Candidatos à presidência do Inter, Marcelo Medeiros e Luciano Davi disputam neste sábado (8), das 9h às 17h, a preferência de 64.389 sócios aptos a votar. Os dois atuaram juntos em gestões anteriores, mas acabaram em movimentos políticos distintos: Medeiros é do Movimento Inter Grande; Davi, do Inove Inter. Em comum entre ambos, o desejo por melhorar a arrecadação e encontrar novas fontes de receita. Mas discordam em pontos importantes, como a administração do futebol.
Confira a entrevista com Marcelo Medeiros
É possível gerar novas receitas?
É possível, sim. No ano que vem, tem a perspectiva de receitas novas importantes. Primeiro esse contrato de transmissão dos direitos internacionais, que o clube já fez com a CBF. Já entra um valor em dezembro e em torno de R$ 6 milhões para 2019. Fizemos uma parceria parecida com os mesmos agentes da loteria que o nosso rival já implantou (Grêmio Mais). Estamos aguardando o referendo do sócio para dar continuidade. Mas a receita mais significativa serão as de patrocínio e televisionamento pelo fato de estarmos na Libertadores. As informações que obtivemos é de que esse valor vai triplicar. Já fizemos movimentos junto a Flamengo, Grêmio e São Paulo junto à CBF, para que ela leve a importância do Brasil ao futebol sul-americano.
A oposição tem batido forte na questão financeira do clube. Como estão as finanças do Inter?
Muito melhor do que em 2017 e muito melhor do que no início de 2018. O Inter está totalmente dentro da regra do Profut (programa que refinancia dívidas dos clubes), readquiriu a credibilidade perante as instituições financeiras, do esporte e do mercado do futebol. Óbvio que, se vender o jogador, terminaremos o ano no positivo. São ativos do clube, que estão sendo valorizados agora. E essa premiação que ocorreu recentemente, colocando atletas do Inter na seleção do Campeonato Brasileiro pela CBF e na Bola de Prata mostram que estão valorizados. Tirando Palmeiras e Flamengo, os clubes estão em condições parecidas. Quem pretender postular a presidência do Inter precisa estar preparado para isso.
A política dos clubes mostra que é importante vender alguém na temporada. Acontece o mesmo com o Inter?
A América do Sul é formadora de atleta. A Europa e a China são compradoras. A venda de atletas é uma fonte de receita, é natural que isso aconteça atualmente. Valdomiro foi um atleta que fez a vida no Inter, mas isso não é mais assim. Temos a exceção, D'Alessandro, que está há 10 temporadas no Inter. Formando bons jogadores, vende bons jogadores e tem boas receitas.
Quando a base era no complexo do Beira-Rio, coincidentemente ou não, se formou mais jogadores. Qual ideia para aproximar a base do time principal?
Para quem viveu e acompanhou o complexo Beira-Rio, no início, os meninos moravam no lado oeste do estádio. Treinavam nos campos C, D e nos Eucaliptos. Ali, o treinador do principal estava próximo, assistia aos jogadores. Mas isso é uma meia verdade. O Inter ser, de novo, palco da Copa do Mundo levou a um processo de remodelação do estádio, levou a base para Alvorada. A estrutura lá é muito melhor do que a que tínhamos aqui. Qual a ideia de aperfeiçoar isso? A Double Pass é um projeto de aprimoramento, que vai fazer não só a proximidade e a transição desses atletas da base para o profissional, como um processo de seleção para base. Quando chegamos ao Inter, não eram só as finanças, o futebol e a questão anímica da torcida que estavam depreciadas. A base também sofreu, e para recuperar o trabalho com meninos demora. Tem de ter persistência. A nossa ideia é ampliar, fazer mais um campo aqui no CT Parque Gigante, para que o sub-20 treine com o profissional pelos próximos dois anos.
Como está o CT de Guaíba?
Estamos trabalhando neste sentido. O Grêmio tem a mesma situação, que é uma área doada. Estamos trabalhando junto aos órgãos públicos para que seja doação definitiva. Captamos recursos estrangeiros, mas indicaria um endividamento e o Inter não está em situação financeira que permita isso. Mas todas as licenças, projetos de execução, tudo está encaminhado. Havendo essa alteração, já temos um projeto de captação de recursos públicos, podemos trabalhar e desenvolver o CT de Guaíba.
O senhor mencionou que a base também sofreu na queda do time para a Série B. Explica o motivo de ninguém ter sido aproveitado do time campeão de Aspirantes?
Também é meia verdade. Lançar um menino em um time desorganizado, ou que não seja extraclasse, em um campeonato como a Segunda Divisão, em que a força é alta e o nível técnico é baixo, corre o risco de não dar certo. Em 2016, inúmeros jogadores da base entraram em um time que teve cinco treinadores, todos eles com características diferentes. E pela desorganização, nenhum teve sequência, com exceção do Dourado e do William, que foi vendido. Tem de ter muito cuidado nesse tipo de processo. No nosso entendimento, o melhor cenário para lançar é o Gauchão. Hoje, no grupo, temos 10 jogadores da base no grupo principal.
Serão mais de 70 jogos no ano que vem, o que indica a necessidade de um grupo maior. Onde estão as carências?
A gente está feliz por toda a caminhada e por ter colocado o Inter de novo no cenário internacional. Mas a gente quer mais. E poderia ter feito mais. Temos um diagnóstico muito preciso de onde erramos, onde poderíamos ter melhor aproveitamento e qual setor tem mais carência. Sempre trabalhamos de maneira muito silenciosa. Por exemplo, quando começou o Brasileirão, a primeira coisa que analisamos foi a tabela. E trabalhamos nisso. Como passar sem entrar em uma zona de risco e ter uma pressão desnecessária já no começo. Estamos projetando 2019, não só no grupo, mas no número de jogos. Planejamento, pré-temporada, tamanho do grupo... Tudo está sendo trabalhado com Rodrigo (Caetano), (Roberto) Melo, e todo o pessoal de captação.
Alguma contratação está encaminhada?
Um processo eleitoral não para um clube, nem pode parar. Mas a gente procura não ligar o nome de um profissional com a nossa continuidade. É um desrespeito com o sócio. Roberto (Melo) e Rodrigo (Caetano) estão trabalhando. E, se der tudo certo, a gente já pode anunciar semana que vem.
Sua gestão devolveu o Inter à Libertadores, mas não conquistou títulos. É uma frustração?
Tenho uma frustração de não ter conseguido ser campeão gaúcho no ano passado. Nosso rival tinha ficado para trás, o Novo Hamburgo fez excelente campanha. Pessoalmente teria um significado especial pra mim, porque o primeiro hepta teve uma dobradinha com Heraldo Herrmann, pai do João Patrício (atual vice) como presidente, e meu pai, Gilberto Medeiros, vice. Se tivéssemos repetido, ficaríamos orgulhosos. Ele foi dois anos presidente do Inter e terminou o Brasileiro como vice e não foi para a Libertadores. E eu termino o meu mandato na terceira colocação e com vaga. Então, acho que o colorado que começou a sonhar mais alto pode ter os seus sonhos realizados em 2019,
Vimos, recentemente, uma polêmica do centroavante Leandro Damião com um jornalista e influenciador digital do clube. Pareceu, inclusive, recado da direção para o jogador.
(Fabiano) Baldasso é um prestador de serviço da comunicação social, não é funcionário. Ele é jornalista, não tem vínculo com o clube. O que ele faz é acompanhar a comunicação social em eventos de consulado. Muitas vezes, a convite dos próprios consulados. Ele abriu o seu coloradismo, uma opção que nem todos os jornalistas fazem. E começou a trabalhar nesse sentido. Ele não fala em nome do clube, não é funcionário. Particularmente, não foi feliz nessa discussão com o Damião. Mandei mensagens com os jogadores dizendo que não temos nada a ver com isso. A responsabilidade é única e exclusivamente dele.
Qual a primeira medida, a mais urgente, para 1º de janeiro?
Não vai ser em 1º de janeiro, vai ser em 9 de dezembro. A medida é dar continuidade. A gente acredita na continuidade, e a história do Inter mostra isso. Aconteceu nos anos 1970, quando fomos campeões brasileiros, depois em 2006, quando ganhamos o mundo. Em 2014, houve ruptura e deu no que deu. Estamos pregando que o sócio invista nessa continuidade. E dia 9 vamos dar continuidade, reforçar a equipe, receitas. É isso, vamos trabalhar.