Índio recém havia chegado ao Beira-Rio em 2005. Os médicos diagnosticaram pequeno estiramento na panturrilha. Era lesão para um mês de recuperação. O zagueiro ficou contrariado. Recebia a contragosto o tratamento convencional. Nos intervalos, administrava o seu próprio. Em pé, diante de uma parede, dava repetidos biquinhos nela.
- Índio, tens de seguir o tratamento - insistia o médico e fisiologista Luiz Crescente.
- Que nada, doutor. É assim mesmo, tenho que fazer isso até passar a dor. Depois que passar, estou pronto - respondia o zagueiro.
Uma semana depois, Índio voltava aos treinos. Apresentava ao Inter a sua credencial. Tratava-se de um "casca-grossa", atleta com altíssima tolerância à dor. Crescente não recorda de outra lesão muscular de Índio em sete temporadas no Beira-Rio. Para derrubá-lo, só como fez o argentino do Rosario Central, que acertou-lhe joelhada nas costas e provocou fratura nas costelas e perfuração de um dos pulmões.
Índio completou 37 anos na terça-feira (14/02). Seria a idade da aposentadoria para um jogador normal. O que não é o caso dele. O zagueiro inverte o roteiro de um atleta. Mantém o alto rendimento físico. O Inter não revela números dos testes, mas Crescente garante que Índio está entre os melhores:
- Ele nasceu para ser atleta. E tem mais, é um jogador sem medo.
O destemor vem da origem na várzea. Índio começou a jogar aos 19 anos. Saiu da roça, onde colhia amendoim e cana-de-açúcar, para teste no Novorizontino. Passou e virou profissional. Não cumpriu estágio nas categorias de base, de onde os jogadores saem com alguns melindres. Ajuda sua longevidade também o menor desgaste. Jogava por diversão até os 19 anos. Ficou livre de, pelo menos, cinco anos de treinos e lesões comuns durante a formação de um atleta.
Nas entrevistas, o zagueiro garante gás para jogar mais "dois ou três anos". No vestiário, porém, o discurso muda. Não estipula prazos, mas taças. Presente nas grandes conquistas recentes do Inter, diz sonhar com mais.
O momento é especial. Recuperou o lugar na zaga, joga em alto nível e harmonizou sua vida fora de campo. Desde abril, voltou a ser assíduo nos cultos evangélicos. O novo comportamento é saudado no clube.
Índio desfruta de unanimidade no vestiário. Sujeito boa praça, simples, cativa do porteiro ao presidente. Sempre que chega para o treino, cumprimenta a todos com um beijo no rosto. Não chama ninguém pelo nome. Para ele, todo mundo é "pai". Até mesmo Marcos Júnior, o filho de 11 anos.
Marquinhos é a cópia do pai. Quando acompanha Índio nos treinos, encanta pela simpatia e a habilidade com a bola. Dia desses, trocava passes com Dorival. A bola veio alta, ele dominou com a cabeça e emendou uma bicicleta.
A partir de março, Marquinhos treinará no Inter. Será o parceiro do pai nas idas e vindas ao Beira-Rio. Índio curte a ideia. A família está no centro deste bom momento. Na quinta-feira, o zagueiro abriu as portas de casa para uma foto em família. A mulher, Lilian, é a namorada de infância. Em 2012, completam 17 anos juntos. Ela tinha 15 anos e ele era zagueiro do Novorizontino quando se conheceram. A caçula Gabriela, oito anos, completa a trupe. Ou melhor, a tribo que dá força a Índio. Muita força.
Nos tempos de Ribeirão
Em outubro de 1999, o Inter levou 2 a 1 do Botafogo-SP em Ribeirão Preto e se enredou na zona do rebaixamento - escaparia contra o Palmeiras. Na zaga, aos 24 anos, estava Índio. Passados 13 anos, Índio se tornou o zagueiro com maior número de gols (30) em 102 anos de Inter e passou Figueroa em número de gols em Gre-Nais (seis em 18 clássicos).
Veterano guri
Titular absoluto no Inter, Índio completa 37 anos sem pensar em aposentadoria
Zagueiro recupera lugar entre os titulares colorados e celebra bom momento
Leonardo Oliveira
Enviar emailGZH faz parte do The Trust Project