O desejo de repatriar Cássio não é uma novidade no Grêmio, mas ganhou força na reta final da temporada. Depois de barrar a titularidade de Vanderlei e ver Paulo Victor falhar nos confrontos decisivos com o Palmeiras, pela Copa do Brasil, a comissão técnica apontou a busca por um goleiro como uma das prioridades para 2021. Neste cenário, o ídolo corintiano surge como plano A.
No clube paulista desde 2012, Cássio viveu o auge de sua carreira, sendo peça fundamental nos títulos da Libertadores e do Mundial de Clubes, no mesmo ano, e contribuindo para os títulos do Brasileirão de 2015 e 2017. Vestir a camisa gremista, no entanto, seria a chance de reatar um nó que ficou pendente no passado.
Nascido em Veranópolis, o goleiro subiu da base gremista em um momento turbulento, quando o clube voltava à Série A.
— A concorrência era braba. Galatto era o herói da Batalha dos Aflitos. Cássio disputava a reserva com Marcelo Grohe em todas as categorias de base — descreve o jornalista Celso Unzelte, autor da biografia do atleta, intitulada "Cássio: a trajetória do maior goleiro da história do Corinthians".
Em 2006, chegou a disputar uma partida do Brasileirão, contra o Fluminense, em Volta Redonda, sob o comando de Mano Menezes. Na única oportunidade em campo, ingressou no segundo tempo porque Galatto havia se lesionado. Nos acréscimos, fez um lançamento de sua própria área para que o atacante argentino Herrera concluísse de cabeça, decretando a vitória gremista por 2 a 1.
Cássio alcançou o maior destaque com a camisa da seleção brasileira sub-20 no ano seguinte. Com o corte do goleiro santista Felipe, por doping, o atleta gremista foi convocado para disputar o Mundial da categoria, no Canadá, em janeiro. Seria o reserva de Muriel, do Inter, mas ganhou a posição no decorrer do torneio. Atuou ao lado de jogadores como Alexandre Pato, Luiz Adriano e Jô, mas não conseguiu evitar a eliminação para a Espanha, de Piqué e Juan Mata, nas oitavas de final. As atuações chamaram a atenção do PSV Eindhoven, da Holanda.
— Ele tinha ido muito bem pela seleção brasileira de base. O Grêmio recebeu uma proposta muito boa e teve de vendê-lo, pela situação financeira que vivia. A gente sabia que ele era um goleiro de futuro, mas, naquele momento, se tivesse chegado uma proposta pelo Grohe ou Galatto, o Grêmio também teria vendido, assim como vendeu o Anderson. O clube estava no condomínio de credores e precisava vender os jovens — explicou Paulo Pelaipe, então diretor de futebol gremista, que hoje atua como executivo do Botafogo-SP.
Assim, ao final de junho de 2007, o Grêmio bateu o martelo e negociou o jovem de 20 anos por 1,5 milhão de euros (pouco mais de R$ 4 milhões pela cotação da época). O tempo passou, e Cássio não conseguiu se firmar também no futebol europeu. Assim, foi emprestado ao Sparta Roterdã, também da Holanda.
Se tivesse chegado uma proposta pelo Grohe ou Galatto, o Grêmio também teria vendido, assim como vendeu o Anderson
PAULO PELAIPE
diretor de futebol do Grêmio na época
Cinco anos depois, indicado por Tite, o goleiro desembarcou em São Paulo para se eternizar na história do Corinthians.
Agora mais experiente, aos 33 anos, tem contrato com o clube paulista até dezembro de 2022. Além do vínculo, contam como empecilho para seu retorno a Porto Alegre a recente liberação de Walter, seu reserva imediato, para o Cuiabá. Ainda assim, o Grêmio segue apostando no lado emocional para trazê-lo de volta.
— Se você me fizesse essa pergunta há um ano, quando lançamos a biografia dele, eu te garantiria que não (voltaria). Mas de lá pra cá muita água rolou, houve um certo desgaste. E se há um clube com identificação suficiente para tirá-lo do Corinthians, esse clube é o Grêmio — conclui Unzelte.