Em quatro anos de participação do Inter no Brasileirão Feminino, a equipe soma um acesso para a primeira divisão e outras três classificações para a segunda fase da elite nacional. Desde a estreia na segunda divisão, em 2018, a ascensão é a marca registrada no trabalho que promove atletas das categorias de base e encontra espaço no time titular entre as contratações e referências que são mantidas ao longo dos anos.
No comando técnico, Maurício Salgado é quem organiza as Gurias Coloradas dentro das quatro linhas desde 2019, com a continuidade necessária para que toda comissão conheça as jogadoras. As atletas, por sua vez, estão acostumadas ao estilo de jogo e ao grupo de companheiras. Chegar à semifinal da Série A-1 no ano seguinte ao bi-campeonato Gaúcho é uma amostra em resultados.
— A continuidade é sempre válida. Quando o trabalho segue, ele tende a colher mais frutos na frente. Conseguindo manter as peças chaves do elenco e a comissão, tudo ajuda para a evolução ser constante — analisa a ex-jogadora do Inter, Gabriela Luizelli, que fez parte do primeiro elenco, em 2017, e das temporadas 2019 e 2020:
— Acho que o Inter acertou, considerando os resultados que vem tendo — complementa.
Gabi jogou nas categorias de base do Inter desde os seis anos, alcançando o time sub-17 em 2004, quando o departamento feminino do clube foi fechado. Fez carreira na Europa e voltou quando o projeto voltou a existir. Passou pelas diferentes etapas de formação e quando esteve em outras equipes ainda acompanhava a gestão pela irmã, Duda Luizelli, ex-coordenadora do Inter, atual dirigente da CBF.
Gabi destaca a capacidade de combinar boas contratações com o investimento na base como o principal trunfo do projeto, que ela considera uma referência nacional na modalidade:
— O crescimento é gradual, uma construção com etapas desde a base, não foi só juntar uma equipe profissional. Se tem todo um olhar diferente em perceber, na menina mais nova, o potencial para ela chegar até o time de cima. São pequenos detalhes, combinando a formação e a busca por reforços, que ainda vão se desenvolver dentro do clube.
Relembre as temporadas das Gurias Coloradas
O retorno do projeto em 2017 e o acesso à primeira divisão em 2018
O time feminino do Inter voltou a existir em 2017. Parte do primeiro elenco da retomada foi construído a partir de uma peneira que reuniu 700 meninas e selecionou 15 jogadoras do elenco principal que conquistou o Gauchão daquele ano. Em 2018, a manutenção da equipe e primeiros talentos promovidos, além de contratações como Shashá, Karina, Ariane e Sorriso reforçaram o plantel para a disputa da Série A-2.
Por fim, a técnica Patrícia Gusmão, que era do Grêmio em 2017 e no ano seguinte voltaria à equipe rival, onde segue até 2021, foi a escolhida para comandar o time. O resultado foi uma classificação invicta até a semifinal da segunda divisão, com derrota para o Vitória. A vaga para a elite do futebol nacional veio por conta da desistência do Rio Preto-SP, que havia ficado em terceiro lugar na competição.
A estreia na elite nacional em 2019
Foi o primeiro ano na elite do futebol brasileiro. Os reforços também foram de projeção nacional: a zagueira Bruna Benites e a lateral Fabi Simões, com carreiras consolidadas e passagens pela Seleção, chegaram e desempenharam importante liderança. A atacante Luana Spindler e a meia Mariana Pires também foram reforços importantes que chegaram ao clube naquele ano de retorno de Gabi Luizelli ao Beira-Rio.
— Bruna e Fabi elevaram o time todo a um outro nível, cada uma com sua característica — enaltece a ex-companheira delas.
Na primeira participação do Inter no Brasileirão Feminino, nove vitórias, quatro derrotas e um empate na fase classificatória. Os 29 pontos somados levaram o time para as quartas de final, na qual foram eliminadas pelo Flamengo.
Em 2020, outra vez eliminadas nas quartas de final
Enquanto as categorias de base consolidaram as carreiras iniciantes de jogadoras como Isa Haas, Belinha e Luana Grabias, a diretoria investiu em contratações pontuais como a meia Djeni, a goleira Kemelli e a atacante Byanca Brasil. Mesmo com a temporada conturbada, com quatro meses de paralisação por conta da pandemia de coronavírus, os trabalhos foram mantidos com atividades à distância, o que possibilitou a retomada da boa campanha colorada no Brasileirão em agosto.
Como resultado, Byanca chegou aos 47 gols na história do campeonato, tornando-se a artilheira de todas edições do torneio nacional. Além disso, o Inter ainda sairia vitorioso do primeiro clássico Gre-Nal válido pela Série A-1, em setembro. A vitória veio com gol de Rafa Travalão.
O triunfo foi essencial na continuidade das Gurias Coloradas entre os quatro primeiros colocados da tabela. Ainda assim, uma nova eliminação nas quartas de final, para o finalista Avaí Kindermann, adiou mais uma vez o sonho do título inédito.
Resultado histórico e chance de título inédito em 2021
Curiosamente, a pior classificação colorada na primeira fase fez com que a equipe chegasse pela primeira vez às semifinais da competição. A sexta colocação fez com que o São Paulo fosse o adversário nas quartas de final. As Gurias Coloradas derrotaram o tricolor paulista, da mesma maneira que já tinham feito na última rodada da fase classificatória.
A receita da campanha foi, mais uma vez, o equilíbrio entre experiência, contratações e apostas da base. Destaque para a uruguaia Wendy Caballero, de apenas 18 anos e passagens pela seleção nacional do seu país, que chegou no meio da temporada e frequenta o ataque do time titular com a revelação Milena e as renomadas Shashá e Fabi Simões.