O duelo contra o Sport, pela 16ª rodada do Brasileirão, trouxe uma novidade à delegação do Inter: o retorno de Rodrigo Dourado. A última vez em que o volante entrou em campo foi no dia 10 de julho de 2019, no jogo de ida das quartas de final da Copa do Brasil, contra o Palmeiras, em São Paulo. Porém, voltou a sentir dores no joelho esquerdo, que havia sido operado em maio, e teve de ser submetido a uma nova cirurgia em setembro. Desde então, foram 462 dias sem participar de uma única partida oficial.
Recentemente, o Colorado viu mais dois de seus atletas (Paolo Guerrero e Renzo Saravia) passarem por artroscopias, mas por motivos diferentes. Enquanto os estrangeiros tiveram de reconstruir ligamentos rompidos, o caso de Dourado teve como origem um desgaste de cartilagem, que gerou um edema ósseo no joelho.
— As lesões de cartilagem são mais graves, porque a cartilagem é responsável por distribuir de maneira homogênea a pressão sobre os ossos. Quando uma cartilagem apresenta deficiência, se tem uma concentração, um pico de pressão mais elevado sobre determinados pontos. O osso reage com um edema e pode ser oriundo até de uma fratura por estresse — explica Geraldo Schuck, médico ortopedista da Santa Casa de Porto Alegre.
Desta forma, o atleta revelado nas categorias de base do Inter realizou até mesmo um tratamento à base de células-tronco para acelerar a cicatrização. Ele passou os últimos meses em trabalhos de fisioterapia e reforço muscular.
— Nesses casos em que o paciente fica muito tempo afastado, os maiores cuidados são relacionados às questões musculares. Não sei exatamente o caso dele, mas imagino que, se teve alta do departamento médico para treinar novamente, a lesão tenha atingido um nível alto de cicatrização. Mas não é simplesmente estar curado e voltar a jogar. Ele vai sofrer todo um trabalho de preparação da musculatura e de outras estruturas articulares, com ligamentos, para suportar a carga de atividade que tinha antes da lesão — completa Schuck.
Case de sucesso
Depois de ter feito parte da seleção que conquistou o ouro olímpico em 2016, no Maracanã, Rodrigo Dourado chegou a carregar a braçadeira de capitão do Inter sob o comando de Odair Hellmann. A lesão, no entanto, atrasou a carreira do jovem volante. Aos 26 anos de idade, teve de reaprender a lidar com o próprio corpo e com as dores musculares desde que foi reintegrado aos trabalhos com bola, apenas em junho deste ano.
— Em 2004, eu tive uma situação parecida no Coritiba. O Aristizábal tinha saído do Cruzeiro e apresentava uma fratura de cartilagem no joelho. Era uma situação bastante grave também, e houve uma dificuldade para saber se aceitavam ou não contratá-lo. Como havia a necessidade pela carência no plantel, a gente decidiu contratar e fazer um procedimento todo especial. Adaptamos os treinamentos à piscina, com o atleta nadando e correndo, para minimizar o impacto no joelho. No momento da estreia, estipulamos que ele entraria nos 15 minutos finais, independentemente do resultado. E, na primeira vez que ele tocou na bola, marcou um gol. Isso, emocionalmente, joga o atleta lá em cima em nível de confiança, por ser coroado com um gol depois de tanto tempo de parada — recorda o preparador físico Manoel Santos, que passou pelo Beira-Rio entre 2000 e 2001, e também trabalhou em Atlético-MG e Fluminense recentemente.
Porém, o profissional faz questão de ressaltar que "cada caso é um caso" e, como não acompanha o tratamento do volante colorado, não pode recomendar o mesmo tipo de trabalho.
— Somente o departamento médico do clube, envolvido no acompanhamento deste atleta desde a parte clínica, médica e fisioterápica, pode avaliar o caso. Conheço o Cristiano Nunes (preparador físico do Inter), que é um profissional extremamente competente. O Inter sempre teve um estafe fantástico, com o professor Luiz Crescente (coordenador médico) e o professor Élio Carravetta (coordenador do Departamento de Performance), um dos maiores do país. Então, imagino que deve ter um planejamento para a reestreia deste atleta e tenho certeza de que vão ter sucesso — conclui.
O primeiro passo, ao menos, será dado nesta quarta-feira, em Recife: compor o grupo colorado em uma viagem. Para voltar a ser considerado um atleta com projeção para a Europa, Dourado terá de viver como se estivesse surgindo das categorias de base outra vez.