O mais novo integrante da comissão técnica do Inter é o preparador físico Carlos Pacheco, um paulista de 53 anos, que trabalhou com Antônio Carlos Zago no São Caetano, no Palmeiras e no Juventude. Com a chegada de Pacheco, o preparador João Goulart foi demitido. Goulart estava no Beira-Rio há oito anos, quando assumiu a preparação física da equipe juvenil. Em 2013, foi promovido para o grupo profissional, tendo sido auxiliar de Paulo Paixão. Em 2014, seguiu na comissão técnica permanente do clube e, em 2015, assumiu como preparador da equipe principal, com a demissão de Diego Aguirre e de sua comissão uruguaia. Passou por Argel, Falcão, Roth e Lisca. No dia 9, dois dias antes da reapresentação dos atletas e no dia em que os demais profissionais deveriam retornar ao clube, ele recebeu um telefonema: não precisava voltar das férias, estava desligado.
– Uma saída é sempre traumática. O que dá a entender é que caiu (a má campanha no Brasileirão de 2016) só na minha conta.
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A seguir, os principais trechos da entrevista:
Como foi a conversa para o seu desligamento do Inter?
Estava há oito anos no Inter. Aconteceu que saímos de férias depois do último jogo. E, dia 9, era a reapresentação do pessoal de apoio, da comissão técnica. No dia mesmo me ligaram dizendo para eu não me apresentar, porque estavam revendo a minha situação, já que o Antônio Carlos Zago estava vindo com o preparador dele. E era para eu aguardar. Essa conversa foi com o executivo Jorge Macedo, e me comunicaram sobre o desligamento.
Mas você chegou a trabalhar com outras comissões, que já tinham preparador físico.
Sim, sim. Eu trabalhei quatro anos na base. E depois, em 2013, quando o Dunga e o professor Paixão assumiram, criaram a comissão permanente, eu fiquei de auxiliar. Depois teve o Cristiano Nunes, o preparador físico do Abel Braga. E aí veio o Fernando Pignatares, o preparador do Aguirre. Quando eles saíram, assumir de preparador físico e fiquei até então.
E por que você não permaneceu nem nas categorias de base?
Argumentaram uma série de coisas, que era custo... Mas o meu salário nem era alto. Eu poderia tranquilamente ficar e trabalhar com a comissão técnica do Zago. Mas foi uma decisão da direção, de não contar mais com o meu trabalho.
Acha que tem relação com o fato de você fazer parte do descenso?
É, mas ficou todo mundo. Ficou o (Daniel, preparador de goleiros) Pavan, o auxiliar dele, Durgue, o Odair (Hellmann, auxiliar técnico). Saímos a nutricionista Cíntia, que tinha 10 anos de clube, e eu. Todo mundo me ligou. Temos consciência do resultado que foi horrível. Mas a ideia era ficar e ajudar o Inter a voltar para a Série A.
Nunca se falou que a preparação física fosse o principal problema.
Nós tivemos vários problemas. Eu sei, porque estava lá dentro. Mas nós temos todos os controles, junto com o doutor Luiz Crescente, nosso fisiologista e da Seleção, fizemos todos os relatórios finais antes do último jogo. E, através das avaliações físicas e bioquímicas, fisicamente não era o problema. Claro que, no futebol, não se pode desvincular a parte física da questão tática, técnica. O que a gente sabe é que, depois da saída do Aguirre, incluindo o Odair, eu trabalhei com cinco treinadores. Foi uma constante mudança de metodologia, conceito. Então, isso, dentro do nosso planejamento, ficou comprometido.
Conforme mudava de treinador, você mudava o seu planejamento também?
Com certeza. Eram outros conceitos, outra metodologia de treinos, e a gente jogando direto. Tivemos sempre de nos moldar às mudanças de atletas, equipes. Mas sempre tentando fazer o melhor. Desde que eu assumi, sempre foi tudo conversado com a comissão técnica. Professor Carravetta sempre me deu muito respaldo, o planejamento sempre foi muito discutido para chegar no resultado. Infelizmente, o resultado final foi desastroso, né?
Você está chateado pela forma como sua saída foi conduzida?
Eu agradeço muito ao Inter pela oportunidade que me deu, consegui mostrar muito o meu trabalho. Nos últimos anos, e isso está nos relatórios, é o menor número de lesões. Conseguimos controlar todos os atletas individualmente. Chateado, não. Mas é claro que uma saída é sempre traumática. O que dá a entender é que caiu só na minha conta, mas faz parte. Futebol é assim mesmo, tenho que seguir a minha carreira e torcer muito para o Inter, para voltar à primeira divisão.
O que vai ficar é que caiu muito na sua conta?
Eu não sei, sei que eu saí. Tenho consciência do trabalho feito, o clube tem. Tem dados científicos lá. Os números não enganam, mas não sei se daqui um pouco, não sei se houve imposição da comissão técnica nova, de não deixar ali no profissional o preparador físico titular, e trocar para auxiliar. Para mim, não teria problema algum. Sou funcionário do clube. Poderia me encaixar no time B.
Mas nem deram essa opção?
Não, não me deram. Não me foi colocada essa opção, se queria ou não. Até eu gostaria. O time B está vinculado ao profissional, o que faria eu participar desse processo de retomada. Mas não me foi colocada essa possibilidade.
Nas mudanças de comissão, algum deles tentou implantar ideias "mirabolantes"?
Não, não. Todos tentaram ajudar da forma que foi possível. É difícil, nem é o meu perfil apontar responsável. Somos todos responsáveis, eu me incluo, era o comandante da preparação física. O Celso (Roth), Argel, Lisca tentaram dar o melhor possível, mas não conseguimos. O grupo sentiu a questão da responsabilidade, é um grupo bastante novo, sentiu a pressão, a cobrança. Nunca faltou empenho dos atletas. Mas futebol é assim, foi uma bola de neve, e não conseguimos sair.
E daqui para a frente?
Graças a Deus, tive um relacionamento com todos muito bom. É importante falar também que não tive problemas com nenhum atleta, sempre com relacionamento saudável. Agora, estou mantendo contatos. Uma das minhas chateações é que, já que o Zago estava contratado antes das férias, poderiam ter definido isso aí, o que me possibilitaria um encaixe em outro clube. Agora, as comissões técnicas estão todas formadas, as pré-temporadas todas em andamento... Mas estou mantendo contato. Não tem nada oficial, nada mais concreto. Todo mundo está bastante surpreso. Mas é coisa da vida.
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