Na semana que a Dupla retoma o principal torneio de clubes do continente, GaúchaZH tem apresentado a série Histórias de Libertadores, ouvindo personagens que marcaram épocas importantes para o futebol gaúcho. São textos em primeira pessoa, extraídos a partir de relatos dos entrevistados. Já apresentamos os relatos dos tricolores Osvaldo, meia campeão em 1983, e do goleiro Murilo, que atuou no bi em 1995. Das lembranças coloradas, Tinga contou sua história no final de semana e nesta terça-feira (23) é a vez de Michel, atacante do Inter na primeiro conquista, em 2006. O encerramento será quarta-feira (24), com o ex-árbitro Renato Marsiglia.
Libertadores — Primeira fase — 22/3/2006
Inter 3x2 Pumas
Michel era o xodó de Abel Braga. E só dele. Na campanha da Libertadores de 2006, o ex-atacante chegou a ser vaiado ao ter o nome anunciado no sistema de som. Recebeu até uma música especial da torcida: "Ei, Abel, tira o Michel". Mas o jogador, ao longo da temporada, mostrou sua importância. Na competição continental, sua maior contribuição foi o gol que deu início à reação colorada diante do Pumas. Após sair perdendo por 2 a 0, a equipe gaúcha virou para 3 a 2. Michel fez o primeiro.
Ei, Abel, bota o Michel!
"Cheguei no Inter com bagagem. Estava com 26 anos, já tinha experiência de Brasileirão, de jogar na Coreia do Sul, de fazer parte do grupo do Juventude campeão da Copa do Brasil. Até acho que o fato de vir do Juventude, que tinha um histórico vitorioso contra o Inter, pesava contra mim. A torcida pegava um pouco no meu pé. Isso dificultou as coisas em um tempo. Mas deu tudo certo. Hoje, só tenho a agradecer por tudo o que passou.
Tudo começou a dar certo naquele jogo com o Pumas. Saímos perdendo de 2 a 0 no primeiro tempo. Não tivemos tempo de fazer nada. Mas éramos tranquilos, estávamos bem treinados, nos conhecíamos. O objetivo era fazer o primeiro gol e tentar ganhar de qualquer forma. Nossa equipe tinha essa característica, de não desistir nunca. Dávamos o melhor sempre. Só pensávamos em ganhar.
Meu gol nasceu de uma jogada que a gente trabalhava muito com o Abel. O Iarley pegava a bola e atravessava para o lateral cruzar. Foi rasteiro, o Fernandão tentou até de cabeça no chão, mas eu que empurrei para dentro. Era importante para poder ter a reviravolta. Com a força que a gente tinha, sabia que podíamos virar. Foi na raça mesmo. Depois, ainda tive a oportunidade de fazer a jogada do segundo gol, do Fernandão, e depois o Gabiru virou. O legal é que aquele time era muito focado, de alto nível.
Foi um dos gols mais importantes da Libertadores. Para mim, o maior. Fiz contra o Nacional, contra o Maracaibo, mas pelas circunstâncias, pelo placar, pela complicação de sair atrás, em casa, aquele foi o início da reação. Foi o mais importante.
Eu tinha começado o ano bem, fui um dos goleadores do Inter no Gauchão. Depois veio a Libertadores, sabíamos que podíamos ganhar, era nossa prioridade. A direção, os colegas, a comissão, todos sabiam que eu era importante para o grupo, para os esquemas, contribuía em três ou quatro esquemas que o Abel tinha. O trabalho do Abel é fantástico, ainda mais em gestão de grupo, de atleta.
Mas é aquilo que falei do Juventude, tinha resistência. E torcida reclamar é normal, faz parte do futebol. Depois alguns me pediram desculpas. Teve até alguns que gritaram: "Ei, Abel, bota o Michel!". Vai vendo. (risos)