Quando foi montada a lista de técnicos para serem convidados nesta série especial do "Potter entrevista", Paulo Roberto Falcão foi prioridade. Porque quando Paulo Roberto Falcão fala, todos temos de ouvir. Um dos maiores jogadores da história do futebol (e não é minha opinião, é da Revista France Football e da Fifa), ele ainda busca espaço para se consolidar na carreira na casamata. Teve passagens pela Seleção, pelo América-MEX, e, no Brasil, por Inter, Bahia e Sport.
Pois Falcão concedeu bem mais do que uma entrevista sobre a profissão. Ele nos presenteou com um belo relato sobre o que entende ser futebol, sobre os desafios da missão, sobre sua vida, sobre o Inter e, até, sobre o Grêmio.
Começamos pelo futebol. Segundo melhor jogador da Copa do Mundo de 1982, Falcão tem um conceito que julgamos lindo sobre o esporte, e que diz respeito a essa competição. Passados 38 anos, todos lembram da Seleção, mesmo sem ter sido campeã:
— Eu detesto a mesmice. Quero um time que fuja da mesmice. Quero um time que ganhe, mas só isso não basta. Tem de jogar bem e emocionar. É isso o que fica na história.
Até 2011, era comentarista da Globo, e um dos mais respeitados do Brasil. Figura conhecida no mundo, portas abertas em qualquer estádio que vá, ele contou também o que o motivou a descer da cabine e se submeter a dirigentes amadores, contratos de risco, possibilidade de ser chamado de burro e indefinição sobre o futuro:
— Adrenalina.
É essa adrenalina que o faz abrir as portas para outra função. Aos 67 anos, entende que tem a contribuir não só como treinador. Uma função mais mista, entre gabinete e campo, está em seu horizonte:
— Já me ofereceram, vou dizer que até pensaria. Desde que eu fosse o responsável pelo futebol. Como profissional. Seguiria, evidentemente, a política do clube, mas seria responsável pelo futebol, com o treinador, montaria um trabalho sério na base. Não vou dar pitaco no treinador, a não ser que ele me peça (risos). Mas certamente procuraria fazer alguma coisa fugindo da mesmice.
Não queremos entregar todo o conteúdo, mas é obrigação chamar a atenção para as frases a seguir. Perguntamos sobre Inter e Renato, técnico do Grêmio. Vou deixar aqui embaixo o que ele disse sobre cada tema.
Inter
"Não penso (em voltar para) no Inter. Existe uma confraria de 20 anos, e quem comanda vocês sabem quem é. É uma ditadura de 20 anos comandada por uma pessoa só. Teve coisas boas, coisas ruins. Vai ter uma eleição, e as pessoas vão poder escolher. Democracia tem de ter mudança. E não é só mudança de nome. Precisa dar oportunidade para outros".
Vaidade
"Vaidade é algo que todo mundo tem. O (ex-presidente) Fernando Henrique Cardoso tem uma frase: 'A vaidade não pode ser maior do que a inteligência'. Com certeza, é o meu caso. Não são críticos. Era alguém que falava para justificar não me contratar. Uma vez, alguém disse que eu não conhecia mais o cheiro do vestiário. Então sentei com Muricy, Parreira, Paulo Autuori e Evaristo. Perguntei: "O cheiro do vestiário mudou?". Outros disseram que eu uso blazer. Vê se pode".
Renato, Grêmio e Romildo:
"Tenho uma ótima relação com o Renato, foi meu jogador na Seleção. E ele teve a sorte de contar com um dirigente que confia e protege. Certamente, Romildo é o maior presidente de clube que o Rio Grande do Sul teve nos últimos 20 anos".
Teve ainda Barcelona, Guardiola, Seleção, Fernando Diniz, Cruyff, Holanda, Europa, Roma, Flamengo, Rogério Ceni, histórias divertidas de bastidores, sua relação com atletas. Garanto a vocês: vale o clique. Porque quando Paulo Roberto Falcão fala, todos temos de ouvir.