
Com 13 títulos conquistados em 12 anos de Inter, escolher 10 jogos para celebrar a passagem de D'Alessandro por Porto Alegre teria tudo para ser uma tarefa fácil. Porém, o camisa 10 tem mais do que uma atuação por cada conquista em que foi protagonista da equipe. Sem falar nos clássicos Gre-Nais que valeriam apenas três pontos, sem serem decisivos, mas foram dominados pelo argentino e estão na memória do torcedor.
D'Alessandro ajudou o Inter a conquistar Sul-Americana, Recopa, Libertadores, e seis Campeonatos Gaúchos. O título do Brasileirão não veio, mas desde o primeiro disputado por ele, em 2008, se entendeu que o camisa 10 faria a diferença quando o Colorado precisasse contra o maior rival.
Relembre 10 jogos marcantes de D'Alessandro no Inter
A estreia, em Gre-Nal (Sul-Americana de 2008)
Era uma noite fria, em 13 de agosto de 2008, quando D'Ale e o Inter foram um só pela primeira vez. O estádio Olímpico recebeu o argentino e os outros 21 protagonistas em um Gre-Nal válido pela primeira fase da Sul-Americana. O clássico estava na sua edição de número 371, mas era a segunda vez em que a Dupla se enfrentava em torneios continentais. O empate em 1 a 1 foi suficiente para classificar o Colorado. A trajetória terminou em título com protagonismo do argentino. A camisa 15 escolhida pelo reforço não evitou que o então técnico Tite fizesse uma previsão na entrevista após o jogo:
— Meia-armador na sua essência. À medida que ganhar entrosamento, crescerá.

O primeiro gol em clássico
Dois Gre-Nais depois, o de número 373 teve gol de D'Alessandro. O primeiro de nove marcados pelo camisa 10 em jogos contra o Grêmio. O rival liderava o campeonato, de maneira que fez o então presidente Paulo Odone dizer que seu time "passaria a máquina" no Inter. Dentro de campo, Alex, Magrão, Guiñazu, Nilmar e D'Ale dominaram as ações. A atuação foi coroada pelo golaço de perna esquerda, carimbando um quase voleio da entrada da área depois de um cruzamento de Alex mal afastado pela zaga azul. Placar aberto para a goleada de 4 a 1 que viria. A derrota prejudicou a caminhada no Grêmio naquele Brasileirão, deixando escapar o título para o São Paulo.

Inter x Boca
Se em 2020 o confronto com o gigante argentino veio depois de seu anúncio de saída e em momento de transição dos trabalhos, em novembro de 2008 D'Alessandro mostrou aos companheiros de Inter todos os caminhos da Bombonera. Criado no River Plate, D'Ale tinha apenas uma derrota em cinco confrontos com o Boca Juniors. Pelo Colorado o camisa 10 manteve o retrospecto com duas vitórias (2 a 0 e 2 a 1) e classificação nas quartas de final daquela Sul-Americana que depois viria para o Beira-Rio.

Final contra argentinos
Até 2008, nenhum time brasileiro ousou tentar a sorte na Sul-Americana. O prêmio final de vaga na Libertadores parecia não seduzir ninguém. Tite, Nilmar e D'Alessandro queriam a taça para dizer que não havia nada fora do alcance: Inter campeão de tudo. Na final, dois jogos complicados contra o Estudiantes de La Plata que no ano seguinte seria campeão da Libertadores. Alex fez o gol da vitória fora de casa e Nilmar garantiu o empate do título na já na prorrogação no Beira-Rio. Se na ida Verón desequilibrou, na volta D'Alessandro mandou no jogo. Taça na mão e uma sorridente volta olímpica no Beira-Rio, no primeiro título conquistado por D'Ale no Inter, antes mesmo de completar cinco meses no clube.
Decisão na Libertadores
A final da Libertadores de 2010 foi contra o mexicano Chivas Guadalajara, o que fazia com que a semifinal classificasse ao Mundial de Clubes. O confronto com o São Paulo, em agosto, no Beira-Rio, reeditou a final de 2006 com ares de decisão. Quem avançasse à final contra os centro-americanos iria à Dubai como representante da América do Sul. E deu Inter. Era a primeira partida do Colorado sob comando de Celso Roth, mas quem comandou mesmo foi D'Alessandro. Organizou o meio, distribuiu passes para o ataque, tirou defensores do caminho com La Boba e pifou o predestinado Giuliano, que outra vez saía do banco para garantir a vitória. Inter 1 a 0, e vantagem mínima para o jogo da volta com um placar injusto com o camisa 10 que ameaçou o sossego de Rogério Ceni cobrando faltas.
Rei da América
A final contra os mexicanos também tem participação de D'Alessandro. As vitórias coloradas tanto na ida quanto na volta coroaram a campanha do camisa 10 com o prêmio de Rei da América, dado pelo jornal El País do Uruguai. D'Ale fez, na final, boa parceria com Tinga e Taison para superar a marcação individual de Araujo. Rafael Sobis marcou o gol de empate que recolocou o Colorado na partida do Beira-Rio, minutos depois do Chivas abrir o placar. À essa altura, D'Alessandro já era um dos ídolos máximos do lado vermelho do Estado.

Mais um bi-campeonato
D'Ale e Damião em grande fase levaram o Inter à reconquista da Recopa Sul-Americana, em 2011, quatro anos depois do primeiro título. Mais uma vez encarando compatriotas, o camisa 10 liderou a equipe colorada. Teve bola na trave em troca de passes com o centroavante, cruzamentos para os atacantes, além, é claro, de acompanhar de perto todas aproximações dos jogadores do Independiente ao árbitro. D'Alessandro aguentou o ritmo intenso da entrega até os 18 minutos do segundo tempo. Caiu sentindo lesão, levantou tentando continuar, mas deixou o gramado três minutos depois.

O último título do Olímpico
Em 2011 a Arena do Grêmio já estava sendo construída, mas ninguém imaginava que o último título do antigo estádio do rival seria carregado e levantado por D'Alessandro. O argentino abasteceu o ataque como sempre e marcou o terceiro gol colorado na partida, de pênalti, garantindo o 3 a 2 que levou a decisão do Gauchão daquele ano para as cobranças alternadas da marca de cal. O técnico Falcão superava Renato Portaluppi e o meia argentino fazia a festa na frente de uma multidão de torcedores gremistas. Em dezembro do ano seguinte, Olímpico desativado, Grêmio se mudando para a Arena, e a última taça do velho casarão foi vermelha.
Golaço contra o Atlético-MG de Victor
Quatro anos depois, o goleiro Victor, camisa 1 do Grêmio na maioria dos gols feitos por D'Ale em Gre-Nais, reencontrou o argentino pelo Atlético-MG, na Libertadores. O Inter de Diego Aguirre superou o Galo nas oitavas de final. Empate por 2 a 2 em Minas Gerais e vitória por 3 a 1 em Porto Alegre, com direito a golaço de D'Alessandro. O argentino recebeu de costas para o gol, girou e finalizou com a canhota. Acertou o ângulo de Victor. Golaço e mais uma classificação dos pés do camisa 10 com a cara dele.

Reinauguração do Beira-Rio
Foi um amistoso contra o Peñarol, não havia a pressão por uma taça nem uma busca por vaga que aproximasse o Inter de alguma conquista inédita, nada da competitividade que D'Alessandro historicamente usou para crescer em campo, mas mesmo assim o camisa 10 soube brilhar no momento histórico do clube. Foi de D'Ale o primeiro gol do Beira-Rio após as obras para a Copa do Mundo de 2014. O choro do argentino comemorando a inauguração do novo placar mostrava que para ele aquele momento era tão especial quanto para os milhares de torcedores que gritavam das modernas arquibancadas.
De todas as emoções do então novo estádio, D'Alessandro ficou. Seis anos depois, voltará pela última vez como jogador do Inter ao Beira-Rio neste sábado. Sem poder dividir presencialmente as lágrimas com ninguém, caberá aos colorados, de casa, guardar detalhes de cada uma das 516 partidas dele na memória que o camisa 10 construiu.