Diego Aguirre é um dos nomes do momento no Brasil. A classificação à semifinal da Libertadores colocou o técnico uruguaio do Inter em evidência. De Montevidéu, partiu a informação de que o presidente do Real Madrid, Florentino Perez, o quer para comandar o clube daqui a cinco anos - tema que deixa Aguirre ruborizado e com um sorriso tímido. Campeão da Libertadores de 1987, marcando o gol do título do Peñarol, ele quer ganhar a América como treinador. Foi vice em 2011. Nesta entrevista a ZH, Aguirre projeta o time na Libertadores e no Brasileirão, aposta em Anderson e em Vitinho, diz que seguirá investindo na base e garante estar atento ao mercado uruguaio, de olho em reforços.
Inter classificado às semifinais da Libertadores. Dá pra dizer que é um trabalho consolidado?
Estamos bem. Foram jogos muito difíceis. Mas ser o time do Brasil que continua na Libertadores, quando não era um dos favoritos... Inter está fazendo um bom trabalho, está no caminho certo. Não sei se consolidado. Nestes cinco meses, conseguimos algumas coisas, como o Campeonato Gaúcho, que para mim é muito importante, ganhar do Grêmio nas finais. Eliminamos o Atlético-MG, ganhamos respeito. Depois, perder na Colômbia, virar em casa. Fizemos um bom jogo, com personalidade, atitude, num estádio maravilhoso, com a torcida. É uma energia positiva e faz com que a gente vá consolidando um time e torcendo por uma coisa boa no futuro.
O Inter já está 100%?
Talvez 100% não consiga nunca. Mas temos de tentar dar o máximo, e meus jogadores estão cada vez melhor, em alto nível. Para estar nesta instância, é porque o time está em uma boa fase e com alto nível de rendimento de cada um dos atletas. Senão, não tem como estar onde estamos. Especialmente por esta Libertadores. Todos os times classificados eram muito fortes e candidatos (ao título). Bom, e muitos deles foram ficando para trás.
Você começa a ser uma referência no Brasil como técnico estrangeiro. Acredita que um treinador de fora assuma a Seleção?
Não. O Brasil tem de ter técnico brasileiro, não está preparado para uma coisa assim. Ou, talvez, um grande nome como Mourinho, Guardiola talvez. Mas isso é um tema cultural, e não acho que vá acontecer. Não gosto de diferenciar treinadores estrangeiros. Somos todos treinadores. No mundo é assim. Na Inglaterra tem dois treinadores espanhóis, um italiano, um argentino e ninguém fala em técnico estrangeiro. Tem treinadores. Na Espanha, é a mesma coisa. Na Itália.
Talvez nós, brasileiros, estejamos atrasados nisso?
Não atrasado, isso não. Talvez um pouco fechado. O Brasil continua sendo o maior do mundo e o mais respeitado. Não se pode mudar do dia para a noite. O Brasil está aberto com este mundo. É necessário este intercâmbio de diferentes culturas, diferentes formas de sentir o futebol. Para mim, tem sido uma experiência fantástica, incrível. Estou amadurecendo muito em conviver com jogadores de altíssimo nível. Uma coisa que tem o Brasil é isso, jogadores campeões mundiais, na Europa. Para mim, poder conviver com os jogadores do Inter é muito bom.
Técnicos "medalhões" foram eliminados na Libertadores, como Tite no Corinthians. Como você vê o insucesso dos favoritos?
Isso é futebol. Só ganha um. E aqui no Brasil, às vezes, se valoriza muito os times campeões e os outros parecem que não servem. Não é assim. Agora, na Europa, o Guardiola perdeu nas semifinais e todo mundo continua respeitando-o como grande treinador. Os treinadores que você fala são grandes, que ganham muita coisa. Mas, às vezes, perdem. E não significa que, por estarmos ganhando, eu seja o melhor treinador.
O que os quatro finalistas da Libertadores têm em comum?
Primeiro, chegaram porque mereceram. Todos fizeram coisas boas. Acho que o Inter mereceu. River Plate a mesma coisa, mostrou uma personalidade incrível. Perdeu em casa e fez três gols contra o Cruzeiro, no Mineirão. Guarani chegou com um esquema que ninguém acredita muito, jogando fechado. Todos os jogadores sabem o que precisam fazer em campo para se defender. Tem muita humildade. E conseguiu eliminar o Corinthians. O Tigres foi o primeiro de seu grupo, o segundo no geral. Nós, o terceiro. Os quatro são fortes, têm possibilidades. Já escutei que a final será Inter e River. Por que? A final pode ser Guarani e Tigres. Eles têm as mesmas chances. Temos de tentar, primeiro, ganhar um lugar na final contra um grande time como é o Tigres.
No Brasileiro, o Inter terá desfalques como D'Alessandro, Sasha, Nilmar. Como lidar com isso?
Faz parte. Gostaria de ter todos os jogadores. Mas estou muito tranquilo, porque todos os outros têm ritmo, têm jogado, têm continuidade. Isso me permite seguir dando oportunidades. Não tem nenhum jogador que possa falar que o treinador não deu oportunidade. Tenho certeza de que os jogadores que forem jogar estão preparados.
Cirurgias, convocações, isso não causa descontinuidade no time? E você está seguro de que o Inter não vai vender ninguém?
Não, eu não estou seguro disso porque tenho de falar com o presidente. Eu não decido. Se fosse por mim, não venderia ninguém. Agora, depois da Libertadores, é normal. Acho que tem de vender. Mas acho que vão ficar todos os jogadores. Pelo menos enquanto estivermos na Libertadores. Temos a possibilidade de incorporar jogadores. Agora, eu não tenho essa ideia. Acho que os jogadores que conquistaram esta possibilidade merecem, mas não temos porta fechada para alguma incorporação. Quanto à descontinuidade, temos tempo para a descontinuidade e, depois, para dar continuidade. É difícil planejar tão a longo prazo, uma semifinal quando tem antes, 10, 12, 14 jogos pelo Brasileiro. Vai acontecer muita coisa.
Você fez alguma indicação de reforços à direção?
Sempre tenho algum jogador na cabeça, um uruguaio. Não é nenhuma certeza. São possibilidades com coisas que podem acontecer. Estou atento e é minha obrigação ter uma base de jogadores de possibilidades para qualquer coisa. Por agora, não.
Seria para o setor defensivo?
Não. Temos zagueiros que estão muito bem: Ernando, Alan, Juan, Paulão, Réver. Para que quero mais?
E as laterais?
Já fechamos ali (brincou Aguirre, referindo-se à zaga, e mudou de assunto).
A ideia é seguir apostando em Nilmar e Lisandro López juntos?
Com certeza, vamos continuar experimentando. Essa é a possibilidade para o Brasileiro. E vai depender do rendimento. Os jogos vão dar esta resposta. Vão jogar os dois juntos, jogar um só, com D'Alessandro atrás, com Valdívia. Também não vamos mudar muito as coisas que foram certas. Não vou apartar a ideia do que imagino que seja o time para enfrentar o Tigres.
Ficou alguma lição daquele Peñarol vice-campeão da Libertadores de 2011?
Sim, tem sempre coisas que se aprende. Libertadores é sempre uma competição especial. Mas a situação no Inter comparado ao Peñarol é bem diferente. Aqui, no Inter, você é o favorito, você tem a obrigação de ganhar. No Peñarol, estava todo mundo feliz por estar onde estava. Fazia mais de 20 anos que não estavam numa semifinal. A pressão era diferente. Se perde (no Inter), é muito trágico.
E o que a pressão ajuda?
Estar concentrado, focado em trabalhar ao máximo. Estar sempre alerta. A pressão é boa, necessária. Se não tem pressão, começa a treinar sem comprometimento. Não um excesso de pressão. Às vezes, o excesso, deixa o jogador nervoso, e não pode jogar.
Como você convenceu jogadores consagrados, ricos, a aceitar o rodízio?
Acho que viram minha convicção, minha honestidade na proposta. Não foi difícil. O principal pelas coisas darem certo são eles. Desde o primeiro dia, aceitaram a nossa ideia, a proposta diferente, nossa mentalidade. E eles nos ajudaram. Falo muito com os jogadores experientes, pergunto o que pode melhorar. Como não vou aproveitar e falar com D'Ale, Juan, Dida ou Alex? Se não faço isso, não aproveitaria. São jogadores maduros, com experiência, que sabem muito sobre futebol. Estou surpreso com a instabilidade dos treinadores nos clubes. É ridículo. Um treinador numa semana é muito bom e na outra está para ser demitido. E todo mundo alimentando isso, querendo que seja demitido. Não tem memória? Tem treinadores campeões, que dão alegrias e, em 20 dias, tem de ser demitidos porque o time perdeu. Isso precisa mudar. Os diretores dos clubes precisam de mais convicção, personalidade.
Se o Inter oferecer mais um ano de contrato, você aceita?
Não, esse não é o momento. Falta muito. Não é só ser o treinador. Eu também tenho família, coisas pessoais. Coisas que fazem eu tomar a decisão.
Vitinho e Anderson eram apostas para o ano. O que acontece com eles?
Para mim, vieram sem continuidade no futebol. E, agora, estão começando a melhorar. Anderson está melhor, vai jogar domingo (hoje). Vitinho está trabalhando bem, pegando ritmo. Precisa de paciência, tempo. Mas vão dar certo.
Depois da tensão de quarta, você conseguiu tomar a "cervejinha" citada na coletiva pós-jogo?
Tomei a cervejinha com os meus irmãos (Álvaro e Gonzalo), relaxando. Era necessário.
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