O sucesso de Alma Gêmea no Vale a Pena Ver de Novo deixou o público curioso a respeito da próxima trama do horário, afinal, teria que ser tão marcante quanto a história de Walcyr Carrasco. Mas ninguém imaginava que a escolhida seria Tieta, novela exibida em 1989, e que até hoje é lembrada com carinho pelos noveleiros.
Baseada no livro de Jorge Amado (1912-2001), a trama de Aguinaldo Silva, Ricardo Linhares e Ana Maria Moretzsohn trazia uma exuberante Betty Faria no papel-título, mas é lembrada também por personagens como Perpétua (Joana Fomm), Osnar (José Mayer) e Maria Imaculada (Luciana Braga), entre tantos outros que entraram para a história da teledramaturgia.
Memórias
Tenho poucas memórias da primeira exibição, pois era muito pequena e, na época, criança ia pra cama antes da novela das oito _ sim, a novela começava por volta das 20h. O que me lembro possivelmente é da primeira reprise no Vale a Pena Ver de Novo, aí sim, em um horário próprio para menores. Lembro do pavor que eu tinha da "mulher de branco", meu primeiro trauma televisivo. Sobretudo, lembro da força de Tieta, uma personagem empoderada _ em uma época que nem havia esse adjetivo _ e dona de si, com discursos muito à frente de seu tempo. A protagonista pregava a liberdade sexual, o direito de amar quem e quando quiser, a independência das mulheres. Temas espinhosos como pedofilia, incesto e ninfomania permeavam a trama. Isadora Ribeiro aparecia nua na abertura, coisa impensável nos dias de hoje. Exibir uma novela transgressora como essa nas tardes da Globo pode ser um alento em meio à onda conservadora atual. Mesmo com os necessários cortes que costumam ser feitos para adequar uma novela ao horário, Tieta vai ser um tapa na cara de muita gente.