Muita gente gostaria de ter o currículo de Fernando Carvalho. Depois de levar o Inter aos títulos da Libertadores e do Mundial de Clubes como presidente, em 2006, ele voltou a conquistar a América em 2010, como vice-presidente de futebol. Afastado do clube desde 2016, quando teve uma breve passagem pelo Beira-Rio para tentar evitar o inédito rebaixamento, o ex-dirigente colorado se incumbiu de uma nova missão: ajudar a formar executivos de futebol no país.
Sob a chancela da CBF Academy, que vem ministrando aulas a treinadores nos últimos anos, e montando em conjunto com a Associação Brasileira dos Executivos de Futebol (Abex), o curso que o terá como um dos professores deu sua largada nesta quinta-feira (23), de maneira on-line, e se estenderá até o início de outubro.
— Eu estava pensando em fazer isso há muito tempo. E, como tenho uma boa relação com o Walter Feldman (secretário-geral da CBF), disse para ele: "Tem que fazer um curso para executivos, assim como tem esse curso de treinadores". Ele me apresentou para o Marco Dal Pozzo e Michel Mattar, da CBF Academy, que me disseram que o Cícero Souza, presidente da Abex, estava com a ideia de montar um curso também. Então, liguei para ele. Eu já tinha montado uma estrutura, com módulos, que iria acontecer na Federação Gaúcha de Futebol. Fizemos uma condensação entre os nossos currículos, apresentamos ao pessoal da CBF e eles acharam ótimo — revelou Carvalho a GaúchaZH.
Além de mentor do curso, Carvalho também será responsável por dar três aulas. As demais serão ministradas por professores especializados em diferentes áreas.
— Os professores vão dar aula de orçamento, de planejamento estratégico, de governança corporativa. Então, eles entram com a parte teórica e eu com o lado prático. Para mim está sendo ótimo. Existe uma lacuna. Os dirigentes saem do futebol, mesmo os que têm experiências positivas, e se afastam. É o meu caso. Não quero mais me meter nisso. Então, quero trazer uma experiência, um ensinamento do que vivi. Eu trato da contratação de jogadores, de técnico, da relação com a imprensa, com o Conselho Deliberativo. É bem amplo — explica ele.
Entre os quase 50 alunos inscritos, alguns nomes conhecidos do futebol brasileiro, como os ex-zagueiros Juan, Edu Dracena e Paulo André, além de profissionais que já vêm atuando na área, como Alexandre Mattos, atualmente no Atlético-MG, e outros formados na dupla Gre-Nal, como Paulo Pelaipe, Jorge Macedo e Roberto Melo. A lista ainda contempla dois profissionais ligados ao Grêmio: Eduardo Fernandes, assessor-adjunto das categorias de base, e Henrique Pinto, que compõe o departamento jurídico do clube.
— Todos eles já têm uma ideia sobre o meio, porque estão trabalhando. Eu me tornei dirigente com a vivência. Não sabia nada. Tinha uma ideia geral das coisas, mas o dia a dia, a derrota, o revés faz com que tu aperfeiçoe a gestão. Quando eu comecei, era simplesmente o advogado do clube. No curso, conto a história da "tia", que era uma cozinheira que tinha no Inter. Um dia ela fazia frango, no outro carne e, de tantos os caras reclamar, botaram uma nutricionista. O executivo da época era o Carlos Duran. Ele levava o filho do jogador no colégio, alugava apartamento, regularizava o jogador na Federação, ia no Tribunal para ver qual era a punição... Começou assim e foi se agregando nutricionista, médico, fisioterapeuta. Hoje o executivo tem uma gama de especialidades a seu comando que é o que constitui a atuação dele — complementa Carvalho.
Com uma carga horária de 180 horas, o projeto previa encontros presenciais, que tiveram de ser revistos por conta da pandemia de coronavírus. Porém, ainda há o desejo de fazer o encerramento na Granja Comary, em Teresópolis, no Rio de Janeiro.