Dos oito colorados que desferiram socos e pontapés em dois torcedores durante
Inter x Emelec, pela Copa Libertadores, em 4 de março, seis ignoraram a medida cautelar que determinava a apresentação à polícia em dias de jogos do time de Diego Aguirre. Por conta do descumprimento, terão de usar tornozeleiras eletrônicas.
O caso mais emblemático é o de Marx Leo de Boni Silva, 19 anos, integrante da Guarda Popular. Após o incidente na partida válida pela Libertadores, o "Gordo Marx", como é conhecido, se apresentou apenas cinco das 14 vezes que deveria.
O Ministério Público acredita que Marx tenha se envolvido em outra confusão antes de Inter x Atlético-MG, pela Copa Libertadores, em 13 de maio. De acordo com a denúncia oferecida ao Juizado do Torcedor, "o denunciado - acompanhado de outros torcedores - investiu, de surpresa e desferindo socos, contra torcedores do Clube Atlético Mineiro no entorno do estádio".
Cinco dias depois, Marx foi à audiência da briga durante Inter x Emelec no Juizado do Torcedor, em que lhe foi oferecida a transação penal, um acordo para que não fosse aberto processo criminal. Ficou decidido que a restrição de acesso aos estádios valeria por mais 12 jogos. Ao perceber que Marx não vinha cumprindo a medida cautelar, a Promotoria do Torcedor pediu que a transação penal fosse anulada.
O Juizado do Torcedor negou o pedido e explicou que o acordo tem o valor de uma sentença judicial. Não pode, portanto, ser revertido. Mas recomendou ao MP que solicitasse a abertura de outro processo referente à possível participação de Marx na briga antes de Inter x Atlético-MG. Nas últimas semanas, a Promotoria do Torcedor ofereceu a denúncia contra ele e mais cinco torcedores.
O placar do descumprimento impressiona: Andrey Anderson da Costa Chaves não foi à polícia 11 vezes, Márcio Eleno Correa Lima se ausentou 12 vezes, Hamurábi dos Santos, 15, e Andrey da Silva Pereira, sete. Jéverton Luís da Rosa Pereira foi um dos últimos a ser identificado na confusão e descumpriu a cautelar em dois jogos entre a medida e a audiência.
A partir da denúncia oferecida pelo MP, o Juizado do Torcedor determinou o uso das tornozeleiras eletrônicas pelos torcedores. Andrey Chaves, Andrey Pereira, Márcio, Hamurábi e Jeverton responderão por desobediência, enquanto Marx é acusado de exercer direito a que foi privado por decisão judicial (por ir ao Beira-Rio) e de tumulto (por conta da confusão em Inter x Galo).
Por telefone, Marx disse não ter "nada a declarar" sobre o descumprimento e negou ter participado de agressões a atleticanos. Hamurábi citou a dificuldade de voltar da delegacia de madrugada - quando não há ônibus - em jogos noturnos como motivo para as ausências. Jéverton preferiu não se manifestar. ZH contatou familiar de Márcio Eleno, que após falar com o torcedor, avisou que ele não concederia entrevista. A reportagem tentou contato com Andrey Chaves, mas não teve sucesso. Irritado, Andrey Pereira questionou:
- Vocês não têm mais nada para reportar?
Vítimas temem reencontro com agressores
As agressões durante Inter x Emelec abriram um corte no supercílio de Lanir Gularte que, à época, precisou quatro pontos para fechar. Seu filho, Márcio, foi vítima de uma cabeçada no nariz que provocou forte sangramento.
Desde então, a dupla não deixou de frequentar o Beira-Rio, mas cumpriu a promessa de nunca mais assistir aos jogos no setor reservado às organizadas.
Naquela noite, Lanir e Márcio quebraram a rotina e se instalaram no local onde fica a Guarda Popular. Como faziam parte de uma excursão que viera de Parobé para o jogo, não quiseram se separar do grupo quando alguns jovens pediram para se posicionar junto à organizada. Quando uma bandeira atrapalhou a visão do campo, Lanir reclamou, e teve início a confusão.
- Não pode ser normal fazer o que eles fizeram porque eu reclamei de uma bandeira - resume o comerciante e suplente de vereador de Parobé, de 52 anos.
Desde o episódio, Lanir e Márcio tornaram-se mais precavidos ao entrar e sair do Beira-Rio. Temem algum encontro com os agressores ou com seus amigos.
- A gente está sempre se cuidando. Não sabemos se ficou alguma mágoa. Para eles, seria só mais um tumulto - critica.
Avisado pela reportagem sobre o descumprimento da medida cautelar por seis dos oito torcedores envolvidos, Lanir lamenta:
- A gente fica triste. Uma determinação judicial é para ser cumprida. É complicado, porque a gente não tem muito o que fazer em relação a isso.
* ZH Esportes