Não é qualquer um que joga no gol. Em um cenário hipotético e caótico, imagine que todos os zagueiros inscritos por um time no campeonato se lesionaram. A solução é uma barbada. Sem zagueiros de ofício, basta puxar algum lateral, chamar o volante mais alto e truculento e está resolvida a charada. Sem dramas. Sem que isso nem sequer vire notícia.
Com quem joga no gol é diferente. Sempre é.
O esporte praticado por quem é camisa 1 é diferente daquele que seus outros 10 companheiros desempenham em campo. Os outros jogam futebol. No arco, se faz arte. Daquelas que não é qualquer um que consegue imitar, reproduzir, se arriscar. Tu, que já foi jogar a pelada de final de semana sem ter o teu goleiro, sabes do que eu estou falando.
Em campo, pode faltar tudo. O atacante pode ser perna de pau. O meio-campo pode não acertar passes de dois metros, o zagueiro pode errar o tempo de bola. Nada faz tanta diferença para um time dentro de campo quanto aquele carinha de mangas compridas e calção lá atrás.
No Inter, essa semana, muito ouvimos e discutimos sobre quais características deveriam ter um jogador de linha para conseguir defender o Colorado no domingo próximo. "O mais alto", "o mais arrojado", "algum que já tenha ido emergencialmente para o gol antes"... Palpites mil, solução zero, já que não há o que um jogador de linha possa treinar em uma semana que o possibilite minimamente a calçar luvas e se aventurar entre as traves.
Para ser goleiro há que se ter um quê de insanidade, um apreço pelo anticlímax, uma identificação pelos anti-heróis – mais do que isso: para vestir a 1, é preciso gostar de ser vilão. Goleiro não gosta de bola na rede. Goleiro não gosta de placar que sai do zero. O paraíso do arqueiro é um eterno e imutável oxo.
Jogar de costas para o gol, nessa relação tão próxima com o objetivo máximo do time adversário é uma adrenalina que nenhum atacante-que-faz-dancinha-depois-de-fazer-gol-de-chiripa jamais sentirá. Defender o arco é para poucos. Para os malucos. Para os anti-heróis. Infelizmente para o meu Colorado que jogará domingo desfalcadíssimo, não é – definitivamente – qualquer um que joga no gol.