O Grêmio se reapresenta nesta segunda-feira (23) depois de 11 dias de folga e, entre os atletas que estão no grupo que fará uma intertemporada no Hotel Vila Ventura, em Viamão, durante 10 dias, há apenas quatro gaúchos: o zagueiro Gabriel, que não joga há mais de cinco anos, e os meias Jean Pyerre, Patrick e Darlan. Jean é natural de Alvorada e Patrick de Porto Alegre. Do Interior mesmo, só Darlan, 21 anos, que teve suas primeiras oportunidades no time profissional neste ano.
Nascido e criado em São Borja, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, o volante faz parte do seleto grupo de jogadores que atuam pelo Tricolor que é gremista desde pequeno. Por influência da família, ele conta que sempre torceu pelo Grêmio e está realizando um sonho ao vestir o mando azul, preto e branco.
— Minha família é muito gremista. Desde pequeno tinha esse sonho de jogar aqui e, graças a Deus, estou construindo uma linda história com a camisa do clube — diz o garoto.
Mais do que apenas fã do Tricolor, Darlan sempre foi apaixonado por futebol. A mãe Elisabete Vieira Pereira, 42 anos, lembra que o filho estava sempre atrás de uma bola.
— Desde que se conhece por gente ama futebol. A gente ia nos lugares e ele não podia ver uma bola que queria ficar chutando. Nunca gostou de brincar de carrinho, era só futebol — recorda Elisabete, que se mudou junto com Darlan, Gustavo – o filho mais novo – e o marido José Carlos para Porto Alegre em 2010, quando surgiu o convite para o filho jogar na escolinha do Grêmio.
Aos 12 anos, Darlan era destaque do time em que jogava em São Borja. Em uma competição em Caxias do Sul, chamou atenção de um olheiro do clube da Capital e foi convidado para fazer um teste de uma semana no Tricolor. Com o apoio da família, foi a Porto Alegre e encantou os professores, que pediram a sua permanência. E foi assim que a família resolveu deixar a fronteira.
— O início foi difícil, mas tínhamos de incentivar o Darlan. Era uma grande oportunidade, e por isso nós viemos — diz Elisabete.
Desde então, o filho passou por todas as categorias da base do clube até chegar aos profissionais, o que ocorreu nesta temporada. Darlan sequer era titular da equipe de transição. Mas, durante a preparação para o Campeonato Gaúcho, o técnico Renato Portaluppi fez treinamentos junto com a base e gostou do volante, especialmente por seu bom passe. Assim, resolveu incorporá-lo ao grupo principal e lhe deu sua primeira chance em 9 de março, na goleada de 3 a 0 contra o São José, pela nona rodada do Estadual.
— Lembro que saiu a relação, eu vi que sairia jogando e pensei: "caramba, vou realizar meu sonho". Mas eu estava bem tranquilo, porque o grupo me deu uma confiança grande, o próprio professor Renato conversa bastante com a gente. Dá aquele friozinho na barriga, mas depois do primeiro toque na bola flui normalmente — relata Darlan.
Depois da estreia, veio um clássico Gre-Nal, no qual entrou no fim. Mas não faltaram elogios ao garoto.
— Eu gosto de treinar contra a base justamente por isso. Para saber se tem mais algum garoto para usar no profissional. O Darlan destacou-se pela personalidade. Ele não estava jogando lá embaixo (na base), mas mostrou qualidades. Puxamos o jogador para o profissional, deixamos ele se entrosar e, acima de tudo, ele mostrou qualidades — afirmou Renato à época.
— O Darlan é um grande jogador. Eu o conheço desde 2013. Estou muito feliz pela estreia dele e por ele ter vindo da base, como eu. Isso mostra o trabalho que o Grêmio faz com os garotos — destacou Matheus Henrique após o primeiro jogo de Darlan.
Na base, quando atuava ao lado de Matheus Henrique, Jean Pyerre e Patrick, o gaúcho da fronteira jogava do meio para a frente. Em seguida, acabou recuado devido à boa saída de bola e passou a fazer parte da "fábrica" de volantes do Grêmio, que nas duas últimas décadas revelou atletas como Lucas Leiva, Fernando, Arthur, Walace, Jailson e o próprio Matheus Henrique.
— Minha essência de jogo é no espaço-tempo. Busco sempre estar com a bola, dar a posse para o time e iniciar as jogadas com qualidade. Tento entregar a bola da melhor forma possível para os caras da frente fazerem o gol — explica, sobre suas características em campo.
Fora dele, garante ser tranquilo. Apesar dos 21 anos e da fama como atleta do Grêmio, diz nunca ter gostado muito da vida noturna. Namora a mesma menina há três anos e assegura que prefere estar ao lado da família nos momentos de folga.
Mas se você pensa que ele esqueceu as origens, se engana. Sempre que pode, visita São Borja, ouve música tradicionalista e anda à cavalo.
— Não podemos deixar de lado a tradição. Gosto de Mano Lima, Baitaca. Aprendi isso com a minha família. Meu pai é bem gaúcho. Gosto muito de andar a cavalo, tenho um chamado Grampola. Quando tenho um tempo, vou lá para o sítio, gosto bastante — salienta o guri.
Quanto ao futuro, diz que primeiro precisa conquistar seu espaço no Grêmio. Depois, o foco está nos títulos. Aí, sim, vai poder sonhar com algo mais.
— Realizei um sonho que era estar no Grêmio, nos profissionais. Todo atleta tem vontade de jogar fora, chegar à sua seleção. Mas primeiro quero ganhar título no clube e depois sonhar com coisas maiores, como jogar na Europa ou na Seleção Brasileira — ressalta.
Para a mãe, é um misto de orgulho e emoção ver o filho vestir a camisa do Grêmio.
— Ele é o orgulho da família. Ver meu filho realizando esse sonho é emocionante. Sempre dizia, quando víamos na TV, que um dia seria ele. Graças a Deus, hoje é ele que está lá, servindo de inspiração para outros meninos — lembra a mãe.
Números do Darlan nos profissionais
- 4 jogos
- 156 minutos
- 2 desarmes
- 197 passes (194 certos, 98,5% de acertos)
- 2 finalizações
- Nenhum gol
- Nenhum cartão