Fábio Pereira, — ou apenas Pereira — ex-zagueiro com passagens por Grêmio, Juventude e Coritiba, deixou os gramados em 2016. Em 2018, aceitou convite do Coritiba para ser gerente de futebol do clube. Atualmente sem clube, se qualifica fazendo cursos de gestão de pessoas em São Paulo. Ele conta que o momento de transição entre a vida de jogador e a aposentadoria é difícil, pois muitas vezes o próprio atleta não se percebe na nova vida.
— É muito difícil. Até você e sua mente assimilarem que não vai mais exercer essa função apaixonante, que a gente tem o privilégio de fazer aquilo que gosta. Mas todo mundo vai passar por isso, esse momento chega — explica, lembrando que no ano anterior, 2017, ainda pensava como atleta e preferiu tirar um tempo para curtir com a família, que mora nos Estados Unidos.
O ex-zagueiro define a Batalha dos Aflitos, que completa 14 anos nesta terça-feira (26), como "um espetáculo", e diz que foi o jogo de sua vida. Pereira relembra a rivalidade com os clubes pernambucanos Náutico e Santa Cruz no quadrangular final da Série B de 2005 — fórmula mais difícil do que a atual, na sua opinião — inclusive com episódios de foguetórios nas concentrações.
— Jogo muito difícil, muita coisa contra. Mas tínhamos convicção de que daria certo. Pela força do grupo, se for parar para analisar, que tinha Lucas e Anderson no banco, dois meninos que depois despontaram — comenta, lembrando que em nenhum momento deixaram de achar que a vitória tricolor era possível:
— Algumas pessoas duvidam quando eu falo, mas não deixamos de acreditar.
Ele relata o diálogo tido com o outro zagueiro, Domingos, no momento que ele é expulso por derrubar a bola da mão do juiz. Pereira teria questionado o companheiro de zaga, reprendendo-o pela atitude, pois depois que o pênalti fosse cobrado a partida seguiria e o Grêmio encontraria um jeito de alcançar o objetivo:
— Perguntei pra ele “por que que você fez isso?”, e ele vira pra mim e diz “eu não aguento”. E eu digo “não aguenta o quê? Já foi, vamos jogar. Agora eles vão cobrar o pênalti. Se perde, como é que vamos jogar?!”, tamanha era a convicção de que nós iríamos passar por aquela batalha, venceríamos.
Pereira conta que enfrentou resistência do Santos, clube detentor de seu passe, quando recebeu proposta para jogar no Grêmio. Ele já estava emprestado à Portuguesa, vice-líder da Série B em 2005, e diz que a troca pelo Tricolor, na metade de baixo da tabela, foi um desafio:
— O técnico Mário Sérgio que fez o contato. E de imediato eu aceitei. Pela camisa, pela grandeza do Grêmio. Conversamos com o Santos, que no primeiro momento não queria liberar. Chegando no Grêmio, muita dificuldade. Gente saindo, gente chegando. Momento era difícil, porque não havia uma sequência de trabalho.
Pereira reconhece os méritos daquele grupo que se transformou em família, segundo ele. O então zagueiro relembra reuniões de jogadores e suas esposas e filhos na chácara do presidente Paulo Odone, onde o dirigente contava das dificuldades enfrentadas pelo clube naquela temporada.
— Não tinha vaidade. Todo mundo estava ali sabendo que era para colocar o Grêmio de volta na primeira divisão — conta, e acrescenta:
— Trouxemos para nós a responsabilidade. Quando aconteceu (a classificação para a Série A), a euforia foi tão grande que eu não consigo nem descrever. Lembro muito bem da festa quando chegamos a Porto Alegre, foi extraordinário, não tem preço.
Assim como os jogadores, a torcida também fez sua parte. Pereira destaca a força do Grêmio jogando dentro do estádio Olímpico, nas campanhas que mudaram o patamar tricolor da segunda divisão para a final da Libertadores de 2007.
— A torcida veio junto. Quando há essa sintonia entre campo e arquibancada, as coisas tendem a dar certo.
Ouça a entrevista completa com o ex-zagueiro Pereira: