O sorriso tímido e o jeito introspectivo podem até iludir as adversárias dentro das quatro linhas. Shaiane Madeira Pedrozo, de 25 anos, bem que conseguiu passar despercebida pelas primeiras rodadas do Campeonato Gaúcho Feminino, mas, na grande final deste domingo (1°), às 16h, diante do Grêmio, no Estádio 19 de Outubro, em Ijuí, a meia-atacante terá os holofotes voltados para si. Não é para menos: além de ser o grande destaque ofensivo do Inter na temporada é a artilheira do torneio, com 17 gols marcados.
A baixinha de 1m60cm, natural de São José do Norte, zona sul do Estado, não gosta muito de ser o centro das atenções — apesar de ter futebol para isso. Do mesmo jeito que chega ao campo da Academia de Polícia de Porto Alegre para treinar todo dia, também sai. Quieta, sem muita resenha e, por vezes, sozinha. Não que seja antipática ou odiada pelas colegas, muito pelo contrário. Shasha, como é conhecida, é apenas tímida.
Quando entra em campo, se transforma. Meia-atacante, cai pela extrema direita com muita velocidade. Ela própria reconhece tal qualidade.
— A minha velocidade pela extrema é minha melhor caraterística, na minha opinião — conta, como voz calma, a atleta.
Em sua curta trajetória no futebol profissional, que começou em 2018 quando teve pela primeira vez sua carteira assinada pelo Inter, Shasha tem uma história de superação parecida com a de muitas meninas que tentam sobreviver do futebol.
Apesar de sempre ter o apoio da mãe, a professora de Educação Física Sandra Regina, a gaúcha teve que dar uma pausa em seu sonho aos 18 anos para ajudar a família a comprar a casa própria.
— Larguei. Não tínhamos casa própria. E comecei a trabalhar como auxiliar de serviços gerais em um supermercado. Precisava ajudar minha família em primeiro lugar — lembra.
Com o lar em São José do Norte comprado, era a hora de retomar de onde havia parado. Voltou ao futebol. Em 2017, vestiu a camisa do Grêmio e ganhou vitrine. Recebeu proposta e, desde o ano passado, veste a camisa do rival. Decisão da qual afirma não se arrepender de ter tomado:
— Aqui a estrutura está melhorando, é melhor que a de lá (do Grêmio). Foi por isso que eu escolhi vir, acho que a estrutura é essencial.
Shasha não é a atleta mais experiente do Inter. As atacantes Luana e Fabi Simões, de 28 e 30 anos, anotaram 13 e noves gols respectivamente, e também são destaque nas Gurias Coloradas. A zagueira Bruna Benites, de 34 anos, é a mais calejada do grupo. Ela e Fabi são frequentemente convocadas para representar a Seleção Brasileira. Lugar que a artilheira pretende chegar em pouco tempo.
Tenho certeza que se a Pia me der uma oportunidade, vou aproveitar
SHASHA
Meia-atacante do Inter
— Para qualquer jogadora é um sonho. Tenho certeza de que se a Pia me der uma oportunidade, vou aproveitar — declarou a meia.
Mas não é apenas Shasha que aposta em bons frutos com a camisa amarelinha. O técnico colorado Maurício Salgado também exalta a capacidade de sua comandada:
— Vejo um potencial gigante na Shasha. Fez um ano excelente, muito regular, indo bem em todos os jogos, é destaque em várias partidas difíceis. Aposto que ela tenha uma carreira brilhante, não só no Inter, mas também na Seleção Brasileira.
Para Shasha, o clássico Gre-Nal deste domingo é a maior chance de conquistar seu primeiro título pelo Inter, um início de ascensão nacional e, quem sabe, a atenção de Pia Sundhage:
— É a minha melhor oportunidade até aqui e quero aproveitar.