Espécie de Leicester paulista, o Audax é a grande surpresa da temporada. Neste domingo, poderá conquistar o Campeonato Paulista, na decisão diante do Santos, na Vila Belmiro (1 a 1, no jogo de ida, mas final sem saldo qualificado). Um dos principais nomes do time de Osasco, o atacante Mike, ainda pertence ao Inter, após os Estaduais, poderá retornar ao Beira-Rio. Titular do Audax durante os 18 jogos da temporada, Mike tem quatro gols no torneio (um deles, na primeira partida da final contra o Santos). Contratado ao Paulista, ao final de 2011, para o Inter B, o atacante atuou com Alisson, Muriel, Rodrigo Dourado, Fred, Sasha e Otávio.
Nesta entrevista a ZH, o jogador de 23 anos fala sobre o sucesso do Audax, o ideal de jogo do surpreendente treinador Fernando Diniz, lembra dos tempos de Fernandão no Inter, conta porque não ficou no clube, e fala sobre o sonho de voltar a vestir o vermelho e branco no Brasileirão. A seguir, os principais trechos da entrevista:
Como o time do Audax foi montado?
O Fernando Diniz começou a trabalhar essa equipe desde o ano passado. Escolheu a dedo os jogadores, gente que já havia trabalhado com ele. Diniz já me conhecia desde 2010, quando me promoveu aos profissionais do Paulista, de Jundiaí. Ele escolheu o grupo a dedo mesmo.
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Como você foi parar no Audax?
O meu contrato de empréstimo ao Sport chegou ao fim em dezembro do ano passado. Como tinha mais um ano de contrato com o Inter, e me avisaram que eu seria emprestado de novo, o Fernando Diniz ligou. Havia outras opções, mas, por já conhecer o Diniz, levei isso em conta e fui para o Audax.
Por que você encaixou tão bem na equipe do Audax?
Sou um jogador de muita movimentação, procuro o jogo o tempo inteiro para dar opção aos meias e gosto de criar jogadas. Desde o começo do Paulistão foi assim. Mantemos a passe de bola o tempo inteiro. Nós, ali na frente, recebemos a bola e trocamos muitos passes. E a bola sempre chega. O nosso time foi se encaixando. E fomos evoluindo. O que facilita o nosso ataque é que a todo o momento somos abastecidos. Temos condições de fazer jogada. Eu cresci muito ao longo do campeonato.
O empate com o Santos foi puro azar. Um passe errado e o Audax cedeu o 1 a 1.
Sim. Foi um jogo muito bom. Os dois time criando chances o tempo todo, com muita posse de bola. Foi um grande jogo. Naquele momento, a gente estava melhor. E acho que o jogador deles (o meia Ronaldo Mendes recebeu um passe errado de Tchê Tchê e bateu de longe) foi muito feliz naquele chute.
É possível ganhar na Vila Belmiro?
Estamos muito confiantes. Respeitamos bastante o Santos, mas tivemos bons jogos ao longo do Paulistão. Vamos fazer de tudo para vencer. Fizemos muitas coisas boas no campeonato.
Qual é a sensação de defender o Audax e eliminar gigantes como São Paulo e Corinthians?
Na verdade, foi uma surpresa para todo mundo. Mas é engraçado, pois, entre os jogadores, no vestiário, parecia que já sabíamos que venceríamos os dois. Estávamos seguros. Contra o Corinthians, que é muito forte em casa, poderíamos até ter vencido, mas sofremos o empate no final. Foi um jogo aberto, com muitas chances de gol.
Fernando Diniz é a alma desse time do Audax?
Sinceramente, é um cara diferenciado. Todo o grupo gosta, todo mundo fala. Somos muito unidos. É um profissional muito capacitado, tanto é que estamos na final. É uma excelente pessoa. Diniz é diferente, até no estilo de jogo. Não tenho como compará-lo a outros treinadores. O pensamento dele é ter a posse de bola, ter um time muito ofensivo. A nossa saída de bola é sempre para atacar, não é para ficar lá trás. É gostoso jogar assim.
O que Diniz pede para vocês nos treinos e nos jogos?
Na verdade, ele cobra muita tática, cobra de todos taticamente. E muita movimentação. Quando o nosso time está com a bola no pé, ele cobra para sair da marcação, aparecer para o jogo. Cobra que marque e que o volante ataque. Treinamos muito a posse de bola. Por isso que a gente repete tanto nos jogos.
A inspiração do Audax é o toque de bola do Barcelona, do Bayer, de Munique?
Diniz não compara esse tipo de jogo com o nosso. Não compara com o Barcelona nem com o Bayer. Ele fala que o nosso time joga de um jeito diferente, onde todos ficam muito próximos em campo.
Principais jogadores do Audax?
O nosso grupo é muito forte e somos muito unidos. Gosto muito do jogo do Camacho, é um volante que está acima da média. Gosto muito dele como jogador, acho que desequilibra. Gosto muito do Ytalo (armador, ex-Inter). Não cheguei a jogar a com ele no Inter. Temos um time muito bom. O Tchê Tchê (meia) corre o campo inteiro.
Terminando o Paulistão haverá uma debandada de jogadores no Audax?
Saíram notícias sobre isso. É complicado, pode desfocar nosso time para a final.
Vocês se inspiram no Leicester (o surpreendente campeão inglês)? Se vencerem o Paulistão serão uma espécie de Leicester brasileiro?
Temos, sim. Mas respeitamos muito o Santos. Respeitamos eles como respeitamos Corinthians e São Paulo. Temos que errar o mínimo possível, eles têm jogadores individuais e, quando tivermos oportunidade, precisaremos fazer o gol, a fim de obter alguma vantagem na decisão. Acredito que o Santos virá para cima porque estará em casa. Aqui, em Osasco, eles não vieram. Mas nossa equipe está preparada.
Como é a torcida do Audax?
Nesse último jogo, ela lotou o estádio. No começo, não havia muita torcida. Mas, conforme fomos ganhando, e passamos a liderar o grupo, o apoio foi crescendo. Nas quartas de final, o estádio já estava cheio. A repercussão foi muito grande. Viramos os queridinhos da cidade.
O Audax terá continuidade?
Já classificamos o time para a Série D. Tem calendário o ano todo. O ano que vem também. Jogadores vão sair, é claro, mas a direção é muito profissional: pagam em dia, têm estrutura, são organizados. Acho que o clube terá sequência e ainda será um dos grandes de São Paulo.
Você tem contrato com o Inter até 31 de dezembro. Qual o seu plano?
O que foi o marcado com o Inter é que conversaremos depois dos Estaduais, pois o meu contrato termina neste ano. Nesta semana, preciso me concentrar para o jogo, que será muito importante para a minha carreira. O Inter é um clube muito grande, um dos maiores do mundo, uma potência. Qualquer jogador sonha em jogar no Inter. Seria ótimo voltar em boa fase e valorizado.
Argel montou um ataque com jogadores que atuam como você: com muita movimentação.
Sim, tenho acompanhando. É um time muito rápido ali na frente, um time jovem. É bem o meu estilo.
Você teve poucas chances no Inter?
Comecei a ter chances mesmo com o Fernandão, que me escalava no Brasileirão de 2012. Depois, me machuquei. Minha lesão (operou o menisco do joelho direito) atrapalhou bastante, pois a recuperação demorou e, quando voltei, três meses depois, haviam muitos atacantes: Forlán, Dátolo, Dagoberto, Damião... Mas foi culpa do meu corpo, que não reagia. E isso faz parte da vida do jogador.
Você nunca foi chamado de volta pelo Inter?
Depois do Botafogo-SP, fui para o Sport e, no começo de 2015, o Inter me disse que o Sport queria renovar o empréstimo. Todos concordaram e acabei indo. No fim do ano, foi a mesma coisa. Mas, daí, houve o interesse do Audax.
Você já se sente maduro, pronto para encarar um clube na Série A do Brasileirão?
Quando você joga, você evolui. Pega ritmo em vários jogos. Você evolui fisicamente, taticamente. E quando está com ritmo de jogo, ganha confiança. É muito bom quando você joga, faz bem para o jogador. Amadureci muito desde que saí do Inter.
Foi aventada a possibilidade de você ser incluído em uma troca pelo volante Anselmo, do Joinville, que está sendo contratado pelo Inter.
Não me disseram nada. Só me falaram que quando acabasse o Paulistão era para eu me mudar aí para o Sul. Vamos até aí para conversar com o Inter. Estarei em Porto Alegre logo depois do Paulistão.
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