A conturbada relação do Inter com a Turner ganhará mais um capítulo nesta semana. As duas partes pretendem avançar na negociação sobre a transmissão dos jogos do Brasileirão em TV fechada. Depois de interromper os pagamentos por conta da pandemia de coronavírus, o conglomerado americano ameaça rescindir o acordo sem pagar multa, alegando quebra de contrato por parte dos clubes envolvidos.
Com um vínculo que se encerra no final deste ano, o Colorado tem até uma mesa de debates mais amena que a dos demais (Palmeiras, Santos, Bahia, Ceará, Fortaleza, Athletico-PR e Coritiba), pendurados até 2024. Porém, o clube gaúcho ainda tem de receber cerca de R$ 28 milhões.
— Vamos ter mais uma rodada de reunião nesta semana. Ainda não tem data marcada. Amanhã (segunda-feira, 29) vamos conversar. Mas creio que, em um curto espaço de tempo, não teremos um desfecho — avalia o vice-presidente colorado Alexandre Chaves Barcellos, que não descarta até mesmo a manutenção do vínculo.
Para entender os detalhes que envolvem esta negociação, GaúchaZH recorda os principais fatos que construíram a já desgastada parceria.
Briga política
Assinado ainda em 2016, pelo então presidente Vitorio Piffero, o contrato com a Turner recebeu contestações dentro do Conselho Deliberativo. A intenção da gestão era que o vínculo se estendesse de 2018 até 2024, assim como os demais clubes do país, mediante o pagamento de R$ 40 milhões em luvas. Na época, a oposição, liderada por Marcelo Medeiros, articulou para diminuir o período para dois anos, recebendo R$ 13 milhões — o que acabou sendo consumado.
Mudança de canal
Inicialmente, o acerto era de que os jogos do Inter seriam transmitidos pelo Esporte Interativo. Porém, sem aviso prévio, em agosto de 2018, o conglomerado anunciou o fechamento do canal no Brasil, estabelecendo que as partidas seriam exibidas nos canais TNT e Space, conhecidos por passar filmes e séries. Diante desta nova realidade, o Inter (já sob a direção de Medeiros) exigiu a quebra de contrato, argumentando o rompimento do acordo firmado anteriormente.
Benefícios ao Palmeiras
No final de 2018, o Bahia denunciou que o Palmeiras havia recebido R$ 10 milhões a mais por conta do acerto com a Turner. O Inter, da mesma forma, se somou à reclamação, exigindo que a diferença fosse compensada. Enfim, houve um novo acerto financeiro entre as partes.
Ameaça de rescisão
Ao longo do Brasileirão de 2019, a Turner exibiu normalmente as partidas que envolviam os seus contratados. Porém, em abril deste ano, surgiu uma nova polêmica. A emissora alegou que Palmeiras, Santos, Inter, Athletico-PR e Fortaleza tiveram mais de seis jogos transmitidos em TV aberta ou streaming para as praças em que foram realizados, tirando o peso de seu produto. O argumento, porém, levantou a suspeita entre os clubes de que a empresa estaria dando uma desculpa para se retirar do mercado brasileiro. Assim, eles negociam em bloco, por meio da empresa Livemode, para chegar a um acordo antes de entrar na Justiça. A diretoria colorada, por conta da particularidade de seu contrato de menor extensão, acertou com o escritório de advocacia TozziniFreire para intermediar as tratativas com a Turner.
MP do Flamengo
Por fim, um último capítulo neste mês de junho acendeu um sinal de alerta no Beira-Rio. Graças ao lobby do Flamengo, o presidente da República, Jair Bolsonaro, assinou Medida Provisória que flexibiliza os direitos de transmissões televisivos. Dependendo ainda de aprovação do Congresso, a MP permitirá que a Turner exiba não apenas partidas envolvendo as equipes com contrato vigente, mas todos os jogos em que os times sob assinatura sejam mandantes.
— Abriu um leque. Não sei como vai se dar essa tramitação na Câmara. Vamos fazer alguns contatos com deputados em Brasília — conclui Chaves Barcellos.