Após uma longa tratativa com o Monaco, iniciada ainda em dezembro, o Inter finalmente anunciou Gabriel Boschilia. O tempo de espera é facilmente compreendido devido à complexidade do negócio, que fez com que Athletico-PR e Red Bull Bragantino, que também haviam sondado a situação do meia, desistissem de sua contratação.
Aguardado para chegar na manhã desta quarta-feira (29) a Porto Alegre, o atleta realizará exames médicos antes de assinar contrato até dezembro de 2022. Em um primeiro momento, o Colorado obtém 20% dos direitos econômicos do jogador — irá adquirir mais 10% assim que ele entrar em campo. Outros 40% poderão ser comprados a um preço fixado ao final dos três anos (os 30% restantes pertencem ao São Paulo). As partes mantêm os valores em sigilo.
Mesmo ainda muito jovem — em março, completará 24 anos de idade —, Boschilia volta ao Brasil para buscar um protagonismo que não conseguiu conquistar nos quase cinco anos de Europa.
Apesar de ter sido revelado pelo Guarani de Campinas, Boschilia foi buscado pelo Tricolor paulista quando tinha 17 anos. Depois de se destacar na base, tendo sido até mesmo convocado para seleções inferiores, foi guindado ao grupo principal em 2014. Entretanto, nunca conseguiu cavar um espaço no time. A situação se repetiu no ano seguinte, quando, mesmo com a troca no comando técnico e a chegada do colombiano Juan Carlos Osório, seguiu como uma espécie de substituto natural para Paulo Henrique Ganso.
— Ele é meio-campista, canhoto e arremata bem. É o meia clássico, que hoje não vemos surgir muito — recorda Muricy Ramalho, seu primeiro treinador como profissional. — A posição que ele tem que jogar é por dentro, como meia de ligação, e não pela beirada, pois arremata bem de fora da área. Mas isso é decisão do treinador. Na minha opinião, ele tem que jogar atrás do camisa 9 — completa o ex-treinador e atual comentarista do SporTV.
No clube do Morumbi, disputou 44 jogos — apenas 10 como titular — e marcou cinco gols até ser negociado com o Monaco por 9 milhões de euros (quase R$ 35 milhões). Apesar do alto valor pago, Boschilia continuou sem sequência no principado francês.
Pouco aproveitado, chegou a ser emprestado ao Standard Liége, da Bélgica, e ao Nantes. Ainda foi atrapalhado por uma grave lesão no início de 2017. Ao romper o ligamento cruzado do joelho direito no início de 2017, ficou seis meses afastado dos gramados. Com isso, não consolidou números expressivos em território europeu. No total, disputou 77 jogos, como titular em 37 deles.
— Ele foi bem no Nantes. O (técnico) Vahid Halihodzic gostava do futebol dele. Ele articulava mais pela esquerda, fazia boas conexões com o lateral Lucas Lima e com o falecido Emiliano Sala. No Monaco, depois que voltou do empréstimo, não teve muitas chances. Nesta temporada, foram 460 minutos e só um gol marcado. É pouco em volume. Mas sempre que entrou, mostrou qualidade, visão de jogo e inteligência nas tomadas de decisão — destaca o analista Gustavo Fogaça.
Sua última aparição em campo foi no dia 20 de janeiro, quando ingressou no segundo tempo da vitória sobre o Saint-Pryvé Saint-Hilaire, pela Copa da França. Na ocasião, substituiu o centroavante Ben Yedder, embora não tenha executado esta função na equipe. É pensando na retomada de sua carreira que Boschilia volta ao futebol brasileiro. Caberá ao técnico Eduardo Coudet encaixá-lo no desenho que imagina para o Inter de 2020.
— É um jogador extremamente versátil e, por mais que seja canhoto, flutua por outras partes do campo. Jogou até como atacante. Se ele quisesse, ainda tinha mercado na França, em clubes de segundo escalão, como Nice ou Bordeaux. Mas o Monaco tem uma exigência maior para esses jogadores e uma filosofia de revenda. Penso que voltar ao Brasil pode criar novos ares para ele. Vejo como uma boa contratação e, se jogar o que jogou no Nantes, principalmente, tem potencial para ser um dos grandes nomes do futebol brasileiro. Resta saber as condições psicológicas dele e se não há resquícios da lesão no joelho — analisa o jornalista Filipe Frossard Papini, especialista em futebol francês e dono do blog C'est Le Foot, do Globoesporte.com.
Confira os números de Gabriel Boschilia:
2014: São Paulo — 28 jogos (4 como titular) e 2 gols
2015: São Paulo — 16 jogos (6 como titular) e 3 gols
2015: Monaco — 6 jogos (2 como titular)e nenhum gol
2016: Standard Liége — 10 jogos (7 como titular) e 2 gols
2016/2017: Monaco — 16 jogos (9 como titular) e 8 gols
2017/2018: Monaco — 7 jogos (2 como titular) e nenhum gol
2018/2019: Nantes — 32 jogos (16 como titular) e 5 gols
2019/2020: Monaco — 6 jogos (1 como titular) e nenhum gol
Total: 121 jogos (47 como titular) e 20 gols