Que final de ano melancólico para os colorados. A temporada em que o Inter transformou o Athletico-PR em gigante, em que não ganhou Gre-Nais, em que perdeu o Gauchão e em que caiu para um supertime na Libertadores está chegando ao fim de maneira sofrível diante das expectativas criadas. O que restou foi contar com a derrota do Goiás para o Palmeiras para confirmar o oitavo lugar no Brasileirão e uma vaga na fase preliminar da competição continental em 2020.
A derrota por 2 a 1 para o São Paulo, que impediu o clube de se garantir na fase de grupos da Libertadores, teve um lance emblemático — e que, de certa forma, é uma metáfora do ano colorado: o time do quase. Em busca do empate, o Inter teve uma falta lateral. A bola foi alçada na área, a zaga do São Paulo tirou e ninguém de vermelho pegou o rebote. Tchê Tchê dominou e lançou Antony, que correu diante de uma defesa aberta, venceu Edenilson e Heitor e tocou para Vitor Bueno, sozinho, tirar de Marcelo Lomba. Enquanto ele concluía, Rodrigo Moledo e o goleiro se estatelavam no chão, em vão. O São Paulo, que três dias antes havia sido goleado pelo Grêmio, foi de gol a gol, sem que nenhum jogador colorado encostasse na bola.
O Inter que Eduardo Coudet receberá em janeiro não terá boa parte dos jogadores do grupo atual. A demissão de Odair Hellmann sem que a direção tivesse um Plano A, B ou C viável para o momento, foi mal recebida pelo vestiário. Ricardo Colbachini assumiu de forma temporária, mas os dirigentes tiveram medo de ficar marcados por uma possível derrota mais contundente no Gre-Nal da Arena — como foi em 2015, quando Odair, então interino após a demissão de Diego Aguirre, comandou a equipe que levou 5 a 0 no clássico. Zé Ricardo, a escolha pessoal do executivo Rodrigo Caetano, foi o nome para o final da temporada. Pouco adiantou, o time não evoluiu e agora fica a pergunta: quem é responsável pelo fim de 2019 tão abaixo do prometido?
— Quando da demissão do Odair, os jogadores até fizeram um apelo para que ele permanecesse. Eles sabiam que, em uma troca de comando, sempre há prós e contras. Em início de temporada, é uma coisa, e geralmente dá bom resultado. Mas o novo treinador não conhecia o time, os atletas, o estilo de jogo. O apelo do grupo responde por si só. Todos sabiam que Zé Ricardo teria pouco tempo para realizar seu trabalho, enquanto Odair já conhecia tudo e todos. É complicado ver o Inter nessa situação. Para quem viveu a minha geração, quando a gente conseguia vaga à Libertadores a todo o momento, é bem difícil ver o time brigando pelo oitavo lugar — entende o ex-zagueiro e atual treinador Bolívar, bicampeão da América e capitão colorado na conquista de 2010.
Como Odair disputou três competições ao mesmo tempo durante a temporada, seu aproveitamento foi superior aos de Colbachini e Zé Ricardo. Apesar de não ter títulos, o antigo treinador deixou o Inter na sexta colocação no Campeonato Brasileiro, à frente de Grêmio e de Athletico-PR, que têm nove e oito pontos, respectivamente, à frente dos colorados. Basicamente, a equipe foi atropelada na tabela por quem vinha atrás.
— Odair não deveria ter sido demitido, o mais lógico seria mantê-lo até o fim do ano e, depois, se a direção entendesse assim, trocar de técnico. Ele tinha o time na mão. Mas o treinador é sempre o culpado no futebol brasileiro, e estourou no Odair. Apesar de tudo, o Inter é quem ainda pode determinar seu futuro. É claro que jogar a pré-Libertadores, e não ter condições de ingressar direto na fase de grupos, é um prejuízo — comentou Valdomiro Vaz Franco, eterno camisa 7 do Beira-Rio e o jogador que mais vezes vestiu a camisa vermelha na história.
— Com Odair, o Inter tinha uma maneira de jogar bem definida. Estava no limite o tempo todo, em um sistema reativo, que exigia muito da parte física dos jogadores. Na época, o time ainda tinha objetivos grandes. E isso motiva muito, a chance de chegar, de ser campeão. O fim das possibilidades de título, mais a demissão do Odair, fizeram com que essa motivação caísse, além do cansaço e do estresse do fim de temporada. O atual rendimento baixo se deve a isso, e o poder de reação da equipe praticamente não existe mais. Isso abala, e abala bastante — pondera Daniel da Costa Franco, campeão da Copa do Brasil pelo Inter em 1992.
O 2019 de frustrações para o Inter pode desencadear um duro começo de 2020 para o clube.
O Inter no Brasileirão:
Com Odair Hellmann
- 24 jogos
- 11 vitórias
- 5 empates
- 8 derrotas
- 29 gols marcados
- 23 gols sofridos
- 53% de aproveitamento
- 6° colocado, com 38 pontos
Com Ricardo Colbachini
- 3 jogos
- 1 vitória
- 1 empate
- 1 derrota
- 2 gols marcados
- 1 gol sofrido
- 44% de aproveitamento
- 6º colocado, com 42 pontos
Com Zé Ricardo
- 10 jogos
- 3 vitórias
- 3 empates
- 4 derrotas
- 11 gols marcados
- 14 gols sofridos
- 40% de aproveitamento
- 8º colocado, com 54 pontos