Nem mesmo os 100% de aproveitamento do Grêmio nas cinco primeiras rodadas do Gauchão impedem Renato Portaluppi de pensar em mudanças na equipe. O treinador não esconde que está fazendo experiências e que o número de opções no meio-campo ainda lhe deixa dúvidas. A principal diz respeito ao posicionamento de Bitello.
O jovem jogador é uma das melhores peças da equipe. Vice-goleador da temporada (atrás apenas de Luis Suárez), ele vem se destacando desde o ano passado como um meia dinâmico, que agrega força ao sistema defensivo mas se junta bastante ao ataque, aparece na área e faz gols. Renato já o escalou como segundo volante, como meia avançado e agora está testando aberto pelo lado direito.
O treinador chegou a comparar sua função à de Everton Ribeiro no Flamengo. A ideia é de que o lado do campo seja apenas um ponto de partida, sem lhe tirar a liberdade de se mover para outros setores e abrir espaço para companheiros preencherem seu setor. A resposta, porém, ainda está longe de agradar ao técnico.
— Estamos fazendo experiências. Temos muita gente no meio. Estamos testando um esquema que não está me agradando. Não tem espaço para todo mundo. Estou dando oportunidades para decidir lá na frente. O Bitello vinha jogando muito bem por dentro. Ele não gosta muito de jogar por ali, mas não precisa se fixar. Estou tentando adaptá-lo — declarou Renato na última entrevista coletiva.
Bitello foi titular em cinco partidas na temporada, quatro do Gauchão mais a Recopa Gaúcha. Ficou no banco apenas diante do São José, no gramado sintético do Passo D'Areia. Em três delas, foi meia central, posicionado à frente de uma dupla de volantes (ora Villasanti e Pepê, ora Carballo e Pepê). Diante de São Luiz e Caxias, fez gols de dentro da área. Não marcou apenas contra o Brasil de Pelotas. Nas outras duas, começou aberto pela direita. No confronto com o Esportivo, acabou caindo mais para dentro porque as circunstâncias do jogo abriram espaço para Fábio ocupar a lateral, enquanto para enfrentar o Aimoré, foi dele a missão de alongar o campo. Em nenhuma das duas partidas se destacou. Apesar disso, os experimentos continuarão.
— Estou dando oportunidades para os que chegaram. No momento que tiver que tomar uma decisão, saberei o que estou fazendo. Tem os jogadores que eu conheço bem. O Villasanti é um deles — explicou Renato.
Contra o Juventude, o Grêmio pode fazer mais experiências. Em tese, não haverá problemas físicos, já que o tempo de descanso foi maior (a última partida ocorreu no sábado, a próxima será na quinta-feira). Não está descartado que Renato use Bitello novamente pelo meio e abra espaço para um novo teste na ponta. O modelo de 2017, que tinha Ramiro como jogador aberto pela direita no trio ofensivo do meio-campo, parece ser o perseguido na Arena.
A seguir, veja como foram os posicionamentos de Bitello nas partidas em que foi titular. E também as opiniões de analistas do Grupo RBS sobre o funcionamento do meio-campo gremista.
Bitello titular em 2023
4 x 1 São Luiz
Bitello foi escalado como meia avançado centralizado, à frente de Villasanti e Pepê. Com liberdade de deslocamento, ajudou a equipe fazendo um gol. Ele recebeu por dentro e, já na área, fez o segundo do Grêmio.
2 x 1 Caxias
Bitello repetiu o posicionamento, desta vez à frente de Carballo e Pepê. A seu lado estavam Campaz e Ferreira. Bitello novamente marcou um gol, pela segunda vez seguida de dentro da área, aproveitando um rebote.
1 x 0 Brasil de Pelotas
Bitello foi o meia ofensivo, tendo como suporte Pepê e Carballo, e, como parceiros, Ferreira e Galdino. A maior parte de suas ações ocorreu pela faixa central. O time atacou bastante, então se locomoveu por mais setores.
2 x 0 Esportivo
Foi a primeira vez que Bitello iniciou pela direita. Diante da retranca do Esportivo, ele acabou fechando um pouco mais por dentro e abrindo espaço para Fábio avançar. A consequência foi ter ficado longe da área.
3 x 0 Aimoré
Bitello começou como meia ofensivo aberto pela direita. Em tese, seu posicionamento era o mesmo de Ferreira, mas do lado oposto. Teve quase 80% das ações na beirada do campo. Não teve participação direta nos gols.
Colunistas opinam — Qual deve ser a posição de Bitello?
Marcelo De Bona
Meu time ideal do Grêmio tem Villasanti, Pepê, Bitello e Cristaldo em um losango. Carballo sobraria do time, ainda que tenha demonstrado qualidade no passe, mas sem o volume de jogo que Pepê e Bitello conseguem entregar. Se a ideia de Renato for seguir com uma linha de três atrás de Suárez, mexeria no posicionamento de Bitello, deslocando para a direita. Não para ser o "dublê de Ramiro". Isso é passado. Até porque o atual meio campista do Grêmio pode entregar muito mais.
Marcos Bertoncello
Aqui não é o espaço, mas já acho que valeria um debate sobre mudar o esquema, tendo em vista que o Grêmio não tem extremas suficientes (quantidade e qualidade) para atuar no atual modelo. Mantendo a linha de raciocínio para o tema proposto, eu escalaria Bitello, Cristaldo e Ferreira. Pela polivalência, Bitello precisaria adaptar-se no lado direito. Cristaldo solto pelo meio potencializando seu poder de finalização e também sua parceria com Suárez. Ferreira, o único extrema do time atualmente, aberto pela esquerda, onde melhor rende.
Gustavo Manhago
Bitello, quando escalado na ponta direita, torna-se um jogador comum. Renato precisa encontrar uma outra solução para a função, escalando o jovem talento tricolor por ali está estragando o time. Bitello auxilia na marcação e na criação, chegando na área, por dentro. Jamais pela extrema. Para mim, Bitello é segundo homem do meio-campo, titular à frente de Pepê.