Deixar a Série B teve o seu preço. E ele foi bem alto. O Inter precisou fazer um investimento digno dos principais clubes da Primeira Divisão para voltar ao time dos grandes do país. Foram injetados R$ 197,6 milhões no departamento de futebol: das categorias de base à premiação para a equipe principal, passando pelos voos fretados até as trocas de treinadores. Com a média de R$ 16,4 milhões ao mês, o futebol colorado poucas vezes recebeu um investimento tão volumoso. A previsão orçamentária para o futebol gremista, por exemplo, era de R$ 190 milhões em 2017. Nesta quinta-feira, uma reunião no Conselho Deliberativo do Inter definirá a suplementação orçamentária para o encerramento do ano em vermelho.
Ao receber uma equipe rebaixada e com dívidas na ordem de R$ 30 milhões – grande parte dos credores eram os próprios jogadores, com vencimentos atrasados –, a atual gestão do Inter precisou de quase 90 dias até tomar ciência de toda a situação do clube. A cada momento parecia surgir um novo problema. Em meio a isso, era preciso remontar o time, com uma nova comissão técnica. Além de tentar recolocar muitos jogadores – foram 44 saídas de 2016 para 2017 –, que não seriam aproveitados na temporada.
E buscar reforços começou a se tornar algo difícil e, por vezes, mais caro. Muitos alvos se recusaram a passar o ano na Segunda Divisão. Alegaram falta de visibilidade nacional e quase zero chances de Europa. Outras contratações precisaram ser convencidas com contratos mais longos e vantajosos do que aqueles que tinham em mãos. O clube parcelou muitos pagamentos em cinco, seis vezes, por não poder negociar um valor melhor à vista – e se manter competitivo no mercado contra clubes da Série A.
O investimento em futebol para 2017 precisou contar com uma rubrica própria para os voos fretados, de Sorriso a Varginha. Roteiros que ficaram caros para que o elenco pudesse se manter mais descansado nos jogos da Série B. Além disso, nem sempre o investimento deu certo. Se William Pottker foi um lance de mestre, ao buscar na Ponte Preta o goleador do Brasileirão de 2016 e do Paulistão, que estava se encaminhando para o Corinthians, também houve contratações como as do zagueiro Neris, do lateral-direito Alemão, do lateral-esquerdo Carlinhos e dos atacantes Marcelo Cirino, Roberson e Carlos, além dos R$ 500 mil de multa rescisória pagos ao Bahia por Guto Ferreira – logo após a demissão de Antônio Carlos Zago –, que mais tarde também caiu e foi substituído pela solução caseira Odair Hellmann.
Ainda antes de voltar a sua turma, o Inter manteve uma folha digna de Primeira Divisão. Com o futebol profissional custando mais de R$ 7 milhões ao mês, os colorados rivalizavam com os vizinhos gremistas. A folha do Grêmio, porém, recebeu um incremento no último trimestre, após as renovações de Luan, Arthur e Kannemann, além do aumento salarial dado a Geromel, chegando a aproximadamente R$ 9 milhões. Ainda assim, a folha do Beira-Rio em 2017 superou a da maioria dos clubes da Série A, sendo semelhante às de Corinthians e Cruzeiro, ficando atrás apenas de Flamengo (R$ 9 milhões), São Paulo (R$ 9,5 milhões), Atlético-MG (R$ 10 milhões) e Palmeiras (R$ 11 milhões). O presidente do Inter, Marcelo Medeiros, tinha uma espécie de mantra com relação ao investimento em futebol.
– A folha subiu (de R$ 6 milhões para R$ 7 milhões), porque a folha do ano passado nos rebaixou. A estratégia daquela folha nos levou para a Segunda Divisão – declarou Medeiros, ainda em abril, quando apresentou o plano de recuperação do clube.
O investimento colorado na Série B também foi histórico. Mesmo entre os grandes que foram rebaixados. Somente o Palmeiras de 2013, que gastou R$ 121 milhões (em valores corrigidos da época) para ser campeão da Série B, se aproxima do Inter de 2017.
Mesmo que a falta de visibilidade da Série B tenha impedido vendas – e que dificilmente algum jogador importante sairá nesta janela de janeiro –, o clube conseguiu reduzir as suas despensas administrativas em mais de 40% (comparado a 2016), o quadro social teve um leve crescimento, subindo para 107 mil associados, e o borderô colorado foi o quarto maior do ano no futebol brasileiro. Com média de mais de 23 mil pagantes por jogo, o Inter ficou à frente de trens pagadores como Bahia, Grêmio e Flamengo, perdendo apenas para os paulistas Corinthians, São Paulo e Palmeiras nas partidas das Séries A e B.
R$ 197,6 milhões foi o investimento total do Inter no futebol em 2017
- 107 mil associados
- 23 mil pagantes por jogo