Eduardo Coudet tem seus homens de confiança. O argentino que comandará o Inter a partir de janeiro criou vínculos com alguns jogadores já nos tempos de Rosario Central e os carrega (ou pelo menos indica) em outros clubes em que trabalha. Agora, a tendência é de que repita o procedimento e traga para Porto Alegre alguns atletas que conhecem seu procedimento e seu método de trabalho.
Até por isso, entre os jogadores que começam a pipocar como especulações no Inter estão figuras como o zagueiro Alejandro Donatti e o volante Damián Musto. Os dois mais os meias Walter Montoya e Nery Domínguez e o atacante Gustavo Bou estiveram com o técnico em mais de um time.
Até no banco há exemplos: o polivalente Maurício Martínez, zagueiro e volante, foi seu reserva tanto no Rosario Central quanto no Tijuana. No caso do defensor, Coudet o levou do Central ao México e, depois, ao Racing.
— Chegou a indicar esses e outros para novos trabalhos, mas nem sempre conseguiu. São seus jogadores — aponta o jornalista Nacho Di Benedetto, da Rádio LT3 AM 680, de Rosário.
Franco Marra, do jornal El Periodico, de Rosário, cidade argentina que viu o primeiro trabalho de Coudet, completa:
— Com Donatti, sua relação é especial, de confiança e de entendimento de seu estilo. É um zagueiro muito forte, um dos melhores cabeceadores do futebol argentino, não é tão rápido, mas sabe se posicionar e manteve o nível de atuação em todos os trabalhos.
Levar jogadores de confiança, claro, não é uma característica apenas do futuro técnico do Inter. Nem de estrangeiros. Dentro do próprio Brasil, treinadores costumam contar com algumas peças conhecidas para facilitar a adaptação e o entendimento do novo clube.
O técnico Valdir Espinosa foi um dos que usaram essa estratégia. Quando foi trabalhar no Cerro Porteño, do Paraguai, pela primeira vez, indicou os atacantes Tarciso e Joãozinho Paulista e o meia Robson. Todos haviam sido comandados por ele em algum ano anterior. Depois, nas outras passagens, levou Éder Aleixo, Suca, Ricardo Pinto, Nildo e outros.
— Quando chegamos pela primeira vez, tínhamos a missão de mudar a filosofia do clube, criar um estilo mais ofensivo e técnico. Esses nomes deram certo, tinham peso, e isso tudo teve outro efeito, o de abrir portas. Tanto que nas outras passagens, eram os próprios dirigentes e torcedores que me pediam para contratar outros brasileiros — conta.
Segundo Espinosa, é preciso conhecer a cultura do país para onde se vai antes de indicar reforços. O modo de vida de cada nacionalidade influencia no desempenho e na adaptação:
— Nem sempre um jogador que vai bem no Paraguai repete o desempenho na Arábia ou no Japão.
A presença de atletas conhecidos do treinador ajuda não só no campo, mas também em treinos e em convivência. Mas é preciso ter atenção: levar um grupo para dentro de outro grupo pode gerar uma divisão e não a adaptação.
— Por isso, mais até do que cuidar tecnicamente ou taticamente, tem uma questão de personalidade que precisa ser levada em conta — alerta.
LOS BRUJOS
- Alejandro Donatti, 33 anos, é o jogador de maior confiança de Coudet. Depois de ser comandado pelo técnico no Central, foi levado também ao Tijuana e agora está no Racing. É alto (1m92cm) e forte. Tem como maiores virtudes o bom posicionamento defensivo e cabeceio. Contribui ofensivamente: são 38 gols na carreira, em 332 jogos.
- Damián Musto, 32 anos, é um volante posicionado à frente da zaga. Cabeça de área clássico, costuma dar início aos ataques e proteger a defesa. Trabalhou com Coudet no Central e no Tijuana. Emprestado ao Huesca, da segunda divisão da Espanha, envolveu-se em caso de doping por uso de diuréticos e está suspenso até 5 de janeiro.
- Walter Montoya, 26 anos, é um volante multifuncional. Pode atuar tanto por dentro quanto aberto pela direita. Exerceu as duas missões no Central de 2016, onde chamou a atenção na Libertadores. Esteve no Grêmio em 2019, mas não deu sequência às boas partidas de três anos atrás. Está no Racing a pedido de Eduardo Coudet.
- Nery Domínguez, 29 anos, é um meia destro de 1m83cm que tem como característica a imposição física e a intensidade, atuando tanto na linha mais ofensiva quanto de volante. Não é muito goleador: foram 10 na carreira. Pelo Racing, acumula 60 partidas e um gol marcado. Esteve com Coudet no Central em 2016 e está em Avellaneda.
- Gustavo Bou, 29 anos, é um atacante de 1m77cm cuja característica principal é a verticalidade. Goleador do Argentino de 2015 com 28 gols pelo Racing. Conheceu Coudet no Tijuana e voltou a Avellaneda em 2019, onde estava o futuro técnico colorado, mas sem repetir o sucesso. Atualmente está nos Estados Unidos.
O exemplo Palmeiras
Em 2014, o Palmeiras apostou em Ricardo Gareca para comandar a reestruturação do clube, que voltava da Série B e tentava se estabilizar na elite em um momento turbulento. Gilson Kleina havia comandado a equipe no título da Segunda Divisão e no começo do ano, mas não resistiu a maus resultados e foi substituído pelo argentino, que chegava com o cartaz de ter sido campeão argentino com o Vélez.
O argentino, atualmente técnico da seleção peruana, desembarcou em São Paulo em maio e indicou quatro reforços de seu país: o zagueiro Tobio, o meia Allione e os atacantes Mouche e Cristaldo. Além deles, havia no grupo outros estrangeiros, como os uruguaios Victorino (zagueiro) e Eguren (volante), o chileno Valdivia (meia) e o paraguaio Medieta (meia). A legião estrangeira não deu liga, e o Palmeiras lutou até o final do ano contra o rebaixamento, acabando o campeonato em 16º lugar.
Gareca ficou apenas três meses no Palmeiras. Em 13 jogos, acumulou quatro vitórias, um empate e oito derrotas. E quando foi embora, os atletas permaneceram, alguns encostados outros com poucas chances. O exemplo ruim, porém, não deve assustar o Inter, na opinião do comentarista Mauro Beting, do Esporte Interativo.
— Quando traz gente competente como Jorge Jesus, pode ser português, argentino ou marciano que dá liga. Não acho que o Gareca tenha feito isso de patota. Ele trouxe o que o cofre do Palmeiras podia trazer na época, foram alguns nomes interessantes.
Beting completa:
— O Coudet é um ótimo treinador, uma excelente contratação do Inter. Não pode fazer um time de 11 argentinos, mas não mas também não pode ter uma reserva de mercado xenófoba para brasileiros. Até porque o Inter de D'Ale, Guerrero e Cuesta ou o Inter de Figueroa valeram o investimento.