O número 39 nas costas denota que quando a numeração do Grêmio para a temporada foi definida, Bitello não era cotado entre os principais nomes do elenco. Talvez se a distribuição fosse refeita hoje, após cinco rodadas da Série B, Roger Machado jogaria para o atleta de 22 anos um uniforme com o 10 estampado nele.
Outro ponto que comprova a ascensão do jogador está no debate se o treinador gremista joga com três volantes ou se Bitello pode ser considerado um meia. Para Roger, não há dúvidas.
— Vamos dar a camisa 10 para ele, talvez aí não enxerguem ele como volante— sentenciou, contrariado, após a vitória por 2 a 0 sore o CRB, no sábado (30). — A qualidade com que ele toca a bola... É preciso olhar o futebol de forma diferente. Ele é o meia do time, com uma qualidade que poucas vezes eu vi — criticou, ao complementar.
A dúvida ajuda a entender a importância de Bitello na equipe tricolor. A disparidade de opiniões se dá porque o meio-campista apresenta bons números defendendo como um volante e atacando como um meia.
Para ilustrar o crescimento da principal figura gremista no início da campanha na Segunda Divisão, GZH apresenta cinco motivos para a ascensão do jogador com a camisa do Grêmio.
1) Falta de dinheiro
Assim que a queda para a Série B começou a se desenhar, a direção gremista vislumbrou que caso a descenso se confirmasse, a saúde financeira não seria mais a mesma. Sem a manutenção das receitas, o elenco passou por uma reformulação. Salários mais vultuosos deixaram a Arena e, com pouco dinheiro em caixa, não havia chance de grandes contrações. O novo contexto fez com que jogadores que tiveram seu crescimento emperrado nas temporadas passadas terem maior espaço em 2022.
2) Troca de técnico
O novo panorama foi importante para Bitello andar na fila, mas não foi definitivo. O clube ainda buscou um meia clássico para a temporada. O nome encontrado foi Benítez. No quinto mês do ano, o argentino passou a ser peça decorativa no elenco, sendo pouco utilizado.
A verdadeira oportunidade surgiu quando Vagner Mancini foi demitido. A contratação de Roger Machado iniciou uma reavaliação do grupo de jogadores. Após testar algumas alternativas, o treinador encontrou a formação mais eficaz, e ela tem Bitello como uma das peças principais. O jogador entrou em campo 17 vezes na temporada e marcou três gols. Benítez, por outro lado, esteve em campo por somente 315 minutos.
3) Maior dinamismo
Desde a chegada de Mancini nos últimos jogos do Brasileirão do ano passado, um punhado de formações foi tentando na procura por um maior equilíbrio em campo. As tentativas foram frustradas. O caminho começou a ser mostrado nas partidas finais do Gauchão, quando Roger montou um time que conseguiu preencher a faixa central do campo e ter velocidades pelos lados.
A estrutura tem Bitello como uma espécie de cola entre as fases defensiva e ofensiva. A versatilidade para ser eficiente com e sem a bola é o aspecto que o ajuda a ser um dos protagonistas do Tricolor nas últimas partidas.
— Bitello me convenceu no campo de que pode ser meia da mesma forma que Lucas Silva parece ter convencido Roger Machado de que não pode desempenhar as mesmas funções de Bitello. Bitello pode ser meia, Lucas Silva, não. O combo posição/função/aptidão é que deve definir o que cada um pode fazer em campo. Roger acerta redesenhando o setor e liberando Bitello para ser meia ao trazer Lucas Silva para volante com Villasanti. Assim, pode continuar a dar certo — avalia Maurício Saraiva, colunista de GZH.
4) Finalizações e assistências
Os números ofensivos de Bitello são animadores. Sua contribuição vai além dos três gols na temporada. Levando em conta somente a Série B, ele é o terceiro jogador com mais passes completados no Grêmio, ficando atrás de Villasanti, Lucas Silva e Bruno Alves.
Mas o que ele faz com esses passes é o diferencial. O jogador é o principal assistente para finalizações, com nove passes que resultaram em arremate. Quando não encontra um companheiro em melhores condições, ele mesmo arrisca, como no golaço marcado no fim de semana.
É o terceiro jogador da equipe com mais chutes no gol na Série B, com três arremates. Na frente dele, estão os atacantes Elias (5) e Diego Souza (4). Levando em conta os arremates que não vão em direção ao alvo, o camisa 39 teve sete tentativas. Elias, com 11, é o único gremista que tentou conclusões em maior quantidade.
— Na Série B, Bitello também tem se mostrado mais participativo no setor ofensivo, pisando na área o tempo todo, arriscando chutes de meia-distância e se aproximando de Biel pela esquerda como opção de passe. É um jogador que dá dinâmica ao jogo do Grêmio e que tem se mostrado importante na evolução que o time de Roger tem apresentado nesta Série B — opina Renata Mendonça, comentarista do Premiere no jogo contra o CRB.
5) Interceptações
Sem a bola, Bitello lidera duas estatísticas gremistas. É o jogador que mais intercepta a bola. As cinco interceptações lhe dão o maior índice entre os jogadores gremistas na Segunda Divisão e a segunda posição levando em conta todo o torneio, de acordo com dados da plataforma Footstats.
Entre os jogadores comandados por Roger, ninguém desarma mais do que ele. São 11 roubadas de bola, o quinto melhor de toda a Série B.