O rodízio de jogadores no Beira-Rio não pode ser o debate radical entre o certo e o errado. É preciso estar ao menos aberto a pensar sob outra lógica.Diego Aguirre mutilou o Inter na Ilha do Retiro para atender ao rodízio de jogadores, no meio de semana, e por isso só podia mesmo perder. O adversário era o líder da Série A, e não o União Frederiquense.
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Talvez a saída fosse dosar melhor o entra e sai, mantendo uma base de time e deixando que lesões e suspensões por cartão, tão corriqueiras em um calendário apertado, rodassem o grupo naturalmente.
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Não seria preciso provocar situações radicais como a de Recife, quando o Inter foi a campo com oito desfalques: as cinco inevitáveis e mais as de DAlessandro, William e Rodrigo Dourado, fechando só três titulares. Não se trata de um debate entre o tribalismo sul-americano e modernidade europeia.
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Messi disputou todas as 38 rodadas da Liga Espanhola. Neymar, Piqué e Busquets, 33. Suárez, mesmo tendo perdido a largada pela suspensão na Copa, entrou em campo 27 vezes. No Real Madrid - igualmente envolvido com Liga dos Campeões e Copa do Rei, como o Barcelona -, Cristiano Ronaldo e Gareth Bale somaram 35 partidas pela Liga. O alemão múltiplo Toni Kroos jogou 36 das 38 possíveis, enquanto Marcelo foi escalado 34 vezes. Nenhum deles acumulou lesões musculares durante a temporada.
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Discordar do rodízio significa, portanto, condenar Aguirre? É claro que não. Ele é bom técnico. Os fatos estão aí. Não se pode brigar com eles. Aguirre foi campeão gaúcho passando por cima do badalado Felipão e está na semifinal da Libertadores. Só um time brasileiro exibe esta condição, e este time é treinado por quem? Aguirre.
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Já decidiu a competição com o Peñarol, em 2011. No próprio Gauchão, o rodízio ajudou a revelar talentos que hoje são indiscutíveis e que salvarão a vida financeira do clube. Tem mais essa: o uruguaio deveria receber bônus do departamento financeiro. Livrará o Inter do abismo das dívidas.
Suas virtudes são também táticas. O 4-2-3-1, abandonado nos últimos jogos, proporcionou boas atuações na Libertadores. Houve compactação e velocidade na frente, em vez daquele toque de bola lento e insuficiente do ano passado. O que não me impedirá de discordar dele também neste aspecto.
O fato é que levei um susto quando minha caixa de e-mail se encheu de revolta contra Aguirre, após a Ilha do Retiro. Foi assim nas redes sociais, também. O fato de o uruguaio ter postura exemplar, sem jamais ter perdido a linha e ofendido ninguém mesmo quando chegou a ser massacrado no começo de seu trabalho, praticamente me obrigam a voltar ao tema.
Rodízio é uma questão de preferência, de ponto de vista, de opinião. De visão. É preguiça mental não reconhecer que podem existir outros caminhos a não ser a nossa própria verdade, sobretudo no futebol.
Não concordo com o rodízio enquanto filosofia, por entender que o futebol é coletivo e a repetição aprofunda o entrosamento entre seus elementos, mas isso não pode me impedir de reconhecer os pontos em favor de quem pensa diferente. O elogio e a crítica devem se guiar por esta premissa pétrea. O rodízio de Aguirre é convicção sua, fruto da formação de um profissional experiente, e por isso merece respeito.
Não é, por exemplo, como ditadura (errado) e democracia (certo). Discriminação (racismo, xenofobia, homofobia) é errado. No caso do preconceito racial é crime, inclusive. Tolerância e respeito à diversidade sexual são o certo. Pena de morte é errado.
Liberdade de imprensa é certo. Corrupção é errado. Proibir biografias é errado. Liberá-las é certo. Nenhuma criança sem escola é mais do que certo. É a única saída. Analfabetismo é mais do que errado. É a prisão.
Há muitos temas que merecem nossa contundência e intransigência. O rodízio de jogadores do Inter de Diego Aguirre, definitivamente, não está entre eles.
Opinião
Diogo Olivier: rodízio de jogadores não pode ser debate radical
Diogo Olivier
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