Rafael Sobis não é mais aquele menino de cabelos platinados e aparelho nos dentes das conquistas da Libertadores pelo Inter de 2006 e 2010. O atacante que desembarcou em Porto Alegre neste ano e foi apresentado oficialmente no fim da manhã de terça-feira (8) traz experiência na bagagem. A rodagem por clubes como Bétis-ESP, Al-Jazira-EAU, Fluminense, Tigres-MEX e Cruzeiro o fizeram amadurecer. Pode-se acrescentar a essa lista também um ídolo e amigo do atacante. Fernandão teve papel decisivo na construção dessa versão madura de Rafael Sobis.
— Ele foi um pai para mim – resumiu Sobis na sala de conferências do Beira-Rio, sobre a influência do eterno capitão colorado em sua vida. – Se eu puder fazer 10% (para os jovens do elenco) do que o Fernando fez para mim, está ótimo. Muito do pai e da pessoa que sou devo a ele. Acho que ele está feliz por tudo que está acontecendo, tomara que eu possa passar um pouquinho disso aos meus companheiros — emendou o atacante, pai do Rafael e do Nicholas.
Essa mesma frase já havia sido dita por Sobis a Fernanda Costa, viúva de Fernandão. Entre muitas lágrimas, é verdade. Sempre que o assunto F9 entra na conversa, o novo reforço do Inter se emociona. Pouco antes do jogo que celebrava os 10 anos da conquista da América em 2006 – organizado por Tinga, no qual Enzo, filho de Fernandão, entrou em campo e recebeu a braçadeira que era usada pelo pai. Na oportunidade, Fernanda e Sobis trocaram um longo abraço. Era a primeira vez que os dois se viam desde o acidente aéreo de 7 de junho de 2014.
— O Fernando o tinha como um filho. Para se ter uma ideia, quando soube que o Rafa estava voltando, contei aos meus filhos. A Eloá chegou a chorar quando soube. Parece que as pessoas especiais para o Fernando o carregam dentro delas — disse Fernanda. — Pelo amor que o Rafa tem pelo Inter, vai fazer tudo o que puder para ajudar. Tem caráter, é uma pessoa do bem — completou.
É nessa linha que Sobis pretende construir sua terceira passagem pelo Inter. Agora, no grupo dos veteranos:
— Preciso ser exemplo, como sou mais velho — disse, sem perder o sorriso com jeito adolescente.
A rodagem, porém, não impediu que Sobis fosse tocado no coração ao receber a camisa 23 do Inter na apresentação. Antes colocá-la por cima do uniforme laranja de treino, virou-se para Roberto Melo, vice de futebol, e reagiu apontando para o braço.
– Olha aqui – disse, mostrando os pelos arrepiados.
O novo contratado, então, respirou fundo e deu início ao novo capítulo da sua terceira passagem pelo Beira-Rio. A solenidade, que teve também a presença do presidente Marcelo Medeiros e do diretor-executivo Rodrigo Caetano, mostrou o tamanho do reforço que o jogador significa para o clube. O primeiro pedido ao torcedor foi para que deixe na galeria da história as conquistas de 2006 e 2010. A meta de Sobis é começar de novo, como se fosse do zero.
– Quero dizer que venho com muita fome. Quero que lembrem de tudo nas fotos. Hoje, venho para escrever uma nova história. No que depender de mim, vamos levantar um título – garantiu.
Na entrevista, Sobis reiterou o esforço para poder voltar ao Inter e dos obstáculos superados:
— Fiz de tudo para estar aqui. O clube está preparado, está muito bem amparado. As coisas andam aqui de maravilha. Passou a fase de se reafirmar. Vamos sonhar e pensar grande para fazer o máximo que o torcedor pede.
Se a cena da bandeira, gravada na memória dos torcedores em 2006 e 2010, se repetirá? Depende do momento.
— Todo mundo gravou aquela cena. Mas foi muito natural. O que espero é levantar taças.