Quando disse, há alguns anos, que o Gre-Nal arruma a casa, fui compreendido pela metade, como se o resultado favorável produzisse o efeito mágico de superar (ou esconder) os problemas do time. Isso é verdade, mas não é tudo, nem o principal. A arrumação da casa precisa começar antes do jogo.
Lembro que no dia do Mazembe escrevi na ZH sobre a meia-cancha colorada: "Alguém fica, Celso". Acho que a edição chegou tarde a Abu Dhabi.
Minha fama de retranqueiro é justa, mas superada, vem do tempo em que defendia um volante à frente dos zagueiros. Hoje ninguém usa menos de dois, e, disfarçadamente, o mais frequente é que sejam três, produzindo a mais surpreendente novidade, a retranca vulnerável. Simples: quem tem dois ou três volantes não tem nenhum.
Detesto tomar gol. Três, então, abomino até quando meu time faz cinco. Pode ser véspera de três a zero contra. Agora ando me patrulhando para não pregar a escalação obrigatória de jogadores medíocres. Eles são disciplinados, cumprem função, anulam craques e até fazem gols históricos contra o Barcelona. O ideal anda cada vez mais raro, o craque aplicado, um Falcão, um Zé Roberto, sem falar no Pelé.
O pior jogador de futebol não é o ruim, vários são campeoníssimos. É o falso bom, que finge fazer tudo e não faz nada. O paraíso deles é o setor de armação, evitam o perigo das duas áreas e exibem primorosa técnica individual quando não há marcação por perto. São os craques do supérfluo.
Ao perder Fernando, o Grêmio perdeu o único volante verdadeiro que tinha, capaz de jogar, quando possível, e de marcar sempre. Ygor também fazia isso no Inter. Os substitutos azuis ou vermelhos andam, todos eles,"jogando" demais e marcando de menos.
Não sei se o Renato sabe disso. O Dunga eu sei que sabe. Seus resultados provam, como jogador ou treinador. Ele talvez não tenha achado o operador para a tarefa. O Dunga está sem o seu Dunga.