Ao contratar Zé Ricardo para o mandato tampão, a direção do Inter mirava, sobretudo, o Gre-Nal. O interinato de Odair Hellmann, em 2015, na Arena, gerou o histórico 5 a 0. O maior temor dos atuais dirigentes colorados era que um novo interino levasse mais uma goleada. Daí, o acerto com o argentino Eduardo Coudet, mas como o treinador do Racing se negou a assumir o Inter em reta final de temporada, houve a necessidade de Marcelo Medeiros, de Roberto Melo e de Rodrigo Caetano buscarem um técnico provisório. Afinal, caso Ricardo Colbachini fosse goleado pelo Grêmio, a responsabilidade cairia nas costas da direção.
Pois o time de Zé Ricardo poderia ter sido goleado na Arena. A derrota por apenas 2 a 0 não representou o que foi o clássico, quando um Grêmio superior ainda atuou quase todo o segundo tempo com um jogador a mais em campo — após non sense expulsão do goleiro Marcelo Lomba. O Inter encerra o ano sem vencer um Gre-Nal sequer — perdeu dois, empatou três —, sem títulos, e ainda tendo sido ironizado pelo técnico do Grêmio. Disse Renato Portaluppi, ao final do clássico:
— Hoje (domingo), ficou barato. Se o meu time não tira o pé do acelerador, e não foi ordem minha, teria sido goleada.
Agora, um Inter com muitos problemas, até mesmo de gestão de grupo, tentará a sua reabilitação diante do Ceará, em Fortaleza. Nico López está fora da partida. Não jogou o clássico, mas, ao final do jogo, foi reclamar da arbitragem, e recebeu o cartão amarelo. Nico estava pendurado com dois cartões, conseguiu ser suspenso. Rafael Sobis, relegado ao banco de reservas há algum tempo, já havia tomado assento no ônibus do clube, enquanto Zé Ricardo ainda conversava com os demais jogadores, no vestiário. Marcelo Lomba, um dos jogadores mais pacíficos do Inter, foi expulso após dar uma voadora no atacante Luciano. O Inter parece desorientado no que resta de ano.
— Estou chateado pela derrota, principalmente pelo que a gente planejou para o jogo e que não surtiu efeito — disse o treinador do Inter, estreante em Gre-Nal.
Zé Ricardo alegou ter deixado D'Alessandro no banco de reservas porque o camisa 10, de 38 anos de idade, ainda não tinha se recuperado da partida de quinta-feira, contra o Athletico. Daí, a opção por Neilton.
— D'Alessandro e alguns atletas apresentavam desgaste. D'Alessandro é um atleta de 38 anos, nós conversamos, e entendemos que era prudente mantê-lo no banco para que entrasse no decorrer da partida. Pretendíamos ter mais a posse de bola, como ocorreu em Salvador, e ter velocidade para trabalhar as bolas em cima dos laterais do Grêmio. Mas as coisas não aconteceram, não deram certo. Depois, com um a menos, ficou bem difícil, e acabou acontecendo a derrota - comentou Zé Ricardo.
Novato em Gre-Nais, o treinador colorado lamentou a derrota em um "campeonato à parte". Enquanto durante a semana o Grêmio enfrentou o Vasco (e ganhou por 3 a 1) com um time misto, o Inter teve força máxima no 1 a 1 em casa com o Athletico. Zé Ricardo, ainda alegando desgaste de seus atletas, advertiu que a equipe não pode voltar a jogar tão mal:
— Em clássicos, geralmente quando você erra, é punido. Nesses dias que antecederam o jogo, percebemos na cidade como os torcedores vivem o clássico. A gente sabe que é um campeonato à parte. Entendemos que o torcedor está bastante chateado. Vamos buscar explicações, fazer cobranças, por que a gente não pode repetir uma atuação tão abaixo como a gente teve. É hora de agregar, não de fragmentar o trabalho. Acima de tudo, queremos conquistar o nosso objetivo: a vaga à Libertadores. Temos todas as condições de estar lá.
Partiu do diretor-executivo do Inter, Rodrigo Caetano, a defesa do vestiário. Questionado ao final do clássico sobre Guerrero ter discutido com alguns colegas de time, sobre o cartão de Nico, e sobre Rafael Sobis, Caetano disse:
— O Guerrero se indignar, os jogadores se indignarem quando se sofre um gol, quando é no Flamengo, é capacidade de ração e porque eles estão lutando, como foi o caso do Arão e do Gabriel (no empate com o Goiás). Quando é no Inter, é porque não querem reagir. Vamos manter o mesmo padrão de avaliação. Em relação ao Nico, vamos resolver isso internamente. Sobis, não foram cinco minutos, como se disse, foi mais de meia-hora até fecharmos (no vestiário). Não tem nenhum jogador satisfeito por termos perdido o clássico. Não é normal, não é o que a gente quer. Mas transferir tudo isso para a falta de comprometimento dos jogadores é um pouco demais.
O homem forte do futebol do Inter, o vice Roberto Melo, cobrou reação imediata no Brasileirão.
— (O Grêmio) Foi superior porque não jogamos bem, em momento algum conseguimos jogar. Temos oito jogos e 30 dias até o final, e precisamos reagir, jogar mais, jogamos muito abaixo. Temos obrigação da vaga à Libertadores. Precisamos reagir. Não podemos ficar um jogo sem dar um chute a gol. Temos obrigação de reagir contra o Ceará. Temos um bom grupo, e precisamos retomar o campeonato. No final do ano a gente vê o que vai acontecer.
Até aqui, o Inter parece mais forte nos discursos do que dentro de campo.