Correção: a entrevista de Abel Braga ao programa Show dos Esportes não foi a primeira entrevista exclusiva desde que o treinador chegou no Inter, como publicado das 5h de 15/1 às 17h de 16/1. O texto já foi corrigido.
Abel Braga foi um dos convidados do programa Show dos Esportes, da Rádio Gaúcha. Em uma conversa de 27 minutos com os jornalistas José Alberto Andrade, Luciano Perico e Diori Vasconcelos, o técnico colorado admitiu que estava até meio contrariado em atender. Só fez porque houve insistência. Preferia, mesmo, era ficar quietinho, deixar o time esquecido, deslocado. Mas as cinco vitórias seguidas no Brasileirão, a aproximação ao São Paulo e o bom rendimento devolveram o clube, e o treinador, aos holofotes. E aí não teve jeito: Abel falou sobre a lesão de Moledo e o provável substituto, sobre seu futuro, sobre Gre-Nal e sobre o recorde iminente, de ser o profissional que mais vezes dirigiu a equipe na história.
Comecemos, então, pelo mais recente: Rodrigo Moledo. O técnico confirmou que a lesão do zagueiro ocorreu no choque com Marcelo Lomba na partida contra o Ceará. E não poupou elogios ao jogador, que atuou já com o ligamento cruzado posterior rompido contra o Goiás. Na verdade, Abel afirmou que se sentiu até um pouco culpado:
— Desde o jogo contra o Boca em que sofremos um gol de um deixar a disputa para o outro, falo para eles que é melhor ir dois do que não ir nenhum. Foram ele e o Lomba e os dois se chocaram. Moledo não treinou, perguntei, ele falou que estava doendo, que ia fazer tratamento. Disse: "Moledão, você vai ser fundamental nesse jogo. Eles têm duas torres no ataque, fazem jogo aéreo". Me sinto um pouco responsável por isso. Estou falando isso publicamente, e nem sei se deveria, porque o torcedor precisa saber da postura profissional. Mostrou o que é ser identificado com um clube. Viajou do Ceará até Porto Alegre, não treinou e jogou com o ligamento cruzado rompido. Um cara, alto, pesado. E o que ele mais fez no jogo foi saltar. Esse cara merece um troféu.
O técnico não escondeu que Lucas Ribeiro sai na frente como companheiro de Cuesta. O zagueiro que veio do Hoffenheim quase não teve chances com Eduardo Coudet, mas Abel gostou do que viu nos treinos. Segundo o treinador, em uma atividade de campo reduzido, o jogador mostrou qualidade de passe e vigor. Lembrou que Lucas, quando jogava no Vitória, havia despertado a atenção de muitos interessados, mas optou por ir para a Alemanha. No Inter, ganhou oportunidade contra o Atlético-MG, agradou e seguiu recebendo chances e dando boa resposta.
— Ele tem uma agressividade muito grande e uma velocidade surreal. É incrível a impulsão dele. Para a idade, é um zagueiro completo. Não se apavora com nada. Você vê quem em dois jogos eu coloquei como volante para dar um sustento melhor, e ele entrou como se estivesse treinando. É de um nível muito alto e diferente — disse Abel, que aproveitou também para elogiar Pedro Henrique, convocado para a seleção sub-20, e Zé Gabriel que, nas palavras do treinador, "está melhorando no dia a dia".
Além do time, Abel ficou muito à vontade para falar do recorde que está em vias de bater. Daqui a seis partidas, será o técnico que mais vezes comandou o Inter. A iminência da marca, que, se não tiver algum contratempo (como suspensão), será batida diante do Vasco, em 17 de fevereiro, emociona o treinador:
— Ser o técnico que mais treinou o Inter vai ser mais importante para mim. Vai ser maior que tudo. Esse clube tem mais de cem anos! Eu fui uma peça de uma grande engrenagem que foi a conquista da primeira Libertadores e do título do Mundial. Não foi o Abel que ganhou, eu só estava junto. Agora, eu ser o cara que mais treinou, sou eu. Isso não tem preço. Tomara que papai do céu não me pregue nenhuma peça até o final. Depois eu perco um jogo ou outro e sou despedido (risos). Pelo amor de Deus! Se isso acontecer, eu vou ajoelhar e dizer: me deixa terminar aqui, pelo amor de Deus! Esse vai ser o maior troféu. Vai simbolizar tudo aquilo que eu fiz até hoje no Inter.
O futuro de Abel é incerto. Seu contrato vai até o final do Brasileirão e há um acordo da atual direção com o espanhol Miguel Ángel Ramírez para assumir a equipe na próxima temporada. Mas a campanha ascendente reabre o debate sobre sua permanência. Inclusive em uma nova função. Técnico há mais de três décadas, o campeão mundial de 2006 não descartou dar um novo rumo à carreira. Mas com uma condição: será quando ele quiser.
— Pela minha cabeça isso passa (ser coordenador ou dirigente). Um ou outro clube já me questionou se eu gostaria de assumir este cargo quando parar de treinar. Mas quando eu parar. Não vão me parar com outro cargo. Não é por aí. Quando eu decidir, deu. Mas já posso te adiantar, não vou ficar treinando mais do que dois anos depois deste Brasileiro aí. A ideia é essa. No momento, pode ser até que eu venha tomar esta decisão. Mas sou eu quem vai tomar esta decisão, não vai ser por convite. Eu que sei quando vou parar.
Enquanto isso, Abel se prepara para outro de seus tantos desafios no Inter. Daqui a menos de 10 dias, terá um Gre-Nal pela frente, no Beira-Rio. Já se vão 11 sem vitória colorada. Essa pressão foi tratada:
— Participar de um Gre-Nal é sempre muito bom. Um dos grandes motivos de não estar conseguindo ganhar o grande rival é o fato de estar pilhado com a necessidade excessiva de vencer. Nos últimos clássicos que vi, o Inter estava muito nervoso para querer vencer, e o Grêmio muito à vontade. Para melhorar a performance, tem que ter equilíbrio. Uma equipe da qualidade do Grêmio, bem treinada e trabalhada pelo Renato, não pode ficar numa zona de conforto. Eles estão muito tranquilos dentro do jogo e nós temos que atrapalhar isso aí um pouquinho.