Os 49% de aproveitamento do Inter no Gauchão e a derrota na final para o Novo Hamburgo passaram a gerar questionamentos sobre o trabalho do técnico Antônio Carlos Zago. Os colunistas do Grupo RBS opinam se o clube deve mantê-lo ou trocar de treinador para a Série B do Brasileirão.
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David Coimbra
Em quatro meses de trabalho, Zago não conseguiu solucionar os problemas que o Inter apresentou no ano passado. Outro conseguiria? Difícil responder. Zago tem, em 2017, o que o Inter não teve em 2016: D'Alessandro. É D'Alessandro quem organiza o time, quem pensa, quem dá velocidade à bola ou faz com que ela corra lenta. É o técnico dentro de campo. D'Alessandro falhou na final do Gauchão, e o Inter falhou com ele. Mas D'Alessandro continuará jogando e fazendo o que sabe. O Inter terá também mais um reforço fundamental: o centroavante Pottker. Ao que tudo indica, essa promessa do futebol brasileiro pode se cumprir no Beira-Rio. Há, portanto, time para vencer a Série B. Zago terá de organizá-lo melhor. Ainda poderá fazê-lo, mas seu crédito está acabando. Se não conseguir resultado e rendimento rápidos, a mudança será inevitável.
Diogo Olivier
Se o Inter quiser repetir os erros do ano passado e trocar de técnico como quem troca de bermuda, sim. Aí basta demitir Antonio Carlos Zago só porque perdeu o Gauchão nos pênaltis para o Noia e acreditar em mágica: mude o chefe do vestiário e tudo se resolverá. Se vencesse nas penalidades, aí Zago seria campeão gaúcho, o técnico que eliminou o campeão paulista da Copa do Brasil e 100% na Primeira Liga? O torcedor apaixonado e o valente da rede social podem pensar assim, mas não o dirigente. Quem não sabia que a reconstrução seria complicada? A reformulação do elenco é enorme, quase um expurgo do desterro do ano passado. O próprio time que perdeu o Gauchão no Centenário só tinha quatro jogadores que entraram em campo contra o mesmo Noia, pela segunda rodada. Jogadores chegaram com a competição em andamento, como Carlos, Edenilson e Victor Cuesta. Pottker se apresenta na terça. Felipe Gutierrez não estava inscrito no Gauchão e veio para ser titular. Claro que a obrigação de ganhar Gauchão, por melhor que seja o time do Interior (caso do Noia de Beto Campos, um campeão incontestável), sempre será da dupla Gre-Nal. É até constrangedor, pela diferença de estrutura. Mas é injusto e feio reduzir tudo ao técnico do clube grande, como se o adversário nem existisse. E o trabalho de Beto Campos, sondado pelo Vitória? E ainda teve o drama dos goleiros, para o Inter. Só a ingenuidade de um coração torcedor poderia achar que, em maio, o Inter estaria voando após o tsunami se 2016. O Inter que perdeu nos pênaltis para o Noia é o mesmo que ganhou do corintiana da mesma maneira. Zago pode e deve ser criticado e cobrado para melhorar o Inter, que ainda não está pronto, mas daí a demití-lo agora, às portas da Série B, é amadorismo.
Luiz Zini Pires
O Brasil costuma dar importância demais ao treinador. Tudo parece começar e se encerrar a partir dele. Errado. Nos fracassos e nas celebrações, tudo precisa ser dividido em partes não necessariamente iguais. A histórica queda no Gauchão, a derrota para um time do Interior, o qualificado Novo Hamburgo, passa pelo coletivo colorado: jogadores, comissão técnica e direção. Antônio Carlos Zago tem defeitos, maiores do que os outros, e um naco grosso de culpa pelo fracasso. A campanha do time no Gauchão foi tenebrosa: 17 jogos, quatro derrotas, sete empates e só seis vitórias.
Seu trabalho de quase quatro meses ainda não o recomenda. O Inter não ingressará organizado, forte e competitivo na Série B, a competição do ano, mesmo com um grupo de jogadores de Série A. Se começar mal a competição nacional, o efeito do Gauchão o derrubará rápido. A direção precisa pensar em um plano B com certa urgência. Afinal, Zago, que está na B, foi superado por um time da Série D. Não seria atípico, estranho ou apressado trocar de treinador agora. Não faltam justificativas.
Leonardo Oliveira
Não, Antôno Carlos Zago não deve cair. Aliás, essa é uma pergunta que só ganha corpo na cultura do futebol brasileiro, em que se acredita na troca de técnicos como a solução de todos os problemas de um clube. O Inter perdeu o Gauchão para o Novo Hamburgo e, olhando a estrutura e o investimento dos dois clubes, parece ser uma derrota inaceitável. Mas é preciso ir além. Não se pode esquecer que Antônio Carlos tem como missão montar um time em um vestiário em constante transformação. Chegaram 13 jogadores ? aliás, Pottker, o 13º, ainda desembarcará nesta semana. E saíram outros 18, numa lista que ainda aumentará. Ninguém consegue montar um time nesse cenário da noite para o dia. Zago precisa de tempo. E ele começa a correr, na minha opinião, a partir de agora.
Cleber Grabauska
Ainda não. Mas Zago precisa mostrar uma reação imediata nas primeiras rodadas da Série B. Ele precisa de vitórias e de desempenho para amenizar a perda do Gauchão e de quase cinco meses de um trabalho que ficou abaixo do esperado. Mas Zago ainda tem crédito, afinal ele gastou boa parte do tempo numa remontagem de grupo e de time. Ainda não teve uma grande atuação. O Inter até agora não teve um jogo que enchesse os olhos. Teve bons momentos, mas não uma atuação perfeita do início ao fim. O time oscila muita. Falha onde pode falhar. E Zago muitas vezes faz escolhas erradas. Mas agora ele não pode mais falhar, pois seus créditos começam a ficar escassos. Afinal, o Inter entra na Série B como o grande favorito e qualquer outro resultado que não seja uma liderança tranquila e o título de campeão será considerado um trabalho incompleto. Incompleto como tem sido agora. Ah, e além da situação de campo, Zago precisa mudar de comportamento. Não é admissível aceitar do técnico do Inter atitudes com a agressão ao médico do Caxias e a simulação que ele fez no Centenário, encenando ter sido agredido por Elyeser.
*ZHESPORTES