O Inter não atingiu o fundo do poço em Mesquita, na Baixada Fluminense, ao ser rebaixado à Série B. O chão estava um pouco mais abaixo, na icônica Belém do Pará. Apesar de todos os recursos oferecidos ao técnico Antônio Carlos Zago, a aposta do clube para 2017 perdeu para o Paysandu e deixou o Inter na 10ª colocação do Segunda Divisão. Foi comunicado da demissão ainda no vestiário do Mangueirão. Não há prazo para o anúncio do novo técnico. Guto Ferreira, 51 anos, é o nome mais desejado, porém, a sua multa rescisória junto ao Bahia é de R$ 500 mil – e se reduz a cada mês de contrato cumprido. Assim, caso não seja possível definir a contratação de Guto, Levir Culpi ganhará força nos bastidores colorados. O treinador de 64 anos está sem clube desde novembro, quando foi demitido do Fluminense. Vanderlei Luxemburgo, 65 anos, corre por fora.
Ainda sem um nome encaminhado para a sucessão de Zago, o Inter pediu à CBF a desconvocação de Odair Hellmann. Será ele o técnico interino diante do Palmeiras, nesta quarta-feira, na decisão da vaga às quartas de final da Copa do Brasil, no Beira-Rio. O auxiliar técnico colorado, Odair, está na França, onde disputa com a seleção brasileira sub-20 o Torneio de Toulon – e desembarcará em Porto Alegre na noite desta segunda-feira. Campeão olímpico com a seleção, Odair Hellmann ficou marcado por ter sido o interino na goleada de 5 a 0 do Grêmio sobre o Inter, no clássico de 2015, após a demissão do uruguaio Diego Aguirre.
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Na manhã deste domingo, na residência do vice de futebol Roberto Melo, o treinador teve a sua saída do Inter oficializada, em reunião na qual estava presente também o presidente Marcelo Medeiros. A direção não pretendia demitir Zago. O projeto do clube era contar com o técnico até o retorno à Primeira Divisão. O desempenho abaixo da crítica em Belém, porém, deixou os dirigentes sem alternativas: Zago não tinha mais condições de seguir no comando da equipe. Ainda antes do final da partida no Pará, Melo e Medeiros – que havia ficado em Porto Alegre, no costumeiro rodízio da direção nas viagens – já haviam trocado mensagens por telefone. A decisão estava tomada, mas a troca no comando foi oficializada ao público somente às 13h36min de domingo.
– O time terminou de ser montado agora, há duas semanas, com a chegada do Pottker. Tenho certeza de que o time vai voltar à Série A, até com certa facilidade. A base está toda montada para isso – publicou Zago, em suas redes sociais, em uma carta aberta aos colorados.
Sem treinador, o Inter corre atrás de um treinador que o tire da Série B. Guto Ferreira é o nome desejado pelo Beira-Rio. Daí, a convocação de Odair para a partida contra o Palmeiras. A negociação para tirá-lo do Bahia é difícil e cara – podendo se alongar pela semana. Uma contratação que talvez não seja tão fácil como a dos outros dois técnicos que surgem como Plano B: Levir Culpi e Vanderlei Luxemburgo – com leve vantagem para Levir.
A demissão de Zago, 168 dias depois da sua contratação, se deu ainda no Estádio Mangueirão. O treinador sequer se dirigiu para a entrevista coletiva, após a derrota para o Paysandu. Após conversar com Zago no vestiário, Melo falou aos repórteres. Não oficializou a queda do técnico, mas, naquele momento, o treinador já sabia que estava fora do Inter:
– Não fizemos um bom jogo. A análise que posso fazer é essa. O resultado foi merecido. Em nenhum momento tivemos o controle do jogo. O Paysandu teve superioridade e mais volume do jogo. Precisamos melhorar. Temos um grupo qualificado, que todos elogiaram. Esperamos e precisamos ter um rendimento melhor. Não vou fazer análise pública sobre o nosso treinador.
Guto Ferreira tem origem no Inter, onde foi treinador das categorias de base e campeão gaúcho em 2002, como treinador interino. Na noite deste domingo, enfrentará o Botafogo, no Rio de Janeiro. E o Inter deverá esperar mais algumas horas para tentar tirar Guto do Bahia – que no ano passado deixou a Chapecoense, na Série A, e aceitou o desafio de assumir o Bahia, então na Série B, por R$ 300 mil mensais.
Caso não seja possível contratar Guto Ferreira, aí, sim, a direção colorada deverá investir em um técnico de nome e desempregado – Levir, Luxemburgo ou até mesmo Marcelo de Oliveira. Luxemburgo chegou a abrir negociações com o Sport – time que perdeu para o Bahia o título da Copa do Nordeste e que demitiu o treinador Ney Franco –, mas alegou que não desejaria trabalhar no momento para desistir do projeto que lhe foi apresentado.
– Ninguém me procurou. Bom domingo – respondeu Luxemburgo à reportagem de ZH.
A sequência de jogos do Inter é pesada. Depois de enfrentar o Palmeiras, a equipe terá duros desafios na Série B, enfrentando em série: Juventude, Figueirense, Náutico, América-MG, Santa Cruz e Paraná. E a contratação de um novo treinador é algo urgente.
Zago era convicção da direção
Antônio Carlos Zago foi uma convicção da nova gestão do Inter. Contratado 13 dias após a eleição de Marcelo Medeiros, o treinador estava credenciado pelo trabalho feito no acesso do Juventude à Série B, além da sua cultura tática de Europa – havia trabalhando junto às comissões técnicas de Roma e de Shakhtar Donetsk, e de ter sido diretor do Corinthians, em 2008, quando o cube voltou à Série A. Na prática, porém, o Inter de Zago jamais apresentou um bom futebol. Os seus melhores resultados foram empates: contra Grêmio e Corinthians. O ponto alto de sua trajetória no Inter foi eliminar os corintianos no Itaquera, na decisão por pênaltis. Foram os pênaltis também que começaram a fragilizar Zago. Perder o Gauchão para o Novo Hamburgo não contribuiu para o trabalho do treinador, mesmo que eles estivesse escudado pelas lesões dos três goleiros e pela remontagem do elenco. Zago não resistiu aos tropeços para ABC e para Paysandu na Série B.
* ZHESPORTES