Sou um crítico contumaz de Argel. Desde sua entrevista coletiva de apresentação ao Inter, quando mostrou-se ultrapassado e proferiu alguns absurdos, como dizer que o 4-2-3-1 é um esquema "faceiro demais", aponto os problemas de seu time e suas avaliações após os jogos. Mas demiti-lo agora, além de injusto com o treinador, seria inútil.
Há um forte argumento para tirá-lo do comando da equipe. Há 11 meses no Inter, Argel ainda não conseguiu dar a seus jogadores uma identidade coletiva. O máximo que sabemos sobre esse Inter é que costuma marcar bem – nem isso fez nas últimas rodadas – e tem enormes dificuldades para criar. De resto, mais nada.
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Os problemas têm relação direta com o comandante. Argel pensa jogo a jogo, molda a estrutura do time de acordo com o adversário – especialmente nos grandes jogos. Fazer ajustes para dificultar um rival específico é normal e até necessário, mas transformar a equipe a cada grande desafio dificulta a consolidação de um modelo.
Mas então, por que não demiti-lo? A questão, na verdade, seria por que demiti-lo agora. Estamos em meio ao Brasileirão. Como o próprio Argel ensina, outro técnico teria de "trocar o pneu com o carro andando". Mesmo que o Inter escolha um técnico metódico, com perfil diferente do atual (dos que estão livres no mercado, alguém se encaixa nessa descrição?), ele teria tempo exíguo para firmar o trabalho até o fim da temporada.
Além da questão prática, há a da justiça. Mesmo com todos os problemas, Argel tem seus méritos. O maior deles, na minha visão, é motivacional. A equipe luta, é irresignada com o resultado. Conseguiu vitórias importantes assim, em jogos em que teve desempenhos lamentáveis. No aspecto tático, firmou um sistema defensivo seguro – me recuso a negar esse atributo baseado em uma sequência de apenas cinco jogos. E no técnico, recuperou Vitinho quando fixou-o lá na frente, além de ter consolidado Paulão como referência na zaga e liderança do grupo.
É pouco? Eu acho que é. Defendi, no fim do ano, que o Inter procurasse uma alternativa. Era o momento de começar um trabalho do zero. Agora, porém, seria uma solução oportunista. O nível de rendimento do time, desde que Argel assumiu, quase não oscila. Há algumas atuações, que podemos contar com os dedos das mãos, que destoam para o bem. O que mudou agora foi o aproveitamento de pontos. Demitir Argel, portanto, seria um atestado de que o Inter trabalha sob a ultrapassada égide de que futebol é resultado e nada mais.