Contra o Corinthians neste domingo, Dia dos Pais, Odair Hellmann chega ao seu jogo de número 101 no comando do Inter. Homenageado no vestiário pelos jogadores após a vitória contra o Cruzeiro na última quarta-feira (7), o treinador chegou a uma marca que o aproxima dos maiores nomes como comandantes colorados vivendo seu melhor momento.
Dos técnicos da Série A do Brasileirão é o terceiro com maior tempo no cargo, perdendo apenas para Renato Portaluppi e Rogério Ceni. Depois de 100 partidas, Odair garante que segue sendo o "Papito" e avalia sua trajetória, admitindo que ainda está em evolução, mantendo convicções, almejando seu primeiro título, reconhecendo mudanças na maneira de jogar de seu time e valorizando seus conceitos pessoais.
O que mudou do jogo "1" até o "100" em Odair Hellmann?
Para mim, que era auxiliar técnico e que tinha treinado interinamente em alguns jogos em 2015 e nos finais da Série B, quando se assume o comando e se passa a tomar as decisões, a responsabilidade passou a ser muito grande. Eu disse, lá no início do trabalho: "A sequência vai me fazer melhor". Isto aconteceu. A cada atividade que se fazia dentro do campo, a gente ia se fortalecendo, ganhando mais experiência. As coisas que se visualizava e se trabalhava passaram a acontecer. Isto gerou confiança. Fiquei mais maduro. Esta foi a caminhada.
Como foi a adaptação? Há coisas que eram dos tempos de auxiliar técnico que são mantidas até hoje?
Claro que sim, mantenho características até hoje. O auxiliar precisa ser muito próximo aos jogadores. É um cara que tem que transitar por todos os setores do clube e eu, como treinador, mantive isto pois facilita na tomada de decisões. Claro que é bem diferente ser o comandante, mas eu estive cinco anos dentro do clube e na Seleção Olímpica como auxiliar e me julgava preparado para assumir. Minha adaptação foi rápida e tive o benefício de começar com uma pré-temporada.
Taticamente o Inter passou por alterações nestes 100 jogos. Mudaram os conceitos do treinador?
Em 2018 a gente tinha uma característica, um conceito estabelecido que nos levou ao terceiro lugar no Brasileirão. Era uma equipe muito forte na marcação, com uma organização defensiva coesa e com uma transição intensa. Em algumas partidas a gente propunha jogo, mas não era uma característica daquela equipe. Agora não. Progredimos. Hoje trabalhamos a bola e não necessitamos só de contra-ataques para buscar gols ou vencer as partidas. Isto se deve às características dos atletas que temos agora. Agregamos valores. Eu trabalho de acordo com os jogadores que tenho à disposição.
Tens preferência por desenhos, seja o 4-2-3-1 ou 4-1-4-1?
Não. Isto é apenas nomenclatura. Não sou refém de números ou esquemas. Me baseio em conceitos, o que se faz com ou sem a bola.
O comentário é que o Odair hoje está menos defensivo e mais ofensivo, propondo jogo?
Estou dentro das características dos jogadores. Neste ano há a possibilidade que se trabalhe outras ideias, outras movimentações e situações de jogo. O grupo de 2018 era mais específico.
Havendo um hipotético "grupo ideal", qual o conceito preferido? O de defender ou o de propor jogo? A escola de Odair Hellmann, 100 jogos depois é a mesma da primeira partida?
Minha escola, minha busca é muito mais próxima daquilo que está acontecendo agora, mas eu sempre respeito a característica dos jogadores. Não adianta ser propositivo, com dribles e técnica apurada, se os atletas não têm característica para isto. O treinador tem que ser inteligente. Não se pode obrigar um jogador a fazer algo que não é sua especialidade. Um time que chega é aquele que potencializa as características dos seus jogadores.
A postura de Odair Hellmann à beira do campo mudou nestes 100 jogos?
Eu sempre fui intenso. Por vezes penso: "Hoje vou gritar menos, ser mais calmo". Isto dura uns 32 segundos e eu já estou agitado novamente. Sempre fui assim, mesmo nos tempos de auxiliar. Eu vivo o jogo, vivo o dia a dia dos treinos.
E a relação com a arbitragem?
Com os árbitros eu acho que mudei. No início eu era mais intempestivo nas reações, mais nervoso. Creio que melhorei, mas ainda preciso melhorar cada vez mais. Talvez até o jogo 200.
Eu sempre fui intenso. Por vezes penso: "Hoje vou gritar menos, ser mais calmo"
A vida familiar sempre teve um peso muito grande na tua carreira. Tua esposa Jaqueline vai a muitos jogos fora de Porto Alegre e esteve em Belo Horizonte no jogo 100. Algum simbolismo?
Ela também chegou aos 100 jogos porque, quando chego em casa, ela é que me aguenta (risos). Sempre foi muito presente, bem como meus filhos. A ida a Belo Horizonte não foi pela marca, mas porque é comum me acompanhar quando pode.
Cem jogos depois, Odair Hellmann segue sendo o "Papito"?
Claro. Um apelido nada significa em relação à postura e ao caráter dentro da relação. São atitudes e os exemplos é que fazem a diferença. Minha relação vai estar ligada ao respeito mútuo e sempre tive boas relações pessoais, independentemente de ser chamado de Odair ou Papito.
Por falar em relação, é muito importante estabelecer num grupo como o do Inter ter sintonia com D'Alessandro por todo o significado que ele tem. Isto parece ter sido obtido na plenitude entre vocês.
Esta é uma relação importante que eu tenho, consolidada, afirmada e de respeito mútuo. Já era assim desde quando eu era auxiliar. Claro que, quando a gente se torna treinador, precisa tomar algumas decisões diferentes e necessárias. Ele é um grande exemplo em todos os sentidos, jogando ou não. É um cara muito importante para nós. Encontramos juntos os melhores caminhos. O objetivo do D'Alessandro e o meu são os mesmos.
Odair Hellmann já sonha com o jogo 200?
Eu não fico pensando em chegar ao 105 ou 110. Eu queria ganhar o jogo 100 contra o Cruzeiro e agora quero vencer o 101 contra o Corinthians para buscar novas fases, títulos. Isto é que leva para mais jogos e novas marcas. O que gerou os primeiros 100 foi o bom trabalho.
Completar 100 jogos é bom, mas ainda falta a conquista de um título?
A busca é esta. Neste ano estamos nas fases decisivas para isto. Fizemos uma construção desde 2017 para que o estágio atual fosse atingido. Agora estamos em busca do algo mais.
Incomoda quando fazem cobrança ou crítica com a afirmação "ainda não ganhou nada"?
Não, porque eu vou ganhar. Há profissionais que tiveram 25 anos de carreira e foram ganhar nos últimos três. E foram grandes profissionais do futebol brasileiro.
Há profissionais que tiveram 25 anos de carreira e foram ganhar nos últimos três.
O técnico "cria casca" depois de 100 jogos contra críticas ou cobranças como a de não ganhar fora de casa no Brasileirão?
Sim. Com equilíbrio e convicção. Não pode se empolgar quando se ganha uma partida ou se passa de uma fase numa competição e também não tem que achar que está tudo errado quando se perde ou na falta de vitórias fora de casa no Brasileirão pois o inverso está acontecendo na Libertadores e na Copa do Brasil.