Dos milhares de jogadores que algum dia vestiram a camisa do Inter em quase 110 anos de história, só 10 fizeram mais gols do que Leandro Damião. Ele chegou a 108 com o que marcou diante do América-MG na quinta-feira à noite. Tornou-se o goleador da temporada e, a quatro jogos do fim – do ano e de seu contrato –, reforçou sua importância no time.
O Damião que chega a novembro é um Damião imprescindível a Odair Hellmann, outro que está em vias de renovar contrato. Com ele, o time ganha profundidade de ataque na questão tática. Ganha um zagueiro que veste a camisa 9 na hora de dar combate aos adversários. E ganha um goleador implacável, que garante um gol a cada 71 minutos.
– Damião vem passando por um processo, está conseguindo jogar, mesmo com dores. Mas tem sido feliz e marcado os gols – elogiou o técnico.
Mas esse jogador só apareceu no último trimestre. Dos 11 gols que fez no ano, sete saíram nas últimas sete partidas. O centroavante do primeiro semestre era um arremedo do artilheiro que ocupa o top 10 da história colorada, cujo nome está escrito ao lado de lendas como o Príncipe Jajá, Adãozinho, Tesourinha, Valdomiro, Larry, Claudiomiro e Carlitos. As lesões o derrubaram e impediram seu 2018 de ser tão positivo como 2011 e 2012, por exemplo. Em um determinado momento, a situação foi tão grave que a direção investiu em dois centroavantes badalados: o uruguaio Jonatan Alvez, destaque na Libertadores do ano passado (mas que, até agora, no Inter, não deu a resposta esperada), e o peruano Paolo Guerrero, que às vésperas de estrear, viu ser derrubado o efeito suspensivo que permitia jogar, apesar de uma condenação por doping, da qual alega inocência (e tem apoio de seu país inteiro para isso).
Não foram poucas: Damião teve problemas musculares, sofreu com pancadas e correu até risco de cirurgia por causa de dores nas costas, quase uma hérnia de disco. Um caso raro em atletas profissionais. Mas que, finalmente, não o incomoda.
– Essa dor não sinto mais. Tenho feito reforço certinho, me cuido bastante. Preciso agradecer ao departamento médico pela atenção que me deu, pelo carinho que me tratou, em um caso que nunca tinha visto no futebol brasileiro – disse o centroavante.
Curado, em forma e na fase goleadora, Damião vira o centro de uma negociação que parecia tranquila, mas que pode se tornar difícil. Primeiro porque, ao final do ano, o jogador fica livre de qualquer vínculo. Atualmente, está emprestado para o Inter pelo Santos, que o comprou do próprio Inter, em 2014, por 12 milhões de euros. Quem garantiu o dinheiro foi a empresa Doyen Sports Investment, sediada em Malta, especializada em transações esportivas. Seu salário é alto e, atualmente, dividido entre Inter, Santos e Doyen.
Virar um "desempregado" poderia facilitar, para o clube gaúcho, a renovação com seu atacante. Porém, os números deste final de temporada – os mesmos que deixaram a equipe na vice-liderança do Brasileirão e deram tanta alegria aos colorados – despertam sondagens. E a lei do mercado é implacável: quanto mais oferta, mais dinheiro. Um eventual leilão pode encarecer sua permanência.
– O Leandro Damião é um jogador que queremos que esteja conosco. Ele nos ajudou muito na Série B no ano passado, briga muito, se esforça pela nossa equipe. Tenho certeza de que a torcida gosta de ter um centroavante que disputa todas as jogadas mesmo se não estiver 100% – elogiou o vice de futebol colorado, Roberto Melo.
O dirigente afirmou que as negociações serão feitas "no tempo certo". O discurso se dá por duas razões. A primeira é que uma renovação de contrato normalmente desgasta as partes e pode diminuir a atenção dos poucos pontos que faltam para confirmar uma classificação direta à Libertadores e, mais remotamente, a busca pelo título. A segunda é que há uma eleição presidencial em curso no clube. Isso também pode atrasar eventuais acertos.
Mas há outra verdade. Nas 10 temporadas como profissional do jogador de 29 anos, só com o Inter ele teve um casamento tão proveitoso. Em Santos, Cruzeiro, Flamengo e Bétis, sua passagem não deixou saudade.
– O Inter sempre foi um time de centroavantes, historicamente. Mesmo que mudem jogadores, técnicos e sistema tático, tem um centroavante lá. A torcida também me apoiou desde o começo da carreira e tentei me dedicar para ajudar o quanto pude. Por isso, existe essa troca tão boa _ reforçou o goleador, que não escondeu a vontade de renovar:
– Minha meta é vestir essa camiseta e ajudar o Inter.
2010 (Inter)
35 jogos – 1.818 minutos – 12 gols
2011 (Inter)
51 jogos – 4.441 minutos – 38 gols
2012 (Inter)
43 jogos – 3.709 minutos – 24 gols
2013 (Inter)
48 jogos – 3.828 minutos – 13 gols
2014 (Santos)
44 jogos – 2.803 minutos – 11 gols
2015 (Cruzeiro)
46 jogos – 3.158 minutos – 18 gols
2016 (Betis)
3 jogos – 129 minutos – 0 gol
2016 (Flamengo)
16 jogos – 779 minutos – 3 gols
2017 (Flamengo)
23 jogos – 1.141 minutos – 8 gols
2017 (Inter)
17 jogos – 1.383 minutos – 8 gols
2018 (Inter)
30 jogos – 2.059 minutos – 11 gols
Total no Inter
224 jogos
17.238 minutos
108 gols
Média de um gol a cada 2,07 jogos. Ou a cada 159,6 minutos