No dia do aniversário de 50 anos do Estádio Beira-Rio, o Inter receberá um presente especial para encorpar o time que decidirá com o Caxias, neste sábado (6), às 16h30min, a passagem à final do Gauchão: Paolo Guerrero. A mais badalada contratação do clube desde Diego Forlán, em 2012, o atacante peruano finalmente está livre para estrear.
Apresentado pelo Inter em 15 de agosto do ano passado, em um Beira-Rio que contou com a presença de mais de 5 mil torcedores, Guerrero viu, oito dias depois de sua apoteótica recepção, a liminar que assegurava seguir trabalhando suspensa e, com ela, a retomada da sanção por doping (foi encontrada benzoilecgonina, um metabólico da cocaína, em sua urina) até 5 de abril de 2019. De lá para cá, se passaram 32 semanas de silêncio ou oito meses, trabalhos exaustivo e um jogo-treino, até que, na entrevista coletiva após o empate em 2 a 2 com o River Plate, o técnico Odair Hellmann sentenciou:
— Guerrero estreia sábado.
E para o jogo 1 do Guerrero colorado, o Inter fez um vídeo promocional. Nele, o atacante surge em um Beira-Rio à noite, ingressa no campo sozinho, com a bola sob o braço e, olhando o estádio em 360°, diz:
— Esperei muito por este momento. Me preparei, treinei forte. Sonhei com esse dia. Agora, chegou a hora. Quero honrar esta camisa e dar alegrias à torcida colorada. Estou pronto para a luta.
A simples frase de Odair Hellmann anunciando a presença de Guerrero em campo já colocará pelo menos mais 15 mil torcedores no Beira-Rio. Com uma formação quase toda reserva em campo, a fim de poupar o time principal para o jogo de terça-feira, diante do Palestino, pela Libertadores, apontava-se para cerca de 15 mil torcedores o público para Inter e Caxias — depois de vencer em Caxias do Sul por 2 a 1, até uma derrota por 1 a 0 conduz o Inter à final.
— Agora, deveremos ter pelo menos 30 mil torcedores na partida — aposta o vice de administração e finanças do Inter, Alessandro Barcellos.
Paolo Guerrero seguirá guardado como um segredo de Estado pelo Inter. Nada de entrevistas antes da estreia, nada de badalações. Mas pessoas próximas ao atacante garantem que ele está com o tesão de um juvenil para enfrentar o Caxias.
Definições como "guri ganhando um brinquedo novo", "aliviado", "feliz da vida" e "focado como nunca" são utilizadas para tentar traduzir a vontade de Guerrero vestir a camisa 9 do Inter pela primeira vez. Curiosamente, mesmo sem jogar uma partida oficial sequer pelo clube, a número 9 é a segunda camisa do peruano no Inter. A primeira foi a 79, uma vez que ele deveria ter estreado no Brasileirão do ano passado, e o 79 é uma alusão ao ano do mais recente Campeonato Brasileiro conquistado pelo clube, 40 anos atrás.
— Essa foi a maior recepção da minha carreira — disse Guerrero, ao ser apresentado aos torcedores no Beira-Rio. — É um privilégio vestir a camisa do Inter. Campeão do mundo, isso satisfaz qualquer atleta. Eu tenho muitos desafios. Preciso me encaixar em um time que está muito bem. Quero retribuir esse carinho dentro do campo para a torcida — completou o atacante.
Com uma suspensão severa, Guerrero sequer podia treinar no CT Parque Gigante ou mesmo vestir o uniforme do Inter. Isto só foi possível a partir de 5 de fevereiro — dois meses antes do fim da pena.
Desde o seu retorno ao clube, ele passou a realizar uma pré-temporada particular. Ainda que tenha treinado na capital peruana, Lima, durante este período em que estava proibido até mesmo de ocupar as dependências do clube, os trabalhos mais fortes passaram a ser em Porto Alegre.
— Neste período de treinos, Guerrero aumentou a massa magra, melhorou o percentual de gordura. É um atleta que se destaca pela força física, além da qualidade técnica, e que já está em condições de jogar. É claro que para um atleta que não joga há mais de oito meses, ele vai precisar de uma sequência de partidas, para que readquira a melhor forma competitiva. Tem condições de suportar 65, 70 minutos de jogo, tranquilamente — afirmou o preparador físico do Inter, Cristiano Nunes.
— Talvez ele não inicie todos os jogos, até para termos um controle sobre o seu desgaste, mas Guerrero já tem, sim, total condição de começar uma partida. Ele tem uma condição técnica diferenciada e se utiliza muito da parte física também. Os adversários sabem disso e farão uma marcação implacável. Sabemos que a marcação sobre ele será dura, daí, a necessidade de estar em ótima condição física. Guerrero precisará de seis a sete oficiais, aumentando a minutagem gradativamente, para que possa render o que desejamos — concluiu Nunes.
Afora os treinos fechados no Beira-Rio, a amostra mais competitiva que se teve até agora de Guerrero foi o jogo-treino contra o Sapucaiense. Jogou 70 minutos (o tempo de duração de todo o jogo), concluiu duas vezes ao gol e marcou um gol, que foi anulado devido a um toque de mão no lançamento para a área. Teve a seu lado ora Tréllez, ora Jonatan Alvez. Diante do Caxias, jogará com Sarrafiore e Guilherme Parede.
— Guerrero não vai acrescentar apenas na malandragem, mas também na experiência do time. É um jogador de muita qualidade. Quem está acompanhando os treinamentos sabe disso. É um jogador de muita força, tem cabeceio e vai nos dar, no momento em que tiver sequência, um acréscimo muito grande, principalmente no momento do desafogo — comentou o vice de futebol Roberto Melo, após o 2 a 2 com o River Plate. — É um jogador que adversários, e até a arbitragem, respeitam — agregou o dirigente.
Além dos torcedores, os jogadores também parecem ansiosos por ver Guerrero, enfim, em campo. O capitão do Inter, Rodrigo Dourado, é um deles:
— Guerrero está muito motivado. Faz uns 15 dias que estamos brincando com ele que faltava pouco tempo (para a estreia). O Guerrero dispensa comentários. É um grande jogador, que vai nos ajudar muito neste ano. Esperamos que no sábado e, depois, ao longo da temporada, ele possa nos ajudar e mostrar o grande futebol que tem.
Mas, além dos colorados, a seleção peruana conta com o retorno de seu maior artilheiro. Com 36 gols, Guerrero é o histórico goleador da equipe nacional. E é tido como convocação certa para a Copa América no Brasil, entre junho e julho.
— A seleção sentiu muito a ausência de Guerrero. Após o Mundial, Ricardo Gareca testou muitos atacantes na equipe, o que apenas deixou claro que Guerrero ainda não tem um substituto na seleção. Por isso, Gareca irá ao Brasil para vê-lo jogar pleo Inter. E, certamente, convocá-lo para a Copa América — afirmou Franz Tamayo, repórter do Portal Zona Fútbol, de Lima.
Diante do Caxias, a Era Guerrero tá início no cinquentenário Beira-Rio.