Coordenador da Unidade de Arritmia e Eletrofisiologia do Hospital Moinhos de Vento, o cardiologista Leandro Zimerman conversou com GaúchaZH cerca de uma hora depois de acompanhar a cirurgia de Renato Portaluppi, no Hospital CopaStar, no Rio de Janeiro. Assim como fez em 2019, Renato passou pelo procedimento para corrigir um quadro de arritmia cardíaca.
Zimerman esteve em companhia do também cardiologista Eduardo Saad e de Paulo Rabaldo, médico do Grêmio e confessou que o principal motivo de a cirurgia ter sido realizada no Rio, diferentemente de 2019, fracassou.
– Era o sigilo. O Renato sairia de férias por 10 dias, viajaria para o Rio de Janeiro como sempre faz e faríamos o procedimento aqui discretamente, de um dia para o outro. Evidentemente, essa parte não deu certo (risos) – diz Zimerman, já à espera do voo de retorno a Porto Alegre.
Felizmente, o sigilo foi a única parte que não funcionou. Segundo o cardiologista, Renato se enquadrou em um percentual de 20% a 30% dos casos em que a cirurgia – denominada "ablação" – precisa ser repetida.
A arritmia do técnico do Grêmio costuma ocorrer com ex-atletas, em razão da carga prolongada de exercícios ao longo da carreira. Com o tempo, a musculatura do coração fica um pouco mais forte e as partes superiores, os átrios, que costumam ser mais delicadas, aumentam e desenvolvem zonas de fibrose, como cicatrizes. Quanto mais delas, mais chance de arritmia.
Como o procedimento é cauterizar esses pontos, não é possível ver o efeito no momento da cirurgia, em razão do inchaço no local. Um ponto que parecia cauterizado pode, depois da cirurgia, voltar ao que era. Como isso ocorreu com Renato, o segundo procedimento foi "um pouco mais agressivo" para reduzir a chance de recorrência.
– Todo quadro de arritmia exige atenção, mas é importante separar casos como esse, que não têm risco de morte súbita, dos que realmente nos preocupam no cotidiano das pessoas: os de arritmia cardíaca que decorre do entupimento de coronárias. Esses englobam questões como má alimentação, diabetes, sedentarismo, idade avançada e tudo mais. É um universo completamente diferente de problemas – compara Zimerman.
Conforme o cardiologista, pessoas que mantêm uma alimentação adequada e uma rotina moderada de exercícios não têm por que se preocupar, salvo quado ocorrem eventos muito singulares, como um disparo dos batimentos cardíacos em momento inusitado, desmaios ou histórico de alguma doença cardíaca grave na família.
– Fora isso, a vida costuma ser de baixo risco para pessoas jovens e saudáveis – explica Zimerman.
Renato Portaluppi, que tem 57 anos, deverá ter alta do CopStar nos próximos dias. Ele se reapresenta em Porto Alegre em 20 de janeiro, uma segunda-feira. Até lá, desfruta do segundo motivo pelo qual a cirurgia foi no Rio: a recuperação ao lado da família.