O torcedor do Grêmio pode até não lembrar, mas antes da paralisação dos campeonatos, há mais de 100 dias, o técnico Renato Portaluppi vinha armando o time de uma maneira diferente. Com a ida de Luan para o Corinthians, e com Jean Pyerre se recuperando de uma lesão que o afastou dos gramados ainda em setembro do ano passado, o Tricolor abandonou o tradicional 4-2-3-1 para jogar com três volantes. A escolha, segundo o treinador, dava-se porque o experiente Thiago Neves, recém-contratado após rescindir com o Cruzeiro, ainda não estava 100% fisicamente.
Esta, no entanto, é uma das realidades que mudará a partir da retomada do futebol. Com todo o elenco recuperado, trabalhando no CT Luiz Carvalho, Renato poderá escalar qualquer um de seus dois meias articuladores. Ou até mesmo usar os dois juntos, caso queira.
— No Cruzeiro, o Thiago jogou 90% das vezes centralizado em uma linha de três, atrás do centroavante, que é onde o Jean Pyerre gosta de atuar. Mas, aqui em Minas, ele também chegou a jogar mais avançado. Às vezes, o Mano (Menezes) tinha problemas no setor e o colocava improvisado. Em raros momentos, quando o Rodriguinho foi contratado, ele entrou aberto, mas ficou muito claro que ele não tem recomposição nenhuma. Não tem leitura, nem pulmão para ficar voltando. Quando jogou assim, não correspondeu — relembra Henrique Fernandes, comentarista da TV Globo Minas e do canal SporTV.
Na última vez que o Grêmio esteve em campo, ainda em 15 de março, foi possível ver este cenário ao longo de 43 minutos. Depois de sair perdendo por 2 a 0, em casa, para o São Luiz, Renato mandou Jean Pyerre a campo com 23 minutos de jogo. A saída foi tirar o colombiano Orejuela, recuando Thaciano para a lateral direita, e posicionando Matheus Henrique como único volante da equipe. Formatado em um 4-1-4-1, o Tricolor partiu para cima do adversário e, com gol de Thiago Neves, empatou o jogo. A virada se daria nos minutos finais, com Diego Souza, que ingressou justamente no lugar do camisa 10.
Apesar de atuarem na mesma faixa de campo, o mapa de calor de ambos naquela partida demonstra uma maior movimentação de Jean Pyerre, que permaneceu mais posicionado pelo lado esquerdo.
— Não tem como, o Grêmio perde muita força de marcação. Para uma situação de emergência, como era o caso, o Grêmio perdendo de 2 a 0 com 20 minutos, pode ser uma alternativa. Mas vale até lembrar que o primeiro gol do Grêmio é uma bola alçada na área, e o Paulo Miranda faz um gol de cabeça. Nem é jogada trabalhada. Quer dizer, não foi fruto desse redesenho tático. O Thiago Neves que estamos vendo no Grêmio, somado ao Jean Pyerre, que a gente discutia que deveria ser mais marcador, seria uma demasia. É um ou outro. Na minha opinião, Jean Pyerre — atesta o colunista de GaúchaZH Diogo Olivier, que comentou a virada gremista sobre o São Luiz pela Rádio Gaúcha.
Neste ano, depois de se recuperar de lesão, o jovem Jean Pyerre disputou apenas três partidas, sempre entrando no segundo tempo. Em sua primeira aparição, substituiu o próprio Thiago Neves na vitória sobre o Pelotas, também pelo Gauchão. A outra partida se deu contra o Inter, pela Libertadores, quando entrou na vaga de Maicon. Já Thiago Neves recebeu mais chances até aqui — esteve presente em sete das 13 partidas gremistas da temporada. Ainda assim, não chegou a completar um jogo inteiro. Ao todo, foram 316 minutos com a camisa tricolor, tendo marcado um único gol, na virada sobre o São Luiz.
Por mais alguns dias, a dúvida permanecerá. Sem data prevista para o retorno das competições, e com o Grêmio impossibilitado de treinar de maneira coletiva, os torcedores terão de aguardar mais tempo para saber se o time poderá ter os dois meias juntos em ação.
— Lógico, depende do treinador, mas em um primeiro momento eu não conseguiria imaginar. Acho mais provável, pela questão etária, o Thiago jogando por dentro e o Jean aprendendo a jogar aberto. Mas o Renato gosta de jogadores com mais arranque pelos lados, como Alisson, Everton, Pepê. Tem uma fartura de opções ali. Acho que está se desenhando mais uma disputa de posição entre eles (Thiago Neves e Jean Pyerre) — conclui Fernandes.