Ao invés de colocar um ponto final em sua turbulência, o Inter adiou o ambiente de tensão por mais alguns dias. Mesmo jogando em casa, e depois de ter aberto uma vantagem de 2 a 0 contra o Sport, o Colorado cedeu empate por 2 a 2 e marcou passo na estreia do Brasileirão.
Se na última quarta-feira (26), quando não conseguiu sair do 0 a 0 com o modesto Always Ready, pela Libertadores, o ar foi de frustração, a primeira reação dos jogadores neste domingo (30) foi de revolta. A bronca dizia respeito às marcações do árbitro Vinícius Araújo, que assinalou pênalti em favor dos visitantes e, nos acréscimos, anulou gol de Galhardo.
— Teve dois erros de arbitragem e isso nos complica. Um pênalti que não foi e o segundo lance, na minha visão, estava impedido (gol do André). Vou ver no vestiário se estava. No final do jogo, a bola não saiu. Ele (árbitro) marcou tiro de meta antes. Mas agora é cabeça boa, focar na Copa do Brasil e Brasileiro. Tem muita coisa para acontecer ainda. Seguimos firmes — desabafou o zagueiro Lucas Ribeiro na saída de campo.
Minutos depois, mais comedido do que seu comandado, o técnico Miguel Ángel Ramírez compareceu à entrevista e, ao invés de culpar o juiz, apontou erros de sua própria equipe.
— No primeiro tempo começamos a fazer coisas que não gosto. Não estávamos conseguindo, do ponto de vista defensivo, cumprir o plano que tínhamos desenhado. Melhoramos a parte defensiva no segundo tempo, mas pioramos na ofensiva. Pegamos uma equipe aberta, o rival tinha mais espaço e assim ganhavam a segunda bola. Tenho que analisar com o tempo, mas vi coisas que deveríamos ter feito melhor — avaliou o treinador.
Apesar da autocrítica, o espanhol defendeu que o time tem mostrado evoluções ao longo da temporada e voltou a defender o modelo de jogo adotado por ele desde março.
— Nós sabemos que o resultado manda, mas não podemos ser como a torcida. Somos profissionais. Uma das nossas sessões de vídeo mais duras foi depois dos 6 a 1 sobre o Olimpia. Esta é a prova de que não estamos em cima do resultado, mas baseados em um modelo de jogo que vai nos deixar mais competitivos, sem depender da sorte ou de decisões da arbitragem. Queremos estar mais próximos da vitória do que da derrota. Temos que estar acima dos resultados. Seguramente, estamos merecendo mais do que estamos recebendo — pontuou ele.
Protestos
O problema é que a teoria não se alinha com a prática. Desde que perdeu o primeiro Gre-Nal da final do Gauchão, o elenco tem convivido com protestos de torcedores no CT Parque Gigante. O mais recente, inclusive, se deu no sábado à noite, enquanto os jogadores chegavam ao hotel para iniciar a concentração.
— Havia gente no hotel nos apoiando, mas isso não vende, não dá audiência aos programas. Logicamente, tem gente que está descontente. É respeitável, porque a torcida está com fome de títulos. Este clube está há anos sem ganhar e o colorado quer ver sua equipe campeã. É normal que isso se converta em hostilidade, mas nós temos que saber onde estamos. Em um clube grande, que vai ter pressão para ganhar sempre. Então, temos que conviver com isso. Mas não ajuda — declarou Ramírez.
A verdade é que só o Inter pode sair do ambiente de tensão que ele se meteu. E não há tanto tempo para ajustes. Na próxima quinta-feira (3), a equipe estreará em mais um torneio nacional, encarando o Vitória, em Salvador, pelo jogo de ida da terceira fase da Copa do Brasil. Rodrigo Dourado, que teve diagnosticada uma lesão na coxa esquerda, além de Palacios e Guerrero, que disputarão as Eliminatórias com suas seleções, não acompanharão a delegação.
— Agora teremos a mesma dinâmica, com poucos dias para treinar, viajar e jogar. Esperamos que ninguém mais se lesione e temos que recuperar. Eu sabia onde estava me metendo, que neste país nada para. Então, vamos seguir adiante — concluiu o comandante colorado.