O último ato do Inter no Brasileirão de 2016 terá como palco o campo do America-RJ. Atualmente na segunda divisão estadual, o clube da cidade de Mesquita, Região Metropolitana do Rio de Janeiro, cedeu o Estádio Giulite Coutinho para que o Fluminense disputasse sete partidas pelo Campeonato Brasileiro, em troca de melhorias no complexo, no valor de R$ 1,6 milhão, e enquanto o Maracanã estivesse sob as ordens do COI, para os Jogos Olímpicos. Será lá, na Baixada Fluminense, neste domingo, às 17h, e com previsão de calor próximo aos 40º C, que o time de Lisca saberá se em 2017 jogará a Série A ou a Série B.
Giulite Coutinho, ex-presidente da CBF e também ex-presidente americano (como são chamados os torcedores do clube carioca, entre eles Romário), foi quem iniciou as obras no estádio, que foi concluído e inaugurado somente em 2000. Morreu em 2004 e virou o nome do estádio, que havia sido batizado originalmente de Edson Passos – em uma cidade cortada por uma via expressa e por uma linha de trem, cuja população é superior a 170 mil habitantes. O primeiro gol do estádio foi marcado por Sorato, ex-atacante do Vasco campeão da Libertadores, com posterior passagem pelo America.
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O Inter que não espere vida fácil na Baixada Fluminense. Do centro do Rio a Mesquita são pouco mais de 40 quilômetros de distância e mais de 50 minutos de carro (ou de ônibus, no caso da delegação colorada). Ao redor do estádio, uma população de baixa renda ajuda a montar a paisagem local. Ao longos dos anos, enquanto o estádio era erguido e sem que houvesse um cercamento, casas populares foram sendo erguidas, em uma região que ficou conhecida popularmente como "a Favela do America".
– Na prática, não é uma favela como estamos acostumados às do Rio, mas, sim casas de pessoas bem simples, de gente humilde – afirma Raffa Tamburini, historiador e ex-assessor de imprensa do America.
Com capacidade para 12,5 mil torcedores, a casa alugada do Fluminense até que teve um bom retrospecto para o clube. Em sete jogos, a equipe venceu cinco e perdeu dois (para Chapecoense e para São Paulo). Apesar disso – e mesmo com uma capacidade de público diminuta, se o estádio for comparado a outros do Brasileirão –, jamais lotou, até pela dificuldade de acesso dos torcedores do Fluminense.
– O Fluminense reformou todo o nosso gramado e construiu um campo novo para o America, anexo ao estádio, a fim de preservar o gramado de jogo. Além disso, eles construíram dois vestiários novinhos e refizeram todo o sistema de segurança do estádio. O Inter vai encontrar um estádio de Série A – promete Marco Antônio Teixeira, tio de Ricardo Teixeira, ex-presidente da CBF, ex-secretário geral da Confederação Brasileira de Futebol, e atual diretor executivo de futebol e secretário geral do America.
Apesar dos elogios do dirigente americano, a realidade parece bem distante desse quadro pintado por Teixeira. Ocorre que desde a reabertura do Maracanã para jogos do Campeonato Brasileiro, o Fluminense virou as costas para Mesquita. A última partida da equipe na Baixada Fluminense ocorreu em 17 de outubro, quando o São Paulo bateu os cariocas por 2 a 1. Desde então, o campo não passou mais por manutenção, a grama está ressecada e há diversas "ilhas" de areia nas áreas, nas laterais e no meio-campo.
– O Inter encontrará um cenário totalmente desfavorável em Mesquita. Um verdadeiro inferno – dispara o repórter e coordenador de esportes da Rádio Globo/CBN, do Rio de Janeiro, Rafael Marques. – As condições geográficas e climáticas são distintas das do Rio. Faz muito mais calor em Mesquita (a previsão é de 37º C, à tarde), pois é um lugar seco demais, que fica longe do mar – completa Marques.
O jornalista ainda faz reparos à estrutura do Giulite Coutinho. A arquibancada atrás de uma das goleiras segue interditada e os torcedores têm acesso fácil aos jogadores.
– Em caso de revolta, a torcida pode sair da arquibancada e passar por um gradil frágil que conta com apenas um segurança, e chegar às portas dos vestiários. Como o Fluminense foi relativamente bem em Mesquita, não houve esse problema. Além disso, ficando ao lado de fora dos vestiários, se escuta tudo o que é dito lá dentro – conta Rafael Marques.
Tudo indica que para se salvar na temporada o Inter terá de passar primeiro pelo purgatório.
* ZH Esportes