Há partidas que simbolizam mudanças de expectativas em um campeonato ou até mesmo na temporada de um clube. A vitória do Grêmio sobre o Flamengo dentro do Maracanã tem tem potencial para daqui algum tempo ser olhada dessa forma. O triunfo obtido diante do badalado time comandado por Renato Portaluppi pode ser um divisor de águas para o Tricolor no Brasileirão.
Por ter tido dois compromissos adiados do primeiro turno — contra o mesmo Flamengo e o líder Atlético-MG —, o Grêmio completou apenas no último domingo o seu 19º jogo, o equivalente à metade do campeonato. A situação ainda está longe de ser tranquila. O Tricolor segue dentro do Z-4, posto incômodo que frequenta desde a segunda rodada.
Em um cenário positivo, no entanto, pode ser visto pela campanha sob o comando de Luiz Felipe Scolari. Desde a chegada do treinador, no começo de julho, o Grêmio conquistou 60,6% dos pontos disputados e venceu mais da metade das partidas, seis de um total de 11.
Sempre cuidadoso para evitar que a euforia entre no vestiário, Felipão tratou ainda no Maracanã de evitar falar sobre seus números e ressaltou que a campanha do clube ainda deve ser avaliada ao longo dos 19 jogos.
— Esses números não representam a nossa realidade. Quando assumi, o Grêmio tinha dois pontos. Então eu tenho que fazer pelo Grêmio a mesma coisa do que se tivesse 30. O mérito não é só meu, é meu, mas também é dos atletas que entenderam que precisávamos mudar atitudes e entender algumas características. Encerramos o primeiro turno agora, com 19 jogos, e temos 22 pontos. Começamos a dar alguns passos porque conseguimos equilibrar algo que estava muito difícil no começo — ressaltou.
Internamente, a avaliação gremista foi de que o time tirou lições dos confrontos da Copa do Brasil com o Flamengo, principalmente para ter a concentração mantida ao longo dos 90 minutos e não apenas na primeira etapa.
— O Felipão sempre teve um "cinismo do bem", no sentido de fazer um discurso para fora e dentro trabalhar de outra forma com os jogadores. Fora, ele disse que o Flamengo não era o adversário do Grêmio, que esse não era o jogo mais importante, que eram os próximos, mas dentro mexeu com os jogadores dizendo "não é possível que vamos perder de novo". A partir dessa mobilização, ele conseguiu um nível de compromisso de marcação e entrega para anular o Flamengo. O Grêmio anulou o jogo por dentro e o Flamengo não soube o que fazer — avalia Paulo Vinícius Coelho, o PVC, que comentou a partida entre tricolores e rubro-negros pelo Sportv.
O sistema tático com três volantes usado no Maracanã foi uma forma de parar o poderio do Flamengo, mas não significa que será um padrão para a sequência do Brasileirão. O próprio Felipão deixou aberta a possibilidade de mudanças.
— Haverá jogos nos quais teremos de mudar as características. Lembro contra o Ceará, quando atuamos com dois pontas (Jhonata Robert e Ferreira) e outro ponta (Alisson) pelo meio para dar mais uma saída de bola pelos lados. Iremos analisar mudanças, o que pode dar certo em alguns momentos e em outros não — projetou.
— Não é justo taxar o Felipão de "retranqueiro". Ele foi campeão do mundo em 2002 com a Seleção Brasileira tendo o melhor ataque. Foi bicampeão brasileiro, com Grêmio (1996) e Palmeiras (2018), com melhor ataque. Ele é pragmático. Ele tem hoje um time inferior ao Flamengo, o Grêmio está construindo um time para ser forte ano que vem. Ele pensou: o que posso fazer contra o Flamengo? Marcar, marcar e ter uma estratégia de contra-ataque — completa PVC.
Independente de esquemas ou das mudanças que Felipão fará ao longo do segundo turno do Brasileirão, o Grêmio espera deixar o Z-4 nas próximas semanas para, quem sabe, almejar algo mais do que apenas escapar do rebaixamento. A distância para a vaga na Sul-Americana (12º colocado) no momento é de apenas três pontos. Para o G-6 é de oito, mas vale lembrar que há possibilidade de até o nono colocado do Campeonato Brasileiro ir para a Libertadores de 2022 dependendo do que acontecer em Copa do Brasil, Sul-Americana e na Libertadores deste ano.