O Inter perdeu para o São José no calor do Passo D'Areia apresentando um desempenho aquém do esperado e despertando em parte da torcida uma preocupação, ao meu ver, desnecessária. Claro, como o próprio Odair falou, perder nunca é normal. Ainda mais duas vezes seguidas.
Mas assim que o time voltar a encaixar, a qualidade tática e técnica deve se sobressair e devemos ter a dupla Gre-Nal disputando mais uma final do Gauchão.
Mas após três partidas, já podemos observar alguns padrões colorados para tentar entender por que não a equipe não está alcançando o desempenho e os resultados esperados. É importante ressaltar que o trabalho de Odair já tem mais de um ano e é passível de criticas, como o de qualquer outro treinador. O segundo ano de um técnico tende a ser mais difícil.
Por sorte, grande parte do grupo se manteve e as contratações que chegaram permitem a Odair ter diferentes opções de montar estratégias, já que são – em sua maioria – atletas polivalentes e multifuncionais. Mas afinal, o que está acontecendo com o Inter de Odair Hellmann?
Um modelo baseado na imposição física
Ano passado, o modelo de jogo do Inter era baseado nas transições rápidas, verticais e de muita imposição física. Havia em Leandro Damião a figura do centroavante de referência, que dava profundidade e centralizava as jogadas de ataque. As plataformas 4-1-4-1, 4-3-3 e 4-1-3-2 foram as mais utilizadas.
Posso estar enganado, mas sinto que Odair pretende mudar o modelo de jogo este ano. Transformar o Inter em um time mais associativo, de construção das chances através da posse da bola, de triangulações e sem depender de uma figura mais fixa na referência.
Para que isso se torne realidade, demanda jogadores que tenham características que viabilizem esse tipo de jogo, além de tempo para treinar, internalizar e coordenar os movimentos. Não é fácil e não acontece do dia para a noite.
Por ser começo de temporada, é impossível o time imprimir intensidade nas suas dinâmicas durante os 90 minutos. O Inter precisa estar voando em abril e maio, não em janeiro. Só no jogo contra o Pelotas a equipe jogou com mais intensidade, como mostram os mapas de calor dos jogos (abaixo).
Alguns atletas que vieram se encaixam neste novo perfil de troca de passes: Rafael Sobis, Neilton, Rodrigo Lindoso e os já da casa Rithely e Sarrafiore. São jogadores inteligentes, que sabem ler o contexto da partida e que também demandam um jogo mais associativo.
Estadual serve para testar e errar
Não há forma de construir um novo modelo de jogo sem testar novidades em partidas oficiais. E todo teste é passível de erro, de não encaixar e de dar errado. Afinal, os acertos e encaixes acontecem a partir das correções destes erros, até que as repetições comecem a dar certo.
Vendo os posicionamentos médios do Inter nas três partidas de 2019, foram três plataformas diferentes nos jogos, com três escalações diferentes. Se a ideia é buscar um modelo de jogo novo, é óbvio que o Inter não irá jogar bem os 90 minutos em todas as partidas.
A ausência de intensidade traz junto a falta de roubadas de bola no campo do adversário. E essa era uma das principais características do Inter em 2018. Veja no mapa de desarmes contra que foram apenas cinco tentativas de desarme no campo do São José (mesmo que o aproveitamento tenha sido de 100%).
Por último, a questão da criação de chances e finalizações: o Inter criou 19 chances de gol nos três jogos, sendo 12 delas acontecendo na zona mais perigosa do jogo, o chamado "funil". E conseguiu finalizar 35 vezes a gol, acertando 11 e errando 24 (31% de aproveitamento). A taxa de conversão está realmente bem baixa: das 11 finalizações certas, apenas um gol convertido (9%).
Resumindo: não vejo motivos para desespero por parte da torcida com colorada. O treinador tem o direito de mudar o jeito do seu time jogar e recebeu material humano que permite isso. Mas não existe mágica no futebol, tudo demanda treino, trabalho e repetição.
O Inter ainda vai jogar mal, muitos atletas serão vaiados e mesmo que não alcance a final do Gauchão, o que importa é montar uma equipe competitiva e que tenha recursos técnicos e táticos para as competições realmente importantes do ano. E isso, aparentemente, parece que vai acontecer.
Gráficos, estatísticas e videos são da InStat, plataforma de dados de futebol.