A partida deste domingo (17), no Beira-Rio, quando o Inter receberá o Caxias, poderá ser emblemática para Neilton Meira Mestzk. Mais destacado entre os reforços colorados para a temporada, o atacante começará como titular em frente ao torcedor. Além disso, terá motivação extra: irá a campo comemorando os seus 25 anos de idade.
O guri nascido em Nanuque, interior de Minas Gerais, e criado em uma região pobre de Diadema, em São Paulo, hoje exibe no antebraço esquerdo uma de suas muitas a tatuagens. Esta, a de um sonho realizado: um menino com a bola sob o pé esquerdo, em um campinho de futebol, tendo um paredão de casebres a sua frente. Logo abaixo da tatuagem, um Apple Watch ornamenta o braço.
A maturidade também veio na forma capilar. O Neilton do Vitória, dos cabelos descoloridos, deu lugar a um corte à la Víctor Cuesta, raspado dos lados, mais sério. Quem gostou mais, conta Neilton, foi o pai, Wanderley, cabeleireiro e dono de uma barbearia em São Bernardo do Campo, na região metropolitana de São Paulo.
— Daquele amarelo ele não gostava. Aliás, ninguém gostava, só eu — lembra Neilton.
Confira os principais trechos da entrevista com o atacante do Inter:
Você fez o seu melhor jogo pelo Inter diante do Juventude. Já te considera bem entrosado com o time?
Sinto que estou evoluindo a cada jogo, criando mais a cada partida, me doando mais sempre. Quero ajudar o time a crescer logo.
Você jogou todas as partidas até aqui. Você está confortável com o seu posicionamento em campo?
Tive uma conversa com Odair logo que cheguei. Me perguntou sobre posicionamento em campo. Eu estava atuando mais por dentro no Vitória, por quase dois anos, e agora estou voltando à minha posição original (pela esquerda do ataque). No Vitória, eu tinha mais liberdade para me movimentar. Aqui, preciso me preocupar mais com o posicionamento.
A ânsia do Santos por encontrar um novo Neymar, e você foi apontado como um dos sucessores, atrapalhou o seu início de carreira (antes de responder, Neilton, visivelmente desconfortável, chega a mudar de expressão, tirando o sorriso do rosto e franzindo o cenho)?
De forma alguma. Minha saída do Santos se deu devido a questões contratuais, não pelo futebol. Isso já ficou para trás, no passado. Estou sendo reconhecido como Neilton. Quero ser reconhecido como Neilton e deixar o resto para trás. Daqui para a frente, quero ser reconhecido como Neilton.
Você deixou o Santos e rodou por Cruzeiro, Botafogo, São Paulo. O seu melhor momento antes do Vitória foi no Rio?
Fui crescendo a cada temporada, ficando mais experiente. Surgi muito novo (foi promovido ao time principal do Santos com 19 anos) e, agora, maduro, no Inter, espero que este seja o meu melhor momento.
Considera essa oportunidade no Inter como a nova grande chance da sua carreira?
Quero conquistar coisas com o Inter, deixar acontecer naturalmente. Sei que estou vestindo a camisa de um clube gigante, o que é uma motivação a mais. Sei que, trabalhando para o Inter, as coisas vão acontecer.
Você é o líder em desarmes no Gauchão. Recuperar a bola é algo novo na sua carreira?
É uma coisa que sempre fiz. Mas estou me adaptando à nova função, e Odair pede muito isso: marcar sem a bola, ajudar a equipe. Tenho feito isso.
Pelo Cruzeiro, você foi inscrito na Libertadores, mas não jogou. Está ansioso pela estreia?
Todos os clubes têm o desejo de vencer. Isso não vai mudar, estamos todos muito motivados para esta Libertadores. Mas temos de jogar o Gauchão antes. Queremos este título também.
O Gauchão é muito diferente do Campeonato Baiano? É uma boa preparação para a Libertadores?
São dois Estaduais muito competitivos. Não temos moleza no Interior. Estamos buscando ritmo de jogo em um começo de temporada, e é, sim, um grande teste para a Libertadores. O Inter não está acostumado a perder. Tiramos lições destas derrotas no Gauchão. E estamos amadurecendo como equipe.
No Vitória, o seu cabelo era descolorido, um descolorido fugindo para o amarelão. Por que a mudança de visual?
Sempre usei assim, como está agora. No ano passado foi que mudei. O normal é assim. No ano passado eu estava de férias, pintei, e me apresentei assim ao Vitória. E fui pintando. Antes, era meu pai quem cortava o meu cabelo. Ele é cabeleireiro em São Bernardo do Campo. E ele não gostava do amarelo (risos).
Você jogou o "Ba-Vi da Paz", o clássico que sequer terminou no ano passado, devido às expulsões do Vitória.
É triste de falar. Ficou feio para o futebol, ainda mais para a meninada que acompanha o futebol, as mães, espero que não aconteça mais. Foi desagradável e deselegante.
Como a tragédia do Ninho do Urubu te tocou?
Revi minha vida ali. São garotos lutando pelo sonho de jogar. Morei em alojamento também. Me lembrei de tudo, na hora. Tudo pelo que passei para realizar meu sonho. Espero que Deus conforte a todos. Foi uma tragédia terrível. Morei desde os 13 anos em alojamento. Não gostava de faltar a treinos. Então, muitas vezes, eu pegava três ônibus por dia para treinar. Com oito anos de idade, ia sozinho aos treinos. É preciso ter perseverança. Estes meninos estavam tentando realizar os seus sonhos.
O Inter tem dificuldades financeiras para contratar. Enquanto isso, o Grêmio anuncia Vizeu e Tardelli. A diferença entre os dois times é grande?
Não. De forma alguma. Se eles têm Tardelli, nós temos Guerrero, contratamos Sobis. Nossa equipe é qualificada para brigar pelos títulos. Não vejo diferença.
Você já participou de grandes clássicos Brasil afora. Agora, o Gre-Nal se aproxima. Está ansioso?
Quem não conhece a história do Gre-Nal? É um clássico com uma rivalidade enorme. Mas, enquanto ele não chega, quero pensar jogo a jogo.