com Rodrigo Dourado e Rodrigo Lindoso juntos. Para enfrentar o Fluminense no próximo domingo (15), às 20h30min, no Beira-Rio, o técnico Diego Aguirre tem o desafio de escolher entre a manutenção da dupla que funcionou no Rio de Janeiro ou escalar um jogador mais ofensivo no lugar de um dos volantes.
A dúvida se justifica em razão da diferença de característica que o jogo do Beira-Rio terá em relação ao do Maracanã. Se contra o Flamengo o Inter apostou em uma marcação em bloco baixo, atraiu o adversário e atacou espaços, diante do Fluminense a situação será inversa. O time de Roger Machado é que deverá adotar esse tipo de proposta, o que exigirá do Colorado a missão de propor e construir jogadas contra uma equipe postada no seu campo de defesa.
O desafio de Aguirre para mexer no time, no entanto, não é simples pela dificuldade de encontrar no elenco uma peça confiável que possa tornar o Inter mais ofensivo. Desde que retornou ao Beira-Rio, o uruguaio tem variado pouco os esquemas táticos, usando basicamente o 4-1-4-1 ou 4-2-3-1. No Maracanã, a estrutura do 4-2-3-1 foi mantida com Dourado e Lindoso por dentro tendo Edenilson e Patrick abertos. Como não tem um outro volante mais criativo no banco, a possibilidade mais provável de mudança aparece com a entrada de um jogador de lado de campo, como Palacios ou Caio Vidal, com Edenilson voltando a ser o companheiro de Dourado por dentro.
Ex-volante do Inter e atual treinador de futebol, Claiton acredita na manutenção da equipe exatamente pelo fato de Aguirre não ter uma outra formação consolidada.
— O Inter não tem hoje um atacante que a gente diga: esse tem que jogar. Então é mais fácil manter um esquema que funcionou do que procurar outro. Contra o Flamengo, o Inter criou mais com um quarteto de volantes na nomenclatura do que vinha criando nos jogos anteriores. O Edenilson e o Patrick são volantes meias, jogadores que a gente já viu muitas vezes abertos. O Patrick, principalmente, tem sido mais um jogador de lado que de centro no Inter — observa Claiton, que vê na subida das linhas uma forma de o Inter ser mais ofensivo contra o Fluminense:
—Para ser mais ofensivo é só subir os blocos, pressionar um pouco mais. O Edenilson tem isso da pressão, os volantes subindo, os laterais também. O Saravia fez um jogo bom no Rio de Janeiro e pode aparecer mais no ataque. O Aguirre escalou contra o Flamengo um time mais consistente, mais experiente e que a bola não queimou no pé de ninguém. Penso que não deve desconstruir esse time. Inicia dessa forma com alternativas caso precise mudar —completa.
Também com passagem como jogador do Inter e atualmente técnico, o ex-meia Márcio Bittencourt pensa diferente. Para ele, Aguirre apostou em uma escalação emergencial no Maracanã e agora precisará mudar para propor o jogo contra o Fluminense.
— O Aguirre foi inteligente. Ele foi cauteloso contra o Flamengo que vinha goleando todo mundo e não podia correr riscos, mas não quer dizer que essa é a formação ideal. Esse time em casa vai ter dificuldade para chegar ao ataque, a transição pode ficar muito lenta. Ele também pode optar por iniciar com maior cautela e abrir o time se o gol não sair. Tudo depende de resultado. Se entrar assim e sair um gol, não vai mudar — projetou.
Independente da formação, a torcida colorada espera que o Inter possa ter uma atuação próxima do nível do Maracanã para pela conquistar duas vitórias seguidas pela primeira vez neste Brasileirão.
NA MARCA DO PÊNALTI
Aguirre deve manter Lindoso e Dourado juntos ou sacar um deles para a entrada de um jogador mais ofensivo? Quem deveria entrar no time nesse caso?
Filipe Gamba, colunista de GZH - Mudar
"A pergunta já evidencia a maneira como analisamos o futebol no Brasil. Por conta de um forte resquício cultural, tratamos como absurdo um treinador adotar estratégias diferentes a cada jogo, algo absolutamente normal nos grandes centros europeus, mas que aqui ainda é tratado como tabu. A estratégia de utilizar Dourado e Lindoso juntos contra o Flamengo tinha o intuito de neutralizar as principais jogadas do time de Renato Portaluppi, ajudando a consolidar no Inter uma estratégia de futebol reativo dentro das circunstâncias da partida, especificamente. Não há a necessidade de Lindoso permanecer na equipe para enfrentar o Fluminense. O time de Roger Machado não vai agredir o Inter. Caberá a Diego Aguirre montar uma equipe que tenha a capacidade de propor o jogo. Dos jogadores que estão disponíveis para entrarem na vaga de Lindoso, talvez, Caio Vidal seja uma alternativa".
Marcelo De Bona, narrador e apresentador da Rádio Gaúcha - Manter
"Não tiraria nenhum deles. Não sou adepto da ideia de Dourado e Lindoso juntos porque são jogadores de características parecidas, mas com eles o Inter teve sua melhor atuação na temporada. Boschilia e Palacios, por exemplo, ainda não entregaram futebol a ponto de merecer a titularidade. O principal para a manutenção da dupla no momento é que Dourado e Lindoso juntos potencializam o melhor de Patrick e Edenilson. Ou seja, nesse momento de afirmação e de recuperação de confiança do Inter, eu manteria essa dupla de volantes".
Rafael Colling, comentarista e apresentador da Rádio Gaúcha - Mudar
"Se o Inter tivesse um volante um pouco mais qualificado, certamente eu retiraria Rodrigo Dourado do time. Inclusive, há muito tempo acho que passa por ele a precária saída de bola da equipe. Jogador tímido com a bola no pé, que normalmente se limita a dar passes para o lado ou para trás. Mas como a comparação é com Lindoso e Jhonny e o perfil do grupo colorado é mais reativo, reconheço que, para marcar, Dourado é importante. Por isso, nesta realidade, eu manteria ele no time, retiraria Lindoso, e apostaria em Caio Vidal para se juntar aos atacantes e deixar o time mais vertical. Apesar de ainda ter que mostrar mais futebol, como o Inter tem poucos jogadores com essa característica de velocidade e drible, ainda utilizaria Vidal. Do meio para frente, escalaria Dourado, Edenilson; Caio Vidal, Taison e Patrick; Yuri Alberto".