Nesta manhã, ao despertar de sonhos inquietantes, o Torcedor Colorado deu-se por si na cama transformado num gigantesco inseto. Não qualquer inseto. Os que vestem vermelho, nesta segunda-feira, acordaram transfigurados naquilo que de mais detestável achavam que havia no mundo. Somos, hoje, a criatura que mais caçoamos, que mais detestamos e que mais veementemente repugnamos em 107 anos de Sport Club Internacional. Hoje, somos um time de Segunda Divisão.
O processo de metamorfose foi longo e terrivelmente sofrido. Como é lento, como é dolorido cair. Para além deste 2016 absolutamente tenebroso, para além da histórica e lamentável tarde deste domingo. Começamos a nos afundar em lama em 2010. O que se encerrou ontem, em Edson Passos, foi iniciado em 2010, em Abu Dhabi (olhar para trás e perceber que o treinador daquele fiasco foi o que mais nos comandou neste Brasileirão chega a ser cruel).
Leia mais:
"Errei, e errei muito", diz Vitorio Piffero
"Os dirigentes são responsáveis", afirma Fernando Carvalho
De lá para cá, inúmeras foram as decisões equivocadas da nossa direção. Inacreditavelmente, o comando técnico da mais vexatória derrota da história colorada foi mantido para a temporada seguinte. Depois veio a reforma do Beira-Rio, conduzida de maneira estúpida por meses. Um Gigante às ruínas foi palco de temporadas medíocres. Nenhuma glória voltou a visitar a beira do Guaíba.
E sequer visitará tão cedo.
Enquanto estamos aqui debatendo nossas inúmeras pernas miseravelmente finas, travestidos do mais nojento dos insetos que acreditávamos existir, o Internacional precisa de uma completa mudança. Ainda mais radical do que a metamorfose que nos trouxe até aqui.
Não será um caminho rápido, tampouco fácil. Seis anos nos levaram de Donos da América a Piada Nacional. Não menos do que isso será necessário para que consigamos nos livrar desta escatológica carcaça daquilo que outrora sentíamos asco e que, hoje, desta segunda-feira até o final da nossa história, seremos: um clube rebaixado.
Ao final das contas, veremos que este processo todo foi, no fundo, educativo. Aprenderemos a não acreditar mais em soluções mágicas, em treinadores folclóricos, em SWATs (ou seja lá o que eles tentaram falar com isso). Aprenderemos a não ser mais arrogantes como fomos. Descobriremos que, poxa vida, nem foi tão ruim assim. Nem é tão nojento assim. É necessário. É preciso. O Inter é maior do que taças no armário, veremos. O Colorado é maior do que a divisão futebolística em que se encontra, nos daremos conta.
Aí, e só aí, quando pararmos de associar a grandeza do nosso clube às razões erradas e superficiais, poderemos ser grandes de novo. Hoje, e até que a gente consiga entender de fato a transformação que estamos vivendo, somos o inseto mais repulsivo que achávamos que existia. Entender isso é o único caminho para voltarmos a ser Gigantes.